O expressionismo surgiu no florescer do século XX e na Alemanha marca a pintura inovadora defendida pela Secessão de Berlim desde 1898. Utilizado num senso puramente estilístico, é acompanhado por referencias cromáticas intensas num espaço desarticulado e extremamente envolvente, o termo expressionismo torna-se sinônimo de arte moderna.
O Almanaque Der Blaue Reiter, nome concebido por Franz Marc e Wassily Kandinsky que reúne um compendio de textos sobre arte moderna surgiu em maio de 1912, editado pelo Piper de Munique, representa um dos ícones do movimento expressionista. O projeto para a realização da publicação remonta a junho de 1911, o contrato de formação foi assinado em setembro e o trabalho de redação se efetua durante o outono, tendo vários colaboradores como artistas e músicos. O mesmo nome do Almanaque designou a exposição manifesto, organizada por seus idealizadores, a partir de 8 de dezembro de 1911, na Galeria Thannhauser, por ocasião da demissão deles da Neue Küsnterlervereinigung e reunindo outros dissidentes como August Macke (1887-1914), Gabriele Münter (1877-1962), Heinrich Campendok (1889-1957) e David Burljuk (1882-1967).
A originalidade da publicação se reflete na exposição que se estrutura na grande abertura à todas as formas de arte, tanto realistas como abstratas, reagrupando o oriente e o ocidente sobre um denominador comum: a expressão presente em tudo e a necessidade interior do artista de criar e expandir suas ideias. Uma segunda exposição foi organizada em fevereiro de 1912, em Goltz, reunindo 315 obras gráficas de artistas alemães, russos e franceses, entre os quais o Grupo Die Brücke, Paul Klee, Georges Braque, Pablo Picasso e André Derain. Esses eventos são determinantes para o desenvolvimento da arte moderna na Alemanha. O projeto de um segundo volume do Almanaque não se realizou, a guerra deu fim às atividades da equipe de redação, que jamais se constituiu em um grupo organizado.
Expressionismo: contexto, características e principais artistas
O grupo Die Brücke (A Ponte) fundado em Dresden, em 7 de junho de 1905, era formado inicialmente por 4 jovens estudantes de arquitetura, Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Erich Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Fritz Bleyl (1880-1966) que deixa o grupo em 1907, para se dedicar ao ensino. Max Pechstein (1881-1955) se junta ao grupo em 1906 e Emil Nolde (1867-1956) que tinha acabado de expor na Galeria Arnold foi convidado a trabalhar com eles por alguns meses.
Atualmente, na Tate Modern de Londres, a exposição “Expressionistas Kandinsky, Münster e Der Blaue Reiter” tem despertado grande interesse por resgatar aspectos marcantes do expressionismo. Wassily Kandinsky (1866-1944) e Franz Marc (1880-1916) criaram em Munique, em 1911, o Almanaque Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) em alusão à tela homônima de Kandinsky e a paixão de Marc por cavalos, cuja obra-prima foi o magnífico Tigre (1912) e Vaca Amarela (1911).
A revolução expressionista contou com artistas de grande importância no cenário da época como Alexander Sakharoff (1886-1963) coreógrafo e dançarino russo, Alexey Jawlensky (1864-1941), August Macke (1887-1914), Paul Klee (1879-1940) e Robert Delaunay (1885-1941) além de Gabriele Münter (1877-1962) amorosamente unida com Kandinsky.
A maioria das peças expostas no Tate Modern são provenientes do Museu Lenbachhaus de Munique, para o qual Gabriele Münter doou em 1957, uma expressiva coleção de arte com obras de artistas do Grupo Der Blaue Reiter, salvos da tragédia nazista. No refúgio do casal Kandinsky e Gabriele, em Murnau, cidade medieval da Baviera, foram produzidas algumas telas bem impactantes. Interessante acrescentar que o cineasta Friederich Wilhelm Plumpe, mudou seu nome para F.W.Murnau graças a amizade que tinha com o grupo, uma de suas obras-primas foi o filme de vampiro Nosferatu (1922).
A artista russa Marianne von Werefkin (1860-1938) teve participação marcante no movimento, seu autorretrato pintado em tons esverdeados, amarelados e rosa com os olhos em vermelho é um dos destaques da mostra londrina. Numa outra obra de sua autoria escreveu “não sou um homem, não sou uma mulher, sou eu” e assinou o retrato transgênero do coreógrafo vanguardista russo Alexander Sakharoff (1909), uma tela vibrante, refletindo a teoria de Goethe sobre as qualidades emocionais das cores.
A mostra possibilita ao visitante uma panorâmica do expressionismo desvendando curiosidades e sutilezas de um movimento inovador que abriu novas perspectivas para a arte no século XX, influenciando gerações futuras, propondo reflexões e sensações prazerosas de revoluções intimistas como universais.
Alguns participantes dessa revolução tiveram que enfrentar situações difíceis como Kandisnky e Jawlensky que fugiram para a Suíça, durante a guerra, por serem considerados inimigos russos. Franz Marc morreu aos 36 anos na Batalha de Verdun, mas deixou uma obra pungente ao retratar animais, influenciado por Robert Delaunay, se aproxima do futurismo e do cubismo e para a crescente abstração.
Seu tema predileto é a força da natureza: a beleza e a verdade do animal, que não observa no homem. Algumas de suas telas são antológicas como “Grandes Cavalos Azuis” (1911) e “Pequeno Cavalo Amarelo” (1912). O cavalo é o símbolo de força e a cor intensa e luminosa representa uma metáfora sexual. A sua referência cromática tinha uma conotação espiritual: vermelho representa a matéria, o azul é o elemento masculino e o amarelo é o elemento feminino.
Gabriele Münter estudou pintura com Kandinsky na escola de arte “Phalanx”, em Munique (1902-1904) tornando-se companheira do mestre. Viajam juntos de 1904 a 1906, se estabelecendo depois em Paris até 1908.
Retornando à Munique, eles compram uma casa em Murnau, em 1909, mas Gabriele retorna em 1920, após um período de vários anos na Escandinávia e de sua separação de Kandinsky. Ela foi membro da Neue Künstlervereiningung e do Blaue Reiter. Sua pintura, permanece sempre figurativa, aliando características do fauvismo e uma certa postura naive inspirada nos habitantes da Bavária. Durante seu refúgio em Murnau, pinta sobretudo paisagens e naturezas mortas.
Phalanx (Falange) foi uma sociedade de artistas independentes, fundada e dirigida por Kandisnky em Munique, em 1901, se opondo ao conservadorismo da Secessão. O nome designa a falange ou formação de combate da armada macedônica e indica claramente seu estado de espírito. Malgrado seu curto período de duração (cessa sua atividade em 1904), esta sociedade foi marcante para o cenário artístico pela organização de doze exposições, qualificadas pela crítica especializada como hiper moderna, reunindo pintura e artes decorativas. Mostrava sobretudo artistas alemães, mas consagrou ao menos uma exposição de Monet (1903) e uma outra aos neoimpressionistas (1904). A sociedade possuía sua própria escola de arte, onde Münter seguia os cursos de Kandisnky em 1902. Pelo ecletismo e interesse pelas formas de arte menos tradicionais, a sociedade antecipou as realizações do Blaue Reiter.
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