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Arte rupestre, expressão pura

A manifestação artística é essencial, representa a comunicação mais representativa de um momento, de uma época, onde o tempo perde a sua função dinâmica, torna-se estático, justamente nos preciosos segundos em que a apreciação flui como um raio de luz.

arte rupestre – foto Tiago Sala

A pré-história sempre atraiu pesquisadores, estudiosos, arqueólogos e historiadores interessados na origem do homem e na própria criatividade com toda a sua ampla diversidade.

No nordeste brasileiro, mais precisamente no sul do Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara, inscrito pela UNESCO como patrimônio mundial, abriga um excepcional sítio arqueológico. Numa região de clima semiárido, existe uma infinidade de registros rupestres, pintados e gravados sobre paredes rochosas, numa paisagem única formada por um conjuntos de chapadas monumentais com vales majestosos acolhendo vestígios dos costumes da pré-história.

arte rupestre V – foto Tiago Sala

Os grupos que habitavam essa região registraram na pedra cenas corriqueiras daquela época, como a atividade da caça, o sexo, a guerra entre tantos aspectos do cotidiano, símbolos, signos a desvendarem a vida de uma comunidade tão distante no tempo, mas tão perto dos anseios do homem, na sua jornada diária.

A plasticidade das imagens encontradas no local impressiona pelo arrojo da concepção, obras que espelham a criatividade dos povos pré-históricos representando algumas tendências artísticas da própria contemporaneidade, confrontos e análises profundas permitem ao atento observador e pesquisador de uma forma geral aquilatar o grau de desenvolvimento da veia artística de populações integradas à natureza.

Paisagem da Serra Capivara – sítio arqueológico – foto Tiago Sala

A Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) foi criado em 1986, justamente para abrigar o rico acervo arqueológico da região do parque divulgando uma série de novos conhecimentos sobre o tema, detalhes que aprimoram a pesquisa nas suas multifacetadas ações científicas. A entidade sem fins lucrativos localizada no município de São Raimundo Nonato é presidida pela arqueóloga Niede Guidon abrangendo uma série de atividades científicas e culturais no âmbito das ciências humanas, biológicas e da terra.

Um documentário de extrema importância focalizando a Serra da Capivara, no sul do Piauí, com sua excepcional arte rupestre, está sendo realizado com o patrocínio do Instituto Itaú Cultural, centrado em destacar a arte pré-histórica na paisagem da caatinga, aliás, o único bioma que pode ser chamado de exclusivamente brasileiro. O roteiro e a direção está a cargo de Dalton Sala, historiador de arte e pesquisador dos mais renomados, com produção de Fernando Andrade e fotografia de Tiago Sala. Uma brilhante iniciativa que difunde a imensa riqueza artística rupestre do Piauí. Em geral, os arqueólogos estão mais interessados na pesquisa científica, em precisar a época correta de tais manifestações, mas bem menos preocupados com a expressividade artística. O documentário visa resgatar esse olhar mais direcionado na pura expressão, enaltecendo a passagem do pré-histórico ao histórico e do arcaico ao contemporâneo, enfocando além da Serra da Capivara, as ocorrências ancestrais da vizinha Serra das Confusões. A visão de um historiador de arte é essencial para que o público compreenda a força da arte, como um bem supremo, atemporal por natureza, possibilitando reflexões e incursões por vários períodos históricos.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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