Arte no Mundo

Conheça o hidrofeminismo na exposição de Paul Maheke

Por Marcel Darienzo - fevereiro 20, 2017
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Paul Maheke explora hidrofeminismo em exposição performática

O artista francês afrodescendente é nome quente da cena londrina. Ele despontou com sua exposição na South London Gallery em meados do ano passado. Agora, à caminho de performar na prestigiada Tate Modern no final de março, apresenta uma exposição-ensaio no Assembly Point que encerrou esta semana com uma performance do artista.

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What Flows Through and Across (“O que flui por dentro e através” em tradução livre) combina elementos instalativos, escultóricos, vídeo e performance. Ao entrar, nos deparamos com cortinas de voal ocupando o centro do espaço sobre um tapete cinza sendo atravessadas pela projeção de um vídeo que mostra paisagens marítimas. O voal faz com que o vídeo ganhe tridimensionalidade e ocupe a sala. As luzes amarelas dão ar instrospectivo e nos fazem menos vulneráveis à acidez e crueza do cubo branco tradicional.

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O artista se apropria de frases escritas por teóricas feministas como Astrida Neimanis que desenvolvem o chamado hidrofeminismo. A vertente do feminismo histórico se utiliza da metáfora da água para elaborar e problematizar as relações corpóreas fluídas da sociedade contemporânea. Na sua fala Maheke diz que o corpo é parte integrante da exposição e é tão importante quanto qualquer outro elemento. Porém, na ficha técnica, exclui o elemento performance da lista de trabalhos expostos. Isso é um problema. Não há como devanear sobre o corpo e dar-lhe importância sem ativar o seu lugar institucional. Vemos constantes debates, ocupações e manifestações nos dias de hoje que pedem representatividade a partir da pluralidade e da performatividade possível do corpo.

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Durante a exposição, que faz parte de uma pesquisa maior intitulada “Becoming a body of water or how to unlearn resistance as oposition” (“Tornar-se um corpo-água ou como desaprender resistência como oposição” em tradução livre), Maheke ocupou o espaço da galeria por 3 dias para ensaios abertos. O público poderia entrar e vivenciar o artista, que usa fones de ouvidos, praticando seu vocabulário coreográfico. Ele explica que há uma tentativa de juntar a fluidez da água com vogue. O comentário que ficou foi o quão desconfortável foi “invadir” um espaço de tentativas e erros. Este sentimento não foi replicado na performance que fez uso de elementos teatrais como a separação de palco e platéia, a diminuição da iluminação e começo, meio e fim. Fiquei desapontado em ver o uso destes elementos de forma ingênua pois é visível que a pesquisa visa apropriar-se da duração como elemento constitutivo. Isso significa que o material coreográfico não se sustenta numa ação, como no teatro, mas necessita de repetição e de manter-se frente a frente com os visitantes.

Por um lado, a exposição funciona na medida que demonstra e problematiza conceitos e ideias em debate no mundo. Por outro, ela peca na imaturidade da linguagem, que aparenta um experimento que deu errado. É possível ver a sensibilidade e diversidade dos elementos mas, como performance, não estimula o publico e não oferece um novo olhar sobre a produção contemporânea.

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