Aleijadinho, o maior nome do barroco latino-americano
Segundo o dermatologista Geraldo Barroso de Carvalho, da Universidade Federal de Juiz de Fora e que em 1998 exumou os restos mortais de um corpo que supostamente era do artista, a cor dos ossos sugere que Aleijadinho teria uma doença metabólica chamada porfiria. Caracterizada pela sensibilidade exagerada à luz, a síndrome explicaria atitudes como o artista só sair para trabalhar antes do amanhecer, viver coberto por um toldo, voltar do trabalho só depois de a noite cair e, nas poucas vezes em que aparecia durante o dia, estar sempre a cavalo – em disparada e totalmente coberto
Estilo: Maior nome do barroco latino-americano; entalhe de imagens e retábulos; cenas da via-sacra em obras feitas de madeira e marcadas pelo colorido vivo; esculturas em pedra-sabão. Nascimento: Antônio Francisco de Lisboa, 1730 (Vila Rica, atual Ouro Preto, Brasil). Morte: 1814 (Vila Rica, atual Ouro Preto, Brasil). A vida e a obra de Antônio Francisco Lisboa são cercadas de mistério. Pouco se sabe sobre o escultor, entalhador e arquiteto mais importante do Brasil colonial. Filho de uma escrava e de um mestre de obra português, aprendeu noções de desenho com o pai. No século XVIII, Vila Rica tinha muito ouro, que era extraído das minas. A cidade enriquecia com a mineração, e não faltava trabalho para carpinteiro. Então, foi em busca de um emprego e melhores condições de vida que seu Manuel, o pai de Aleijadinho, saiu de Portugal e veio para o Brasil. Quando criança, Antônio foi um menino muito curioso. Determinado, ele queria saber de tudo. Adorava passar seu tempo na oficina do pai, onde aprendeu desenho, arquitetura e ornamentos. Mas a arte que ele mais amava fazer era a escultura. Ainda pequeno, aprendeu música, latim e religião com os padres da cidade. Conta a história que ele sofreu terríveis preconceitos por ser negro e que só conseguiu estudar os primeiros anos do colégio. Quando jovem, Antônio decidiu que seguiria os passos do pai e foi trabalhar na oficina. Depois de um tempo, seu trabalho começou a ser disputado entre várias igrejas. “Antônio Francisco tinha pele escura, a voz forte, fala arrebatada e era o gênio agastado; a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e esta volumosa; o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto; a testa larga, o nariz retangular e algum tanto pontiagudo, os beiços grossos, as orelhas grandes e o pescoço curto. Sabia ler e escrever, e não consta que tivesse frequentado alguma outra aula além da de primeiras letras, embora alguém julgue provável que tivesse frequentado a de latim.” – A primeira biografia sobre Aleijadinho, escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, traz muitas informações sobre o mestre. Pouco antes dos 50 anos, recebeu o apelido de Aleijadinho por causa de uma doença que o fez perder os movimentos das mãos e dos pés. Com a doença, o escultor se fechou no seu mundo. De alegre e extrovertido, passou a ser triste e amargurado. Além de destruir mãos e pés, a doença também entortou seu rosto. Sua aparência assustava as pessoas. Por isso, saía de casa somente quando necessário, coberto por uma capa e usando um chapéu de abas bem longas. Mesmo assim, com instrumentos atados aos braços, produziu obras extraordinárias, como o conjunto de 12 profetas de pedra-sabão, tão admiráveis quanto as vistas no barroco europeu. Suas estátuas possuem quase sempre cabelos encaracolados, queixo dividido em duas partes e uma expressão de sofrimento contido como a observada no rosto de Jesus na obra O carregamento da cruz. Os especialistas em obras de arte costumam dividir a produção de Aleijadinho em duas fases: na primeira, anterior à doença, suas obras refletiam a alegria de sua juventude. São dessa época a Igreja de São Francisco de Assis (um dos exemplos mais notáveis do barroco internacional), a Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões (as duas na cidade de Ouro Preto). Na segunda fase, depois da doença, a obra do artista é triste, amargurada e sofrida. É deste período o conjunto de esculturas Os Passos da Paixão e Os Doze Profetas, da Igreja Bom Jesus de Matosinhos, na cidade de Congonhas do Campo. No fim de sua vida, ele ainda trabalhava muito, e quando perdeu a visão, em 1812, deixou sua oficina. Morreu em 1814, com mais ou menos 76 anos, pobre e doente, na cidade de Ouro Preto.
Fontes: Geledés; EBC; FARTHING, Stephen. 501 Grandes Artistas. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. Veja também: https://arteref.com/arte/os-7-artistas-brasileiros-barrocos/
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