Arte no Mundo

As feiras de arte e a globalização do mercado de obras


As feiras de arte vêm se transformando no meio mais importante para as galerias e os artistas ganharem visibilidade, venderem suas obras e estabelecerem vínculos com as principais figuras envolvidas no mercado da arte. 

Nas últimas décadas, com a globalização do mundo e dos mercados, tivemos uma revolução na maneira como as obras são compradas. 

As feiras de arte começaram a surgir na década de 1970. Em 2000, já havia 60 delas espalhadas pelo mundo. Hoje, uma década depois, o número já se aproxima de 300, de acordo com o UBS Global Art Market Report. Isso significa que o modelo clássico – baseado em transações em galerias – cada vez mais cede espaço ao modelo econômico das feiras de arte. 

As feiras também oferecem um meio prático para que críticos de arte, colecionadores, curadores, diretores de museus e entusiastas entrem em contato direto e tenham acesso a uma grande variedade de obras de todo o mundo reunidas sob o mesmo teto, tudo de uma só vez. 

Isso é muito útil num momento em que as pessoas estão cada vez mais apressadas e desejam ver um número máximo de obras em um período mínimo de tempo. Além disso, é claro, é possível economizar dinheiro não precisando ir de país em país para apreciar um pouco de cada arte.


O Mercado hoje

De acordo com o relatório macroeconômico da TEFAF (The European Fine Art Foundation) divulgado em março de 2015, o mercado de arte alcançou seu nível mais alto já registrado de € 51 bilhões em 2014.  As pessoas compraram principalmente em feiras e em plataformas online. 

TEFAF | New York Spring

As vendas de galerias em feiras têm aumentado: em 2010, o percentual era de cerca de 30%, enquanto em 2014 era de 40%. 

Abby Bangser, diretora artística da Frieze para as Américas e Ásia, diz: “Nosso objetivo é fornecer a nossas galerias a melhor plataforma possível para vender arte e conhecer novos clientes. 

As solicitações cada vez maiores das galerias para participar da Frieze nos demonstram que as galerias consideram fazer parte das feiras uma parte importante de seus negócios. 

As feiras de arte são benéficas tanto para os colecionadores, capazes de ver uma enorme quantidade de arte em um único espaço, quanto para galerias fora dos principais centros urbanos, que recebem muito menos clientes em suas galerias. 

Elas também são bem frequentadas por estudantes e artistas, que gostam de ver um amplo espectro de arte, sem a necessidade de gastar tempo e recursos financeiros para viagens abrangentes. ”

Apesar desses benefícios, a mudança de modelo e estrutura do mercado de arte nem sempre é positiva para todos. O grande número de novas feiras de arte é definitivamente um trunfo para o mercado em geral, mas seu sucesso pode vir às custas dos negócios nas galerias. 


Por que o “boom” das feiras de arte?

Houston Fine Art Fair

Existem muitas causas para essa mudança recente de eventos – de um modelo baseado em galerias a outro baseado em feiras. Ela pode ser explicada, em partes, por causa de uma melhor comunicação, especialmente graças à Internet e pela queda nos preços das viagens aéreas. 

Desde o nascimento da Internet, as pessoas não precisam mais reservar um tempo para visitar suas galerias locais; muitos preferem procurar obras de arte online, não apenas por conveniência, mas porque a Internet oferece uma seleção mais ampla de obras que lhes interessam. 

Além disso, agora as pessoas podem verificar informações e preços online imediatamente ao comprar em uma feira de arte. 

Combinado com a facilidade das viagens internacionais, isso significa que algumas pessoas preferem ir diretamente a uma feira que apresentará uma variedade maior de peças de arte. 

No final, as feiras de arte também se tornaram predominantes, pois beneficiam as economias locais de suas cidades-sede. Elas não apenas atraem turistas, mas também trabalham em conjunto com festivais e exposições de museus, que são enormes geradores de dinheiro.

O fundador e diretor da Art Stage Singapore, Lorenzo Rudolf, observa: 

“A arte contemporânea se tornou um estilo de vida e status social. Semanalmente, novos compradores ricos entram no mercado de arte. E a compra de arte, especialmente arte de alto preço, tornou-se a compra de status social e um ingresso para uma sociedade glamourosa à qual não se teria acesso anteriormente”.

Guillaume Piens, diretor de arte de Paris, observa: “As primeiras feiras de arte foram na Europa e nos EUA. Atualmente, existem outros atores no mercado de arte da China, Turquia, Brasil, Indonésia e Dubai. A arte é um componente importante do turismo e a imagem de uma cidade”. 


Principais Feiras de Arte do Mundo

Art Basel in Basel, 2014

Quem sai prejudicado nesse novo sistema?

Esse novo modelo baseado em feiras de arte pode ser desvantajoso para galerias jovens e artistas emergentes, já que as feiras são seletivas ao escolher expositores, o que significa que artistas pouco conhecidos são frequentemente ignorados em favor de outros mais reconhecidos. 

Não é apenas difícil de ser aceito. Fatores financeiros também devem ser considerados, como taxas de participação, aluguel de estande, seguro, embalagem e transporte das obras – despesas que muitos artistas e galerias não podem pagar. 


Outros formatos de feira de arte

Dentro do universo das feiras. Existem dois tipos básicos: as que reúnem galerias e as que trabalham diretamente com artistas.

Este segundo modelo  vem retomando sua importância no universo da arte, principalmente nas feiras que passam por uma curadoria mais restrita na seleção de artistas.

Espaços assim favorecem artistas talentosos que ou foram achados pelos curadores ou submeteram seus trabalhos a convocatória do evento.

Recentemente tive contato com uma marchant no Brasil, realizadora da Feira Arte/Formatto que faz este processo curatorial e abre a inscrição para novos artistas. Para quem é artista, vale a pena enviar uma bio para a convocatória da próxima feira.

Arte/Formatto

Já a feira Carroucel du Louvre em Paris tem uma abordagem mais livre com relação à curadoria, pois a organização da feira não tem curadores e para participar o artista tem que pagar pelo seu espaço no evento.

Carrousel du Louvre | Via EHC Global

Conclusão

O mercado das artes tem se transformado muito desde a revolução online das redes sociais.

Apesar de modelos antigos das galerias ainda se preservarem, muitas fecharam e todas percebem uma diminuição no número de visitas ao local da exposição.

As galerias e os artistas conscientes já sabem que o futuro das vendas está nas feiras e nos marketplaces online, pois ambos agregam o grande público e proporcionam a venda posteriormente.


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Fontes

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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