Movimentos

O que o impressionismo de Monet tem a ver com as mudanças climáticas?

O impressionismo de Monet é visto em muitas obras com paisagens e cenas urbanas nebulosas e essa característica sempre foi atribuída aos objetivos artísticos impressionistas. Mas um novo estudo sugere que o visual esfumaçado dos quadros do pintor francês não era apenas uma questão de estilo.

Um relatório publicado no início de 2023, assinado pelo Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), argumenta que as obras de Monet e também de JMW Turner, refletem, na verdade, os efeitos da poluição do ar causados pela Revolução Industrial.

Quase 100 obras de Monet e Turner foram analisadas por meio de análises matemáticas de brilho. Notou-se que os contornos das pinturas tornaram-se mais nebulosos, a paleta parece mais ampla e o estilo mudou de mais figurativo para mais impressionista. Essas mudanças estão de acordo com as expectativas físicas de como a poluição do ar influencia a luz.

Alnwick Castle Northumberland . (1828). JMW Turner. Crédito: Wikiart.

“Em geral, a poluição do ar faz com que os objetos pareçam mais nebulosos, dificulta a identificação de suas bordas e dá à cena uma tonalidade mais branca, porque a poluição reflete a luz visível de todos os comprimentos de onda”, apontou Anna Lea Albright, pesquisadora de pós-doutorado do Le Laboratoire de Météorologie Dynamique da Universidade de Sorbonne.

Fog (1972). Claude Monet. Crédito: Wikiart.

Foram comparados os resultados de suas descobertas com estimativas históricas de poluição do ar. De fato, o relatório identificou progressões de “contornos nítidos a mais nebulosos, mais saturados a cores pastéis e figurativos a representações impressionistas”. Essas progressões espelhavam as mudanças atmosféricas em Paris e Londres – os dois principais locais retratados pelos artistas durante o século 19, quando a quantidade de carvão extraído na Europa Ocidental aumentou vertiginosamente para atender às demandas da manufatura industrial.

Yatch approaching the coast (1835). JMW Turner. Crédito: Wikiart.

“Ao longo do século 19, a realidade atmosférica em Londres e Paris mudou. Turner, Monet e outros documentam essas mudanças na pintura, fornecendo evidências representativas de tendências históricas na poluição atmosférica antes que as medições instrumentais da poluição do ar se tornem disponíveis”, comenta Albright.

Floating Ice on The Seine 02 (1880). Claude Monet. Crédito: Wikiart.

“O que eu acho realmente maravilhoso nessas obras é que Monet cria belos efeitos atmosféricos a partir de algo tão feio e sujo quanto fumaça e fuligem”, disse Albright. “Ele e Turner não se afastaram da poluição, mas foram capazes de transformar essas mudanças ambientais negativas em uma fonte de inspiração criativa.” conclui a estudiosa.

O impressionismo

O impressionismo foi um movimento artístico surgido na França em 1870 que visava romper com a estética vigente na época.
Sua principal característica era a produção ao ar livre, levando os artistas a capturar os efeitos da luz solar. De fato, o uso das cores para a criação dos efeitos de luz e sombra são técnicas muito exploradas no impressionismo.
Consequentemente, houve uma mudança no estilo de confecção das obras, com pinceladas rápidas e quebradas a fim de retratar a luz e seus movimentos.

No movimento impressionista, do qual faziam parte artistas como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Edgar Degas, Camille Pissarro, entre outros, as figuras não deviam ter contornos nítidos, já que as linhas são uma abstração do ser humano para representar imagens. As sombras deviam ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam, e não escuras ou pretas, como os pintores costumavam representá-las no passado.

Os contrastes de luz e sombra deviam ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares. Assim, um amarelo próximo a um violeta produziria uma impressão de luz e de sombra muito mais real do que o claro-escuro tão valorizado pelos pintores barrocos. As cores e tonalidades não deveriam ser obtidas pela mistura das tintas na paleta do pintor. Pelo contrário, precisavam ser puras e dissociadas nos quadros em pequenas pinceladas.

Leia também – Impressionismo: contexto histórico, características e seus artistas

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Thais de Albuquerque

Thais de Albuquerque é Relações Públicas, artista visual e criadora de conteúdo. Atua há mais de 15 anos em marketing e criação de identidade visual para empresas, projetos e instituições. Em seu Instagram, desenvolve conteúdos autorais ligados a curiosidades sobre o mundo das artes.

Share
Published by
Thais de Albuquerque

Recent Posts

Turista danifica estátua que passou por restauração de 90 milhões

Uma estátua histórica em frente à Bolsa de Valores de Bruxelas, na Bélgica, foi danificada…

4 horas ago

Artista Jens Haaning é condenado a reembolsar 67 mil euros a museu

Jens Haaning, artista dinamarquês, foi condenado por um tribunal de Copenhage a reembolsar o Museu Kunsten…

5 horas ago

Fernando Botero: vida, obra e legado.

Fernando Botero é um dos artistas mais reconhecíveis e distintos da América Latina e suas…

1 dia ago

Obras icônicas de Hélio Oiticica voltam a ser exibidas após 37 anos

Obras icônicas de Hélio Oiticica, como "Relevo Espacial, 1959/1986" e "Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986",…

1 dia ago

Inhotim inaugura duas novas exposições em setembro

O Inhotim abre ao público, no dia 23 de setembro, sábado, duas novas exposições temporárias:…

2 dias ago

Alex Cerveny: Mirabilia – a nova exposição da Pina!

“Alex Červený: Mirabilia”, mostra panorâmica apresenta o universo iconográfico do artista em mais de 40…

2 dias ago