Categories: Opinião

Tunga, questionamentos do corpo e da alma

A arte sempre busca novos caminhos interpretativos da complexidade do ser humano nas suas variadas dimensões propondo instigantes leituras das mutações intimas e coletivas.

A mostra “Tunga: O Corpo em Obras” no Masp, visa realçar a sexualidade e o erotismo existente na obra de um artista que se aprofundou na trama de suas incursões. Reunindo objetos, instalações, desenhos, gravuras, aquarelas de vários momentos cruciais, o espectador se defronta com confrontos reveladores de uma linha de pensamento com uma infinidade de referências comportamentais do ser, questionamentos pertinentes ao fluxo das transformações existenciais.

Tunga (1952-2016) foi além de arquiteto, um artista envolto nas mais variadas linguagens das visuais à literatura, demonstrando agilidade bem ritmada num amplo leque cultural. Sua vivencia reflete uma grande abertura ao conhecimento de áreas como filosofia e psicanálise, agregando experiências essenciais para o desenvolvimento de uma obra em que a sexualidade é em si uma trilha para se compreender a alma humana.

Sua obra sempre aflorou com grande intensidade desde sua primeira individual no MAM do Rio de Janeiro, em 1974, aos 22 anos, em que reuniu 50 desenhos, “Museu da Masturbação Infantil” realçando o erotismo, o corpo humano. Costumava realizar performances em todas suas mostras, que ele denominava como “instauração”.

Dizia sempre: “Fazer arte é juntar coisas”, dessa união de peças sem nenhum vínculo aparente, surge uma surpresa, um elemento novo, que se transforma numa poética impactante.

Tunga foi também um dos estimuladores do Instituto Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do país, em Brumadinho, Minas Gerais. Em 2012, foi inaugurado o Pavilhão Galeria Psicoativa, um espaço de 2.600 metros quadrados onde estão reunidas diversas esculturas de sua autoria.

Tunga definia a sua obra como combativa e transformadora, o experimentalismo de suas incursões permitia a concretização de propostas inovadoras ampliando o campo de observação, cada detalhe possui uma força intrínseca que ecoa de forma diversa dependendo do instante e da sensibilidade do olhar.

Redefinia a escultura não só como volume estático mas sobretudo como agrupamento destas formas em expansão e a relação entre elas. A obra de Tunga permite uma infindável gama de interpretações, totalmente aberta a leituras amplas com profundas reflexões.

A atual mostra no MASP se caracteriza por permitir ao espectador uma transparência da poética de um artista que sempre buscou o inusitado nas questões essenciais do ser humano, sutil metaforicamente e contundente nos confrontos formais.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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