Arte no Mundo

Unicórnios mágicos: Como surgiu o mito? Saiba aqui.

Exposição no Musée Cluny – Paris mostra que essas criaturas mágicas não são apenas um fenômeno contemporâneo

Se Ctésias, Aristóteles, Plínio e outros autores da Antiguidade mencionaram uma criatura mágica portando um só chifre, o unicórnio, como representamos hoje, é uma criação da Idade Média ocidental. Símbolo de inocência e castidade, ele foi descrito nos bestiários dos séculos XII e XIII como um ser misterioso, ambivalente e híbrido. Acreditava-se que apenas jovens mulheres virgens poderiam se aproximar dele e captura-los através do canto. Apesar de ser citado na Bíblia como um animal ameaçador, não é raro encontrar representações medievais que trazem a virgem Maria na companhia de um unicórnio.

Selvagem e rápido, acreditava-se que ele teria poderes mágicos e que seu chifre seria capaz de purificar líquidos e neutralizar venenos. Na verdade, os relatos levam a pensar que o unicórnio seria uma colagem imaginária de diversas espécies: rinoceronte, cavalo, cabra e narval, todos esses animais parecem ter emprestado uma parte de seus corpos para a criação dessa alegoria.

The lady and the unicorn at MusÈe de Cluny.

Esse é o tema escolhido para exposição que marcou a reabertura do Museu Cluny – museu nacional da Idade Média de Paris após os quatro meses em que ficou fechado para reforma. Magiques Licornes (Unicórnios mágicos em português) foi concebida em torno do nascimento do mito do unicórnio e teve como ponto de partida a obra-prima do museu, A dama e o unicórnio.

Adquirido pela instituição em 1882, esse conjunto de seis tapeçarias feitas entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento ainda intriga os medievalistas. Cada peça da Dama e o unicórnio representa um dos cinco sentidos (olfato, tato, paladar, audição e visão), o que leva a acreditar que a sexta tapeçaria seria dedicada à um sexto sentido. Nela lê-se « Meu único desejo » o que os historiadores interpretam como sendo o sentido do coração, que se associa a vida moral na Idade Média.

Se desde a Antiguidade o unicórnio já faz parte do imaginário humano, é possível observar um maior interesse por essa criatura por volta de 1500. Tapeçarias, iluminuras, esculturas são alguns exemplos de obras da época que estão à mostra no Museu Cluny. Além de curiosidades sobre os relatos e representações do unicórnio na arte, a exposição também traz criações de artistas contemporâneos inspiradas pela Dama e o unicórnio. Gustav Moreau, Le Corbusier, Jean Cocteau, Miguel Branco, Claude Routault também se deixaram levar por esse animal fantástico.

Apesar de pequena e sintética, Magiques Licornes aborda um fenômeno ao mesmo tempo medieval e contemporâneo. Bóias, canecas, camisetas… inúmeros são os objetos hoje que trazem a sua figura. O interesse da exposição está justamente na maneira como nos apropriamos atualmente desse símbolo. Se a existência do unicórnio é questionada desde o século XVI, ele não corre risco de extinção.

Magiques Licornes

Musée Cluny – Museu national da Idade Média, Paris

Até dia 25 de fevereiro de 2019

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Marina Mantoan

Formada em Critica e Curadoria de Arte (PUC-SP), mudou-se para Paris para estudar Estética e Filosofia da Arte (Universidade Paris IV - Sorbonne). Fez um master em História e Gestão do Patrimônio Cultural da Universidade Paris 1 Panthéon - Sorbonne. Apaixonada por arte contemporânea e dança, é também uma globetrotter assumida.

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