A arte sempre foi um reflexo poderoso das emoções, ideias e conflitos da sociedade. Ao longo da história, algumas obras de arte foram além do mero impacto visual, desafiando normas sociais, religiosas e culturais, provocando debates acalorados e até mesmo censura. No entanto, essas obras polêmicas também desempenharam um papel crucial na evolução artística, questionando limites e inspirando novas formas de expressão. Neste artigo, exploramos 10 obras de arte que, por suas controvérsias, deixaram uma marca na história e no mercado de artes, mostrando como a provocação e a arte muitas vezes andam de mãos dadas.
Assista ao vídeo completo no Canal Art Talks, no YouTube. Além deste, você encontra outros conteúdos na playlist nova série do Canal, “Top 10 Art Talks”.
Vamos começar essa lista logo com ele, o artista inglês que ninguém sabe muito bem quem é, mas considera pacas… Banksy!
Girl with ballon é um dos muitos stencils que o Banksy espalhou no início dos anos 2000 por Londres, sempre trazendo uma carga de protesto e crítica social contra as guerras, contra o consumismo e outros temas. Recentemente, as obras do Banksy vêm sendo muito direcionadas à crise migratória da Europa.
Além da imagem da menina com a mão estendida para pegar seu balão em forma de coração, a obra traz a frase “There is always hope”, ou “Sempre existe esperança”.
Girl with ballon é sem dúvida sua obra mais famosa, tanto é que em 2018 uma reprodução dela foi arrematada por 1 milhão de libras em um leilão. Mas, para a surpresa de todos, quando o martelo foi batido, a obra se autodestruiu por meio de um dispositivo colocado dentro da moldura que picotou a obra inteira! E aqui, o Banksy demonstrou seu protesto contra o próprio mercado de artes.
Em 2014, o artista norte-americano Paul McCarthy foi contratado para criar uma escultura gigante de árvore de Natal em Paris, durante uma feira de arte contemporânea. Logo na apresentação da obra, rolou o maior bafafá porque a tal da árvore tinha um formato polêmico.
A obra que mais parecia um brinquedo sexual irritou grupos de extrema-direita francesa. A indignação foi tanta que o artista chegou a ser agredido na rua, durante uma entrevista.
Resultado: a obra foi literalmente derrubada pelos parisienses incomodados.
Mas também teve gente que defendeu o artista, como a diretora da organização que havia encomendado a escultura, a Ministra da Cultura e, por fim, o então presidente francês disse: “A França sempre estará do lado dos artistas, não importa qual tenha sido a opinião de cada um sobre a peça”.
Em 2019, durante a Art Basel Miami Beach, o italiano Maurizio Cattelan expôs Comedian, esta banana colada na parede com fita adesiva cinza. Detalhe: Isso daí é uma banana natural mesmo e que apodrece com o tempo. A obra é acompanhada de certificado de autenticidade e instruções específicas para sua instalação. Quer dizer, a cada “x” dias, a banana deve ser substituída, a fita deve ser colada no ângulo tal, etc.
A obra chamou tanto a atenção do público e da mídia que ela simplesmente parou a feira. Era tanta gente formando fila para ver a banana que os curadores decidiram tirar a obra da parede para evitar danos às obras que estavam por perto.
Comedian gerou discussões acaloradas no mundo da arte contemporânea, com alguns questionando uma obra de arte que era focada em sensacionalismo, e outros dizendo que a crítica à arte efêmera era totalmente válida.
E sim, essa obra foi vendida. A peça foi lançada em uma edição de três exemplares; duas foram compradas por 120 mil dolares cada, ali na feira mesmo, e a terceira foi doada ao Museu Guggenheim.
Em 1989, o Public Art Fund em Nova York contratou as Guerrilla Girls para projetar um outdoor. Guerrilla Girls é um coletivo de artistas feministas e ativistas que mantêm seu anonimato usando máscaras de gorila em público. E aí o que elas fizeram? Elas criaram este painel:
O painel fazia uma crítica muito clara sobre a baixa representatividade de artistas femininas no Museu e no mundo da arte em geral na década de 80, além de criticar a objetificação dos corpos femininos nas obras expostas.
A instituição rejeitou o painel, já que considerou a obra “muito provocativa”.
Então, as Guerilla Girls alugaram um espaço publicitário nos ônibus de Nova York e veicularam o anúncio elas mesmas.
O pôster se tornou um ícone do ativismo feminista diante do marcado de artes e esse coletivo existe até hoje.
Em 2007, o artista dinamarques Jens Haaning expôs uma obra chamada “Uma renda média anual dinamarquesa”, onde ele exibia notas de dinheiro fixadas em duas telas.
Em 2021, o artista foi contratado pelo museu Kunsten de Arte Moderna para participar de uma exposição e recriar esta obra cheia de notas de dinheiro. Haaning recebeu, então, um empréstimo de 532.000 coroas, em dinheiro vivo, dos cofres do museu para produzir a obra.
