A inteligência artificial e suas infinitas possibilidades vêm ganhando mais atenção a cada dia. A chamada IA (inteligência artificial) ou AI (artificial intelligence) permite que sistemas simulem uma inteligência similar à humana. Para isso, ferramentas de geração de imagens, vídeos, vozes e textos estão disponíveis ao público de forma gratuita e se popularizando mundo afora.
O britânico Duncan Thomsen recriou imagens de fatos e personagens históricos como uma reunião entre povos pré-históricos, a corte de Cleópatra e a Última Ceia, além de produzir selfies “tiradas” por Henrique VIII, Rainha Elizabeth I e soldados em Agincourt.
Todas essas cenas foram criadas por meio de inteligência artificial, mais especificamente, a ferramenta Midjourney que, a partir de comandos enviados pelos usuários, é capaz de produzir composições utilizando bilhões de imagens disponíveis na internet.
Apesar da iniciativa ser criativa e o resultado muito divertido, as imagens renderam inúmeras reações a respeito das características físicas desses personagens, principalmente de Jesus e seus apóstolos. “Jesus europeu branco de olhos azuis?” está entre os principais comentários nas redes sociais.
Fato é que o assunto da inteligência artificial vem ganhando cada vez mais força na internet, já que o acesso às ferramentas é livre e a forma como elas são utilizadas possuem pouca “vigilância”, até o momento. Isso significa que ao mesmo tempo que os programas de criação de imagens podem ser uma excelente ferramenta criativa, inspiradora e divertida, ela pode, também, ser uma grande colaboradora para a disseminação de notícias falsas.
De modo resumido, a IA permite que sistemas criem conteúdos e/ou tomem decisões apoiados em dados digitais. O benefício é que a tecnologia pode se somar à capacidade racional do ser humano e potencializar nossa performance. Economistas chamam isso de quarta revolução industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.
A parte não tão boa é a forma como essa tecnologia será empregada. Numa sociedade atualmente marcada pela disseminação de fake news, a IA pode colaborar com a desinformação, a fim de causar danos deliberadamente.
Como mencionado antes, a inteligência artificial utiliza bilhões de imagens disponíveis na nuvem para recriar cenas e isso pode acabar reforçando certos estereótipos e até preconceitos sociais baseados em valores pré determinados, muitas vezes eurocêntricos e machistas, para dizer o mínimo.
Para testar essa teoria, fiz um teste. Utilizei a ferramenta DALL-E 2 para criar as imagens com os comandos “professional nursing” (enfermeiro ou enfermeira profissional – sem determinação de gênero) e “CEO of a large successful multinational company” (diretor ou diretora de uma grande multinacional de sucesso – também sem determinação de gênero) e os resultados foram estes:
Atualmente existem algumas ferramentas de inteligência artificial disponíveis para uso com opções de planos, gratuitos e pagos, além de algumas especificidades em cada uma delas. O Fotor, por exemplo, permite que qualquer pessoa se torne um criador de NFT. O Deep Dream Generator é o playground para aqueles que querem criar arte abstrata ou surrealista. No Wombo.art o usuário pode criar uma obra de arte no estilo de algum artista famoso em poucos cliques. O Midjourney é o mais popular de todos e atualmente conta com milhões de usuários que buscam imagens criativas, realistas e futuristas. Veja abaixo algumas ferramentas disponíveis:
No final do mês de março, usuários do plano gratuito do Midjourney se depararam com um novo aviso após digitarem seus comandos: “Subscription required. Due to extreme demand we can’t provide a free trial right now. Please subscribe or try again tomorrow”. Traduzindo: “Inscrição necessária. Devido à alta demanda, não podemos fornecer uma avaliação gratuita no momento. Inscreva-se ou tente novamente amanhã”.
Segundo David Holz, desenvolvedor da ferramenta, a decisão foi tomada por conta de um uso excessivo que sobrecarregou sua infraestrutura, mas na mídia e nas redes sociais, usuários suspeitam que a decisão foi tomada após a ferramenta ser usada para criar imagens falsas do Papa Francisco e de Donald Trump. O desenvolvedor nega. Segundo ele, o objetivo da medida é evitar sobrecargas em uma nova versão Midjourney, chamada de v5 e exclusiva para assinantes desde seu lançamento.
Uma foto do papa caminhando pelas ruas usando um casaco acolchoado branco – tão acolchoado que parecia até inflável – viralizou. A imagem destoava totalmente das vestes oficiais do pontífice de 86 anos. Estaria o Papa lançando um novo dresscode ou seria uma imagem falsa? Sim, a imagem era falsa, criada pelo Midjourney. Neste caso, embora a imagem não tivesse feito “mal a ninguém”, já colocou muita gente de orelhas em pé em relação ao uso ético da ferramenta.
Nessa mesma semana, imagens de Donald Trump sendo preso também viralizaram, após o ex-presidente norte americano ter declarado em suas redes sociais que esperava ser indiciado no âmbito de uma investigação financeira em Nova Iorque.
As fotos também foram geradas por IA e confundiram o grande público a ponto de muitos passarem a solicitar que sites e redes sociais instalem uma ferramenta que identifique imagens criadas por inteligência artificial.
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