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Marina Abramovic, do intuitivo ao espiritual

O instigante filme “Espaço Além-Marina Abramovic e o Brasil” é mais que um documentário, representa uma reflexão sobre a emoção humana nas suas complexas dimensões. Entre 2012 e 2015 a artista sérvia, referência essencial para a arte da performance, viajou por seis estados brasileiros buscando processos de cura com o intuito de encontrar pessoas com energia especial. O filme dirigido por Marco Del Fiol registra o percurso em mais de 6.000 km conectando cerimonias espirituais das mais diversas formas. A artista desvenda um Brasil profundo que alia arte e espiritualidade intuitivamente, as experiências vividas são marcantes tanto pela dor como pela poesia mágica que surge nos detalhes dos rituais, no sincretismo religioso da Bahia e no terreiros de candomblé.

Um dos momentos marcantes do documentário é quando Marina assiste às cirurgias espirituais do médium João de Deus, em Abadiânia, em Goiás, impressionantes imagens de incisões em partes sensíveis do corpo humano.

A direção é impecável, o ritmo das incursões pelos fenômenos paranormais, processos de cura, segue num clima de reflexão, proporcionando um encontro com o inconsciente de cada um.

A espiritualidade as vezes é pouca explorada na vida cotidiana, existe uma potencialidade que o ser humano não utiliza devidamente, o documentário acaba fazendo um alerta sobre a necessidade de se buscar a dimensão da consciência, fazer uma introspecção dos valores intrínsecos com a energia da natureza que clama por uma fusão renovadora.

Deve-se notar, que os resultados das pesquisas efetuadas por Marina nessa aventura foram apresentados ao público na mostra “Terra comunal – Marina Abramovic + MAI”, realizada em 2015, no Sesc Pompéia, num clima de interação.

Além de Abadiânia, Marina percorreu com toda a equipe por diversas regiões brasileiras como Alto do Paraíso e Chapada dos Viadeiros em Goiás; Planaltina, no Distrito Federal; Chapada Diamantina, Cachoeira e Salvador na Bahia; Corinto em Minas Gerais; Curitiba no Paraná e São Paulo. Uma viagem marcante, um olhar estrangeiro, captado pelas lentes de um diretor brasileiro. A artista se redescobriu tanto nas fragilidades como nos desafios dos encontros com o desconhecido, sua participação num ritual xamantico, realizado na Chapada Diamantina, quando tomou ayahuasca pela primeira vez foi um momento muito ruim, inesquecível, talvez o pior de sua vida como afirmou por ocasião da estreia do filme, mas revelador dos confrontos íntimos da alma. Descobrir a espiritualidade foi para ela estar em um planeta estranho, notadamente no misterioso Vale do Capão diante de uma gruta que potencialmente poderia leva-la ao centro da terra como num conto de fadas. Marina disse: “Quando se tem fé não há dor”, a sua viagem representa um precioso diário na qual conclui-se que a arte é pura intuição e a espiritualidade é a fé na sua dimensão mais profunda.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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