Texto de Andrea Capssa
As dinâmicas em tempos de pandemia também tiveram de ser repensadas pelas galerias de arte e o mercado como um todo. Algumas, com mais experiência na web, readequaram as exposições que estavam acontecendo em seus ambientes físicos e direcionaram para os seus ambientes online, reestruturaram seus ambientes virtuais, ou buscaram novas plataformas para expandir suas conexões. Eventos online em parcerias e compartilhamentos diversos no Instagram, com lives (vídeos gravados ao vivo e transmitidos na web) para discutir o cenário atual, divulgar produções artísticas e se relacionar com seus públicos se proliferaram nos últimos meses.
Galerias de arte que não haviam migrado para o virtual ainda, em um formato de atuação ON-OFF [1], sofreram a impossibilidade de realizar suas atividades nos ambientes físicos, pois a pandemia exige isolamento social em diversos países, o que afeta drasticamente o setor artístico, que vive das relações mais aproximadas com o público, e este das suas experiências em tempo real com as obras de arte.
300 desenhos, P.art.ilha, Quarantine e outras ações coletivas que surgem neste período de crise, são exemplos de dinâmicas compartilhadas entre galerias, artistas e colecionadores que visam manter o sistema contemporâneo da arte em fluxo e estimulam o mercado online.
Esta é uma proposta coletiva solidária, onde 300 artistas convidados doaram obras para serem vendidas pelo mesmo valor, R$ 1.000,00 (um mil reais), às escuras. O comprador pode adquirir, por exemplo, uma obra da artista contemporânea de carreira consolidada Adriana Varejão, pelo mesmo valor de uma obra de artista emergente que também doou uma peça para a ação. As obras são padronizadas em formato e técnica, papel A4 e desenho, respectivamente e estão disponíveis no site.
Não é possível escolher a obras, ela é sorteada por um sistema aleatório após o pagamento ser efetuado. Os valores arrecadados serão direcionados para fins de filantropia.
Lançada no dia 1 de maio de 2020 e reunindo mais de 20 galerias de médio e pequeno porte, a ação busca contribuir com os artistas e as galerias neste período de crise global, manter suas obras em circulação e estimular o mercado online da arte. A proposta é atrair o usuário (colecionador ou interessado em arte) para o ambiente virtual estimulando-o a comprar uma obra selecionada pelas galerias participantes e, ao efetuar a compra, ele recebe um crédito de igual valor para aquisição de qualquer outra obra de arte da galeria na qual tenha realizado a compra.
Cada galeria disponibiliza em suas redes e sites a seleção de obras para o evento virtual. Parte do valor das vendas efetuadas no mês de maio será destinado à entidades sociais. As vendas são realizadas diretamente pelas galerias participantes, por meio dos contatos disponibilizados em seus ambientes virtuais e as entregas e fretes ficam a cargo da(s) galeria(s) vendedora(s) e comprador(es).
Como espécie de cooperativa de artistas brasileiros, surge a Quarantine, com uma ação que prioriza os artistas, em que todas as obras têm a mesma precificação (R$ 5 mil reais cada) e o valor vendido é dividido entre todos os colaboradores da Quarantine, destinando uma parcela para doação ao fundo de apoio às pessoas trans afetadas pelo Covid-19. A motivação para desenvolver a Quarantine na web parte da crise do Coronavírus, em que o isolamento social, necessário no combate ao vírus, levou à suspensão no funcionamento dos museus, centros culturais, galerias, feiras de arte, entre outros eventos no campo da arte.
Ações colaborativas são iniciativas que mobilizam o sistema a buscar novas dinâmicas. A pandemia acelerou o processo de virtualização do mercado e faz-se agora necessário pensar ações que realmente possam estimular o público a participar, a envolver quem está, literalmente, do outro lado da tela. Mais que publicar registros de obras na web, as ações precisam comunicar, gerar interesse, envolver o e-colecionador [2] e demais usuários interessados e apaixonados pela arte.
Surgem, portanto, a necessidade de novas dinâmicas para o mercado online da arte, para que este seja capaz de envolver o seu público e, mais que disponibilizar obras por meio de site, e-commerce, ou marketplace, ou redes sociais, estas ações coletivas e compartilhadas visam proporcionar ao e-colecionador uma nova experiência.
Vê-se novas dinâmicas para o fortalecimento do sistema contemporâneo da arte como um todo, principalmente em tempos de pandemia, como propostas nacionais e internacionais, visando a coletividade. Além dos exemplos citados neste texto, podem-se considerar também o marketplace da feira ArtRio, a feira Frieze NY realizada exclusivamente online por meio de site e aplicativo, e outras inovações, como startups voltadas para o sistema da arte, e que favorecem a atuação remota dos agentes do mercado, galeristas, marchands e curadores, como essenciais para superar o desafio do isolamento social que abala as estruturas deste setor que vive das relações mais aproximadas entre público e obra.
Considera-se, contudo, que as relações entre as galerias estão mais fortalecidas na pandemia, firmando parcerias, propondo novas dinâmicas, atuando conectadas em rede e também umas às outras, como propõe o conceito de Galerias ON-OFF. Este cenário, sobretudo, demonstra um amadurecimento do sistema que entende o momento delicado e grave em que vivemos. Transformações são necessárias e já estão ocorrendo, inclusive no mercado da arte, um setor bastante opaco, mas que parece brilhar em tempos de crise.
Palavras-chave: Mercado da Arte. Galerias de Arte. Galerias ON-OFF. Pandemia.
[1] O conceito Galerias ON-OFF foi cunhado pela autora para classificar as galerias de arte que atuam paralelamente nos ambientes online e offline na contemporaneidade, durante apresentação de artigo no I Simpósio Internacional de Relações Sistêmicas da Arte, realizado no Instituto Goethe de Porto Alegre em 08, 09 e 10 de abril de 2018.
[2] e-colecionador é o termo pensado para designar o colecionador que adquire obras de arte na web, por meio de leilões online e dos contatos mobile das galerias (Whatsapp, e-mail, e outros). Esta persona existe desde o advento da internet, porém em tempos de pandemia, as ofertas de obras de arte na web se proliferaram e tendem a estimular o colecionador a adquirir peças para suas coleções no âmbito virtual.
Andrea Capssa
Doutoranda e Mestre em Artes Visuais com ênfase em História, Teoria e Crítica da Arte na linha de pesquisa Arte e Tecnologia PPGART/UFSM, bolsista CAPES. Integra o Grupo de Pesquisa Arte e Tecnologia/CNPq e o LABART – Laboratório de Pesquisa em Arte Contemporânea, Tecnologia e Mídias Digitais/UFSM. Bacharel em Artes Visuais/UFSM. Curadora independente. Fundadora da Moblanc Galeria, objeto de estudos de seu doutoramento. CEO da startup Mobart, que propõe dinâmicas de atuação para o mercado da arte e seus agentes e que corresponde a um dos objetivos específicos da pesquisa de doutorado “Galerias ON-OFF e o Mercado da Arte: legitimação e visibilidade”.
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