Quem é o artista? Ricardo Barcellos
O que vai ter na exposição? Fotografias
Até quando? 27 de novembro
Na série inédita que traz para a Central Galeria de Arte, Ricardo Barcellos (Porto Alegre, RS, 1969) reúne 15 fotografias e dois vídeos que permeiam o limite entre a ficção e o real para discutir a existência do que o fotógrafo classifica como “interfaces” nas experiências humanas. Segundo Barcellos, “criamos uma infinidade de filtros que funcionam como ‘redes de proteção’ de nossas experiências. São as estratégias de risco controlado, ou play safe, como dizem os americanos”. Intitulada Mediações de risco, a exposição tem curadoria de Franz Manata e fica em cartaz até o dia 27 de outubro, na sala 4 da galeria.
Uma das mais significativas obras da mostra, a fotografia Floresta foi impressa em metacrilato e toma toda a atenção do espectador pela escala grandiosa (290 x 360 cm). Realizada em um parque temático, onde a natureza é ofertada com simulacro, a imagem traz uma mata repleta de bichos que, avistados de longe, parecem reais. Um olhar mais aguçado revela a dualidade irônica proposta pelo artista: os animais são todos falsos e estão aparafusados nas árvores, imóveis.
Montada a partir de duas imagens distintas, a fotografia Artifício evoca o limite entre a ficção e o real, ao trazer uma paisagem com neblina e a queima de fogos de artifício. Se por um lado ela se assemelha as fotografias contemporâneas de guerra, por outro traz o elemento que mais interessa ao fotografo nessa exposição: a incerteza criada pela fusão da neblina com as cores, gerando uma visão turva, nebulosa, uma espécie de alquimia de elementos. Barcellos continua a explorar a temática do irreal com a série de três imagens denominada Icebergs. Exibidas em pequenos backlights, as imagens mostram icebergs que tiveram suas cores manipuladas pelo artista, trazendo às imagens um caráter de desconfiança e questionamento sobre suas veracidades.
Explorando o potencial híbrido da fotografia, Barcellos criou fusões a partir de duas imagens independentes retiradas de seus arquivos de viagem, formando outra tônica desta exposição. Um tubarão de aquário com um chinês parado em uma ruela de Xangai ou uma zebra e um homem caído no chão de Moscou são exemplos das composições criadas pelo fotógrafo para, segundo o curador, “insinuar uma construção ficcional e propor um enigma que deve ser resolvido por cada um, a partir de seu próprio repertório”. Segundo o artista, “temos uma necessidade inerente por signos e imagens, que geram uma constante tensão entre o mundo e sua projeção imagética. É o desejo por um lugar vazio, por aquilo que não está dado, que está oculto, na estranheza de um mundo que não é realidade nem ficção, mas alguma dimensão intermediária que só existe enquanto possibilidade ou “coincidência significativa”.
Completa a exposição o vídeo Google filter, no qual a ferramenta virtual serviu como o filtro do autor na busca por imagens escolhidas através de palavras chave que definem os interesses conceituais de todo trabalho. Impressas como fotografias para depois serem filmadas e postas em movimento, as imagens sugerem uma narrativa pouco lógica que permite diversas associações e, por isso, acabam frustrando a compreensão do espectador pela total desorientação.
No mesmo período a Central Galeria de Arte abriga ainda mais três mostras em suas outras salas expositivas. São elas: 1722, une infinité de desseins differens, que resgata os desenhos geométricos do padre carmelita Dominique Douat, que viveu no início do século XVIII; Salto, exposição individual de Alexis Iglesias e Quando o jardim dorme, o quarto respira, individual de Vivian Kass.
Sobre o Artista:
Ricardo Barcellos (Porto Alegre, RS, 1969), graduou-se em Comunicação Social na PUC-RS em 1991. Em 1997 morou em Nova Iorque, onde fez um curso em manipulação de fotografia digital no International Center of Photography. Com um currículo repleto de prêmios, como o Hasselblad Latin America Photo Competition (2011), FCW de Arte, Ciência e Cultura (2010) e a seleção no Porto Seguro de fotografia (2009), Barcellos já realizou importantes exposições individuais e participou de coletivas no Brasil e exterior. Entre as principais, Ruína em Construção (Galeria Lunara, Porto Alegre, 2011), Peso y Levedad (Instituto Cervantes, Madrid, Espanha, 2011), Trilogia Vermelha – China (Pinacoteca de São Paulo, 2011), Coleção Pirelli – Masp de fotografia (MASP, 2010) e Loa (Pinacoteca de São Paulo, 2001). O fotógrafo conta ainda com uma extensa lista de publicações e tem seus trabalhos em importantes coleções de fotografia.
Sobre a Galeria:
A CENTRAL iniciou suas atividades em novembro de 2010. Seu foco é promover artistas que tenham uma proposta instigante, que sejam fiéis às suas intuições e que nos façam pensar com suas obras, pois aqui a arte é vista como um processo cognitivo, um processo de descoberta que nos ajuda a ver e viver melhor. Seu objetivo é o de criar condições para o pleno desenvolvimento destes artistas e a divulgação de suas atividades. Discussões sobre arte e sociedade, também fazem parte de sua programação, além das exposições temporárias e do acompanhamento e documentação de seus trabalhos.
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