Vivem e trabalham em São Paulo e Paris. Suas obras transcodificam sistemas de representação do mundo, como a linguagem e a notação gráfica, cruzando diferentes mídias como vídeo, som, texto, tipografia, desenho e escultura.
Os seus trabalhos foram apresentados em diversos países, em instituições como:
Participaram em diferentes exposições internacionais como:
Em 2004, receberam o prêmio Nam June Paik. Em 2007, representaram o Brasil na 52ª Bienal de Veneza.
O jovem casal brasileiro, Angela Detanico e Rafael Lain, trabalham juntos desde 1996.
Seus trabalhos amplamente conceituais empregam o uso de som, gráficos, texto, vídeo e outros meios de arte tradicionais em suas instalações. Eles representam um uso rigoroso do formalismo e um uso refinado da poesia visual e escrita.
Seu trabalho reflete sua fascinação conjunta com a capacidade humana de contemplar o mundo ao seu redor e além. Imbuído de referências científicas, matemáticas e literárias, seu trabalho aplica temas de tempo, espaço, memória e infinito além.
Detanico e Lain, um semioticista e designer gráfico, vivem e trabalham atualmente em Paris.
Dupla Detanico Lain apresenta mostra inédita no Espaço Cultural Porto Seguro
Casal de artistas toma a linguagem como objeto e muitas vezes como tema para a criação de seus trabalhos; mostra Meteorológica tem curadoria de Rodrigo Villela e estabelece íntimo diálogo com o espaço expositivo situado no centro de São Paulo
Tomar o mundo trabalhando a partir dos próprios códigos de percepção e compreensão. Apropriar-se dos códigos e linguagens que nos cercam e deslocá-los, até mesmo subvertê-los, atribuindo a eles novas camadas de significados.
Escrever sua história de um modo um tanto particular, exigindo do outro um certo estranhamento, um instante de suspensão para compreendê-la e interpretá-la.
Essas são algumas das características do trabalho da dupla Angela Detanico e Rafael Lain, artistas que adotam a linguagem como tema e objeto de sua obra. A partir de 19 de janeiro de 2019, o casal apresenta Meteorológica, mostra realizada no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.
Com curadoria de Rodrigo Villela, a exposição apresenta ao público paulistano um conjunto de 14 trabalhos, a maior parte deles instalações inéditas, criadas a partir das mais variadas linguagens artísticas.
Vídeos, textos, animações, objetos, esculturas e instalações se combinam, levando o visitante a refletir não apenas sobre temas diversos, mas sobre o processo mesmo de reflexão e constituição do conhecimento.
“Dotados de um formalismo rigoroso, a dupla Detanico Lain parte de uma pesquisa de representação para a criação de uma linguagem ao mesmo tempo rica de significados e repleta de poesia”, afirma o curador. “
Nesta exposição, muitos dos trabalhos dialogam diretamente com o nosso espaço. O percurso, por si só, possui uma narrativa própria. A mostra ganha corpo e reverbera na dimensão do aqui e agora”, completa.
Em uma área do Espaço Cultural Porto Seguro que é ao mesmo tempo interna e externa, um trabalho site-specific já enuncia a mostra da dupla e instiga a curiosidade de quem passa pela rua.
No corredor envidraçado e panorâmico que conecta dois dos pavimentos do centro cultural, colunas de larguras diversas em vinil preto sucedem umas às outras.
A alternância entre transparência e opacidade traz ritmo à entrada da luz no espaço e também entre o dentro e o fora. As faixas de diferentes larguras são na verdade um alfabeto criado pelos artistas e apresentam ao público o título da exposição: Meteorológica.
Logo na entrada principal do espaço expositivo, sobre uma parede inclinada, a projeção de Cachoeira do céu (2018), vídeo que parte do procedimento de “alongar” verticalmente os pixels de uma fotografia digital do céu, desenhando sobre o suporte uma cachoeira de luz.
Em seguida, o visitante se depara com Da luz ao paraíso (2018), escultura em aço patinável que traz um percurso gráfico entre os dois bairros paulistanos, configurado conforme sua topografia e seguindo um trajeto afetivo, opção de caminhada dos dois artistas, que já viveram em São Paulo, por lugares de que gostam ou guardam na memória.
À frente, Analema (2015) poema escrito na forma de um calendário infinito, em que cada letra corresponde a um dos 365 dias do ano. O percurso da escrita na parede remete à figura que simboliza o infinito.
Na mesma sala, Ulysses (2017), uma animação construída com o texto do romance homônimo de James Joyce. As palavras se combinam e dão forma a uma silhueta humana, que parece caminhar, apesar de estar fixa em um ponto único.
A história avança a cada passo do personagem – a sequência de passos revelando a sequência de frases. Uma jornada tal qual a de Leopold Bloom, protagonista do autor irlandês, que ao longo de 18 horas transita pelas ruas de Dublin de 1904.
No mezanino, Nuvens de são paulo (2018), vídeo projetado em uma das paredes que traz um poema de Memórias sentimentais de João Miramar, romance marco do modernismo brasileiro, obra-prima de autoria de Oswald de Andrade.
