Arte

100 anos do estilo Art Déco, uma revisão oportuna

Por José Henrique Fabre Rolim - novembro 17, 2025
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A arte define caminhos, propõe novos desafios, alcança perspectivas inimagináveis, possibilita confrontos reveladores ao romper barreiras, mas o inesperado sempre floresce. 

Há cem anos, em 1925, acontecia a “Exposition internationales des arts decoratifs e industriels modernes” em Paris que proporcionaria uma revolução no design, na arquitetura, na moda e em tantos aspectos do cotidiano de uma sociedade, o Art Déco viria a ser o requinte de uma época. Os anos loucos sucedem a Belle Époque, o Art Déco sucede ao Modern Style, o Art Nouveau.

Após a Guerra de 1914-1918, os franceses vivem na ilusão de uma glória restaurada e de uma paz universal. As classes mais desenvoltas vão aderir a um estilo ambíguo, charmoso prolongando um mundo prazeroso do começo do século XX. Diferentemente dos alemães, criadores de um design moderno (notadamente com a Bauhaus), os decoradores franceses a começar pelos marceneiros de móveis, se encaminhavam para a tradição, sua produção denotava elegância no estilo Luiz XVI com o conforto de Luiz Filipe. 

 Art Déco

Art Déco rompia com esses parâmetros, o gosto pela linha reta (notadamente por influência do cubismo) pelas cores sinceras, leais, sem dissimular, sem hesitação, caminhando pela interpretação geométrica das formas da natureza, mas fiel à uma tradição de elegância, esse estilo florescia com grande força.

Na França a fama alcança decoradores como E.Ruhmannm, Louis Sue e André Mare, fundadores da Companhia das Artes Francesas, enquanto Maurice Dufrève e Paul Follot, criavam móveis com materiais preciosos contrastantes. Toda a arte de luxo é envolta por uma produção seja artesanal seja semi-industrial:  vidrarias e cristais Baccarat, Lalique, Daum, manufaturas como Christofle ou Puifocart, porcelana Havilland ou Sèvres, ícones do requinte, enveredaram pelo movimento, assim como as marcas equivalentes existentes fora da França. Os arquitetos adotam uma estilização particular de decoração, predominando nos anos 20 e 30 o movimento moderno que acompanhava a criação de móveis em tubos de metal. 

 Art Déco

O estilo Art Déco se espalhou pelo mundo, joias, cerâmicas, mobiliário, vestidos, projetos arquitetônicos envolvia as cidades mais famosas de Paris ao Rio, de Nova York a Xangai, uma estética que agradava pelo requinte. 

Atualmente, uma exposição comemorativa acontece na Cidade Luz, “1925-2025. Cent ans d’Art déco” no Musée des Arts Décoratifs, em cartaz até 26 de abril, reunindo 1.200 obras abrangendo a dimensão exata de sua influência. O acervo do Museu é um dos maiores do mundo referente ao Art Déco, deve-se frisar que entre 1906 e 1922, a instituição abrigou o salão da Societé des Artistes Décorateurs, que teve papel fundamental na difusão do movimento. 

 Art Déco

A exposição que ocorreu em 1925 foi um sucesso surpreendente, reunia 21 artistas da Europa, a visitação alcançou 15 milhões de visitantes impressionando a mídia da época.  

A influência no Brasil pode ser percebida nas diversas construções espalhadas pelas cidades, das fachadas aos detalhes das janelas, dos portões e de tantas características que espelham um estilo marcante. Alguns exemplos podem ser apreciados no Cristo Redentor, a mais alta estátua art déco do mundo, um dos símbolos do país, na Central do Brasil, no Edifício Itahy em Copacabana, no Banco de São Paulo, no centro da capital paulista. 

Em Paris, os exemplos do estilo são diversos como o Palácio da Porte Dorée, o cinema do Grand Rex, as piscinas do Molitor, a decoração do Café La Coupole além de outros locais cinematográficos. 

As peças expostas na exposição comemorativa são extremamente sugestivas como os colares, diademas, relógios, necessaires, documentos que definem a linha de Cartier, que teve como um dos seus designers Maurice Couêt .Todas as facetas do Art Déco se destacam por uma estética estruturada no geométrico profundamente elegante que alia modernidade e preciosidade. As diferentes tendências do Art Déco como a abstração geométrica de Sonia Delaunay e Robert Marret –Stevens, alcançando a pureza formal de George  Bastard e Eugêne Printz, ou ainda o gosto do decorativo Clement Mère e Albert-Armand Rateau ampliam a perspectiva de uma releitura do movimento.  

A exposição demonstra que o Art Déco é uma fonte sempre fecunda de criação e de inovação, as inúmeras peças expostas como desenhos, cartazes, mobiliário escultural, joias preciosas numa cenografia imersiva reforça a impressão de um estilo que fascina imensamente.  

Na exposição foi recriado um vagão inteiro do Expresso do Oriente, cuja decoração original era de autoria de René Lalique e René Prou. Concebido em 1883 para ligar Paris a Istambul, o Expresso representou o símbolo máximo do Art Déco. 

 Art Déco

O estilo com o correr do tempo foi perdendo seu espaço, outras tendências surgiram, mas o gosto pela marchetaria, pela laca e por certos detalhes são retomados por alguns designers, reminiscência do glamour de uma época perdida.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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