O meu encontro com Christiane F., 13 anos, drogada, prostituida

Cena do filme

Uma história que eu achava que todos conheciam.

Conheci Christiane F. cedo demais. Devia ter por volta de 12 anos no máximo e com certeza não foi a idade mais indicada. Sem querer acompanhei minha irmã mais velha assistindo ao filme e posteriormente me interessei e fui atrás do livro.

O livro é chocante. Com um enredo que narra a história de uma menina jovem que aos poucos começa a se drogar (começando com pílulas de farmácia e maconha), as páginas vão mostrando a ‘evolução’ desta no universo das drogas e todo o mecanismo psíquico ao entorno dela que talvez pudesse ter desembocado naquilo tudo.

Com uma família problemática, falta de interesse/incentivo escolar, dificuldade nos relacionamentos e uma vizinhança nada exemplar, Christiane F., aos 13/14 anos, se tornou viciada em heroína e passou a se prostituir para comprar a droga.

 Em meio a relacionamentos amorosos e tentativas de ‘reabilitação’, o livro vai nos mostrando o cotidiano desse estilo de vida sem tentar empurrar nenhum puritanismo para cima de nós.

Todas as páginas parecem impressionar e, mesmo depois de alguma leitura você já se acostumar com a temática pesada, muitos outros fatores te levam a arrepiar (como alguns depoimentos por exemplo da mãe ou de assistentes sociais).

Cena do filme

O mais impressionante é que tudo realmente aconteceu.

O livro não é uma ficção mas sim uma narrativa construída com base em depoimentos desta jovem.

Com o sucesso do livro no país de origem (Alemanha), foi produzido também um filme que conserva a estética ‘junkie’ da história.

Tento tudo acontecido na década de 70, recentemente foi lançado outro livro com a história de Chris a partir deste acontecimento. Agora com 51 anos e mãe, a antiga ‘drogada e prostituída’ conta tudo o que se passou com ela desde o lançamento – também outro livro de arrepiar (ainda mais) mas que não cabe aqui.

A história é bonita e muda muito a nossa percepção sobre os conceitos comuns relacionados aos drogados. Normalmente aquilo que julgamos como problema é apenas o sintoma de outro bem mais complexo, e isso que compreendemos aos poucos com estas páginas.

Como conheci cedo achei que fosse algo natural, mas, pouco tempo atrás quando fui ler o segundo, percebi que nenhum de meus amigos conheci sequer o filme. A história apesar de já famosa poderia ser, na minha – humilde – opinião, de leitura obrigatória.

'Real' Christiane F.
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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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  • Eu li esse livro aos 13 anos. Na mesma época minha mãe passou comigo de carro (a noite e bem devagar) numa "cracolandia" para que eu visse a coisa na realidade. Louca ela? Não! Se antes eu não tinha curiosidade nenhuma com drogas, depois nem as lícitas me atraiam. Enfim, por mais que eu tivesse contato e até facilidade em encontrar drogas, nunca foi minha praia, e quando a amizade estava vinculada a qualquer coisa do tipo, eu simplesmente me afastava. Resultado, poucos amigos e uma adolescente tachada de metida dentro da periferia. Foi cedo pra mim o livro? Não creio. Esse livro me pôs um medo danado, qdo vi ao vivo a coisa então... No que me ajudou? A ter foco para sair de lá. E hoje sou a mais careta e nerd acadêmica da família. Kkkkkkkkk fazer o que né?

  • O livro li na adolescência. Não assisti o filme. E agora a Amazon vai estrear a série. Quero assistir.

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