Com diferentes graus de desfoque, as palavras flutuam no ar e e aos poucos esvanecem.
Ao seu lado, 28 luas (2014), vídeo de 28 minutos que traz o ciclo de 28 dias da lua formado por frases do livro Sidereus nuncius, livro do século XVII, de Galileu Galilei.
A obra é considerada o primeiro tratado científico baseado em observações astronômicas realizadas com um telescópio, com uma descrição minuciosa da superfície da lua.
As frases aparecem e desaparecem em um movimento de foco e desfoco, que recria a experiência da observação de um corpo celeste através de uma luneta.
Sob os céus, o mar. Formada com minúsculos grãos de sal, a instalação Onda (2010) apresenta a própria palavra que lhe dá título por meio de um alfabeto criado pela dupla. De forma metalinguística, a nova linguagem é caracterizada por ondas de diferentes comprimentos.
No sistema inventado pelos artistas, a letra A, por exemplo, é uma onda curta, um pequeno suspiro. Já a letra Z, no fim do alfabeto, é uma onda larga, mais longilínea. No caso da obra, quatro curvas concretizam a palavra onda.
No subsolo do Espaço Cultural Porto Seguro, o visitante se depara com Quadrado branco, traduções visuais e em movimento de três poemas do japonês Kitasono Katue, um dos mais importantes poetas de vanguarda do Japão – Espaço monótono, Un autre poème e Gestalt do branco.
Mares da lua (2018) é uma videoinstalação em que os nomes como Mar da Tranquilidade, Mar da Chuva, Mar das Ilhas, e assim por diante, são projetados sobre o chão. Os termos designam planícies basálticas que, vistas da terra, formam manchas escuras na superfície da lua – onde, por algum tempo, pensou-se que houvesse água.
Como gotas, pequenos feixes de luz mancham o piso em círculos de pedriscos brancos, que enunciam cada um dos “mares”, pouco a pouco, quase como um sussurro, ao mesmo tempo em que remetem aos jardins japoneses da tradição zen budista.
Pintura mural sobre um fundo preto, Alguma coisa está fora da ordem (2018) traz a frase que dá título à obra escrita segundo o sistema “timezonetype”. Criado em 1802 pelo astrônomo e físico norte-americano Nathaniel Bowditch, o sistema associa uma letra do alfabeto a cada uma das 24 divisões de fuso horário do globo.
Na obra, o resultado é um novo mapa-múndi, mescla de familiaridade e estranhamento com a representação cartográfica do planeta Terra.
Não por acaso, logo ao lado, Ruído branco (2007), vídeo apresentado por Detanico Lain na Bienal de Veneza. A obra toma uma imagem fotográfica feita por satélite da floresta amazônica, que vai sendo apagada gradualmente.
Aos poucos, a mata é tomada por pontos brancos, até desaparecer, ao mesmo tempo em que o aumenta o “ruído branco” da instalação – termo usado para designar sons que o ouvido humano não consegue distinguir como portadores de algum significado, ou cuja fonte não pode ser identificada.
Na última sala da exposição são apresentados os principais registros documentais da produção da dupla: vídeos especialmente desenvolvidos para a exposição e catálogos das principais exposições mundo afora, que acabam por dar a dimensão do trabalho, explorando as relações artísticas do casal com o Brasil.
Por fim, já no pátio externo, duas obras: Percurso (2018), escultura metálica construída mais uma vez por um dos códigos concebidos pela dupla.
A palavra que a intitula ganha forma a partir de um sistema de equivalência entre barras metálicas e a ordem alfabética. Na fachada do prédio, Entre o ontem e o amanhã (2018) uma grande instalação de neon que chama a atenção para seu traçado irregular: é o registro gráfico, tridimensionalizado pela dupla, da linha de fuso horário que determina a mudança de data no calendário, passando de um determinado dia para o seguinte.
No mesmo mundo, na mesma hora, nesta linha imaginária é possível que o ontem conviva com o amanhã.
Para Rodrigo Villela, curador da mostra, “a poética da dupla se dá tanto pela abordagem frontal como pelas temáticas contundentes – ao tratar de questões universais de maneira tão peculiar, os artistas transformam conceitos muitas vezes eruditos em obras de uma força visual potente, que dialogam com diferentes tempos, geografias, histórias e literaturas. Vem daí muito da força e do interesse que despertam”, aponta.
“A exposição começou a ganhar forma depois de nossa visita ao espaço. Os desníveis, que para muitos poderiam soar como um desafio, nos permitiram diferentes pontos de vistas e sugeriram uma topografia para a ideia que tínhamos em mente, a de construção de uma paisagem artificial, da racionalização do ambiente natural, tal qual um jardim japonês”, afirma Lain.
No Brasil, o casal já participou de uma série de exposições coletivas, a exemplo de Ready Made in Brasil (2017), no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo; e Manifesto Gráfico (2017), no próprio Espaço Cultural Porto Seguro. Entre as individuais, uma série delas na Galeria Vermelho, que os representa; e Alfabeto Infinito (2013), realizada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.
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