Se eu disser: “Edgard Degas”, qual o primeiro pensamento que vem a sua cabeça ?Ah… o “pintor das bailarinas” deve ser a resposta!
Quem, pela 1ª vez, se referiu a Degas desta forma foi Édouard Manet, outro grande pintor francês e um dos iniciadores do movimento moderno na pintura.
E tem sua razão de ser: estima-se que Degas tenha deixado cerca de 1.500 obras ( entre pastéis, gravuras, desenhos, esculturas ) sobre o tema das bailarinas.
Ao ler isso, a gente pensa: uau! ele devia a-do-rar ballet, como nós. Certo? Nem tanto!
Acontece que, no início do século XIX, o teatro era uma das opções favoritas de lazer, além de ser um ótimo lugar para “ver e ser visto”.
Concentrava aristocratas, artistas, banqueiros e mecenas interessados não apenas nas performances no palco, mas também nas “conversas” privadas com as artistas, nos bastidores, após as apresentações.
O ateliê de Degas era muito próximo do teatro onde o Ballet da Ópera de Paris se apresentava na época.
Uma oportunidade que ele soube aproveitar. Com o tempo, ganhou acesso inclusive aos bastidores, o que lhe permitiu acompanhar fragmentos da rotina diária das bailarinas como aulas, ensaios, êxitos, fracassos, momentos de cansaço e de tédio.
Momentos que foram, posteriormente, eternizados em suas pinturas, esculturas e desenhos.
Diferente do que se costuma imaginar e do que se lê em algumas publicações, a adoção das bailarinas como tema principal ia muito além da admiração pela dança.
Ao eleger a vida das bailarinas (no palco e fora dele) como tema de tantas obras, Degas estava de olho em dois fatores importantes:
O primeiro deles: a grande aceitação comercial dos quadros.
Bailarinas estavam no auge! O apreço pela presença feminina na dança era tão grande que até os papéis masculinos eram, nesta época, desempenhados por mulheres “en travesti”. Bailarinas eram “objetos de desejo” que despertavam um ávido sentimento posse em burgueses ricos.
Falando em termos atuais, esse fascínio criou um “mercado” muito receptivo a tudo relacionado às bailarinas e seu estilo: penteados ( a “moda do coque”) figurinos etc, transformando em “itens colecionáveis” tudo o que as tinha como motivo: pinturas, esculturas, desenhos. Eram sucesso de venda!
O segundo fator foi a possibilidade de observar o corpo humano em atividade e em repouso, nos ensaios e no palco, sob as luzes. Esta possibilidade de analisar, estudar e registrar um instante do corpo humano em movimento foi decisiva na predileção de Degas pelas bailarinas.
Quando perguntado por Louise Havemeyer “Por que o Ballet?” ele teria respondido “porque é tudo o que nos restou da arte dos gregos”. Assim como os gregos, Degas estava preocupado com a figura humana – com a força, a postura e o equilíbrio.
Para representar com mais realismo os movimentos lançou mão, inclusive, da fotografia: técnica recém descoberta na época, que despertava reações variadas nos pintores da época.
Degas privilegia pontos de vista incomuns, instantes que passam despercebidos ( como bailarina coçando as costas , as expressões entediadas, vistas das coxias, os olhares dos espectadores, instantes que antecedem ou sucedem o espetáculo em si).
Representa os instantâneos de momentos “reais” de forma não “idealizada”, fugindo completamente da visão estereotipada e romantizada adotada por outros pintores que mostravam, de seus temas, apenas o lado glamuroso e sedutor, mesmo que falso.
Ao ser “rotulado” como Impressionista, principalmente por ter participado de muitas das exposições do grupo, o pintor respondia ser “realista”.
Sobre esta característica, Degas representa as bailarinas de maneira tão realista que o público da epoca poderia facilmente reconhecer algumas artistas, identificar os locais representados nas obras.
“Degas é verdadeiramente o primeiro artista que leva ao cúmulo a indiferença por tudo o que não é verdadeiro e expõe a atividade humana como o médico descreve um caso clínico”.
Na velhice, Degas se dedica à escultura, e aprofunda suas pesquisas sobre a cor.
Tem sempre um desenho como ponto de partida para suas pinturas mas, uma vez que sua vista fica cada vez mais comprometida, abre mão da produção de obras com grande riqueza de detalhes, como suas primeiras pinturas a óleo.
Ele alarga traços dos contornos e os preenche com pastel ou tinta a óleo.
Suas “bailarinas” nunca perderam o encanto. Continuam despertando grande interesse do público. Recentemente, a aclamada bailarina americana Misty Copeland, estrelou um editorial para a revista Harper’s Bazaar, encarnando algumas das bailarinas de degas.
Fontes de consulta:
Grandes artistas vida e obra – ed. Melhoramentos
Dicionário de arte moderna –
Degas e a Dança e Desenho – Paul Valéry – ed. Cosac Naify
http://www.histoire-image.org/site/etude_comp/etude_comp_detail.php?i=1027
http://www.histoire-image.org/site/etude_comp/etude_comp_detail.php?i=1028
http://www.histoire-image.org/site/etude_comp/etude_comp_detail.php
http://obviousmag.org/archives/2014/02/edgar_degas_a_pequena_bailarina.html
http://www.cultorweb.com/fp/fc.html
http://www.harpersbazaar.com/culture/art-books-music/a14055/misty-copeland-degas-0316/
http://www.cultorweb.com/fp/fc.html
Imagens: Wikipedia
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