Porém ao receber a encomenda, a equipe do museu foi surpreendida por 2 molduras em branco, intituladas como Take the Money And Run, ou “Roube o dinheiro e fuja!”. Sim, o artista ficou com todo o dinheiro do museu e apresentou duas telas em branco para a mostra.
O museu colocou as telas vazias na exposição, o que atraiu um grande público, durante quase 4 meses de exibição, mas obviamente o museu meteu um processo e ganhou a causa em 2023, fazendo com que o artista devolvesse todo o dinheiro.
Theatre d’Opera Spatial gerou polêmica por ser a primeira obra criada por Inteligência Artificial a concorrer e vencer uma competição de artes, nos Estados Unidos. Criada em 2022 pelo artista Jason Allen, a obra foi produzida com o aplicativo de IA Midjourney e depois manipulada no Photoshop .
Apesar de inscrita na categoria “artes digitais”, ao ser anunciada como a obra vencedora do concurso, criou-se um debate: será que a peça realmente nasceu das mãos humanas?
O artista então precisou defender sua obra, dizendo ter usado mais de 600 prompts e outras tantas horas de finalização.
Essa obra também causou grande polêmica na área de Direitos Autorais para obras criadas com inteligência artificial, que até os dias de hoje estão em debate.
Criado pelo espanhol Pablo Picasso em 1937, Guernica, é um mural de 349 cm de altura por 776 cm de comprimento, e retrata o massacre da cidade de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola. Esse quadro é, certamente, a declaração política mais poderosa do Picasso .
A obra gerou grande comoção na comunidade artística e civil de modo geral, e imediatamente se tornou um argumento contra a guerra e um símbolo dos movimentos pela paz em todo o mundo.
Guernica está exposta no Museu Nacional de Madri, na Espanha.
O Homem Amarelo é uma das pinturas mais famosas da artista brasileira Anita Malfatti. Ela representa um imigrante italiano que posou para a artista na época em que ela estudava nos Estados Unidos.
Na verdade, a obra em si não é exatamente polêmica, mas ela representa uma época extremamente polêmica, divisora de águas na arte brasileira, e também acabou gerando uma das maiores tretas do universo cultural do Brasil: Anita Malfatti x Monteiro Lobato!
Produzida entre 1915 e 1916, o Homem Amarelo faz parte de uma série de obras que a Anita Malfatti produziu após ter passado anos estudando expressionismo na Alemanha, e depois bebendo diretamente da fonte de escolas vanguardistas nos Estados Unidos.
Quando ela retorna ao Brasil, ela tem uma série de pinturas que era muito diferente do que se via aqui, que era aquela arte mais conservadora, aquele retrato fiel da realidade. O Mário de Andrade, quando viu essa obra, ele enlouqueceu, disse que o quadro era dele, e ainda convenceu a Anita a fazer uma exposição dessa série.
A Anita fez a exposição, de mais de 50 obras, e num primeiro momento foi um sucesso, ela vendeu 8 obras, tava feliz, até que Monteiro Lobato, que era um crítico de arte da Folha de São Paulo de perfil bastante conservador (pra falar o mínimo), publicou um texto pesadíssimo com críticas bem duras ao trabalho dela e a essa nova linguagem que surgia na arte brasileira.
Depois disso, das 8 obras que ela vendeu na exposição, 5 foram devolvidas. Mas o que importa é que o burburinho que essa exposição causou, foi a semente lançada para a Semana de Arte moderna de 1922.
A obra denominada “Merda de Artista”, é uma criação do artista italiano Piero Manzoni. A obra consiste em uma série de noventa latas contendo as fezes do próprio artista.
E aí todo mundo se pergunta: Mas será que alguém abriu uma das latas para verificar o conteúdo? E a resposta é: teoricamente, nunca saberemos, mas havia toda uma mística em torno disso, e os especuladores do mercado defendiam que se os recipientes foram abertos, as obras perderam seu valor.
Sim, isso mesmo que você ouviu, essas latas tinham valor, ou seja, elas foram comercializadas pelo valor correspondente ao peso do ouro e – pasmem – em 2016, uma das latas foi leiloada e arrematada por quase 300 mil euros.
E chegamos ao primeiro lugar com a obra de arte mais controversa do século XX.
Em 1917 O francês Marcel Duchamp apresentou um urinol intitulado de Fountain, ou A Fonte, para a recém-criada Sociedade de Artistas Independentes, nos Estados Unidos. A Sociedade recusou a Fonte, argumentando que aquilo não poderia ser considerado uma obra de arte.
Fountain é o maior exemplo de “readymade“, ou seja, um objeto já fabricado, presente no nosso cotidiano e sem valor estético, exposto como obra de arte. A obra gerou muitos debates sobre o que é arte; “qual é o papel das instituições artísticas na avaliação e qualificação da arte?”
Essas são questões que ajudaram a moldar a direção da arte desde o século XX até os dias de hoje.
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