Poucas pinturas são tão icônicas quanto American Gothic, de Grant Wood.
Além desse retrato aparentemente simples fazer parte do imaginário popular estadunidense, a história por trás de sua criação e ascensão à fama o torna ainda mais atraente.
Fizemos uma lista com 15 fatos curiosos sobre a obra que você talvez não saiba que existam.
O quadro American Gothic foi apresentado na exposição anual de 1930 no Instituto de Arte de Chicago, onde ganhou uma medalha de bronze e um prêmio de US $ 300. Mas isso não é tudo. O Instituto de Arte adquiriu obra e a colocou em sua coleção.
A partir daí, uma imagem da pintura premiada foi publicada no Chicago Evening Post – jornal diário da cidade de Chicago, depois nos jornais dos EUA, ganhando fama e popularidade a cada impressão. Oitenta e cinco anos depois, o American Gothic ainda pertence ao Instituto de Arte de Chicago.
Antes desse avanço, Wood era um artista desconhecido de 39 anos, morando no sótão de uma funerária que ele dividia com sua mãe e irmã. Embora estivesse trabalhando na obscuridade, o treinamento artístico na Europa havia ensinado técnicas para Wood que o levaram a sua grande oportunidade.
Os fãs de Wood ficaram alucinados no quatro e, por conta disso, viajavam até a casa do artista e invadiam seus aposentos. Após o sucesso de American Gothic ele recuou artisticamente, reescreveu diversas vezes a história e o significado de sua pintura para melhor se adequar a uma determinada tendência ou narrativa.
No verão de 1930, Wood estava visitando Eldon, em Iowa, para assistir a uma exposição de arte. Enquanto estava lá, avistou uma pequena cabana branca com uma janela “carpinteiro gótico” no segundo andar, que Wood achou “pretensioso” por ser uma casa tão humilde. Ele esboçou a casa em um envelope, desenhando a base para o que se tornaria sua pintura mais famosa.
Inspirado na janela que lembrava as catedrais que viu na Europa durante seus treinamentos e viagens, Wood colocou suas inspirações completamente americanas em um “plano frontal marcante” que lembra a arte do Renascimento do Norte, e imitou com atenção cada detalhe desse movimento.
Buscando um modelo para o homem de estilo gótico americano, Wood pediu um favor ao dentista, Byron McKeeby, de 62 anos. Provavelmente McKeeby se sentiu na obrigação de ajudar Wood já que o mesmo era um cliente fiel que sempre frequentou sua clinica.
A primeira escolha do artista para uma modelo feminina foi sua mãe, Hattie. No entanto, ele estava preocupado se ela iria conseguir ficar posando por muito tempo. Então, em seu lugar, sua irmã Nan é que foi representada. Mas Hattie contribuiu emprestando seu avental e camafeu para a fantasia de sua filha.
Wood pintou a casa, sua irmã e seu dentista em sessões separadas.
Quando os jornais da cidade natal de Wood, Cedar Rapids, Iowa, publicaram uma imagem de American Gothic pela primeira vez, a pintura provocou uma reação negativa. O ar sombrio que Wood usou em sua obra não era como os moradores da cidade se enxergavam, o que despertou um incomodo gigantesco nos moradores da cidade, os mesmos não queriam ser apresentados ao mundo dessa forma.
Uma fazendeira ficou tão furiosa com a pintura que ameaçou morder a orelha de Wood. Outro sugeriu que ele tivesse sua “cabeça esmagada”. Wood ficou surpreso com a reação negativa das pessoas, insistindo que ele era um “lowan leal” e que seu trabalho não era para ofender ninguém, na verdade, foi apenas uma homenagem.
Uma legenda popular para a pintura nos jornais era “Um agricultor de Iowa e sua esposa”, mas não era assim que a modelo feminina da pintura a via.
Nan disse às pessoas que a pintura mostrava um pai e sua filha, talvez pelo incomodo em ser “casada” com um homem que aparentava ter o dobro da sua idade. Apesar disso, o próprio Wood nunca confirmou se a versão da irmã estava ou não correta.
No início, escritores como Gertrude Stein e Christopher Morley acreditavam que o American Gothic satirizava o provincialismo de uma cidade pequena da América. Mas como a Grande Depressão prejudicou a moral americana, o quadro foi visto como uma celebração necessária ao espírito da nação. Agora, seu objetivo se transforma a cada nova paródia.
Wood deu a seguinte declaração, que para muita gente soou um tanto confusa:
“Há sátira nela, mas isso você encontra em qualquer obra realista. Estes são tipos de pessoas que eu conheci a vida toda. Tentei caracterizá-las com sinceridade – para torná-las mais parecidas com elas do que elas mesmas. Essa era a vida real. ”
Olhe no canto inferior direito do macacão do fazendeiro e verá o nome do artista pintado junto com o meio de tela (madeira) e o ano (1930) em um azul pálido, quase ilegível contra o pano de fundo do jeans.
Com American Gothic as obras de Wood entraram na categoria do regionalismo americano, sempre vestindo macacões e proclamando para a imprensa: “Todas as boas idéias que já tive foi enquanto eu estava ordenhando uma vaca.”
O regionalismo foi um movimento de arte moderna realista americano que evitou o urbanismo nas representações de ambientes rurais. Ele (ou a pintura de cenas americanas) atingiu o pico de sua popularidade na década de 1930, graças às obras de Wood, de Thomas Hart Benton, Kansas de Missouri e de John Steuart Curry.
Construída em 1881 por Catherine e Charles Dibble, a Dibble House passou por vários proprietários por mais de um século, até Carl Smith doá-la à Sociedade Histórica do Estado de Iowa em 1991. Desde então, ela foi transformada em um museu comemorando Wood e a pintura, o que fez dele e da casa famosos.
Wood pode tê-las achado exuberantes, mas as janelas (uma na frente da casa e outra na parte de trás) eram dobradiças que permitiam que a familia movesse facilmente móveis grandes, sem atrapalhar a entrada de uma escada estreita. Acredita-se que o Dibbles tenha escolhido suas janelas de um catálogo da Sears and Roebuck.
Alguns observadores sugeriram que o homem retratado não é agricultor, mas um pregador que usa o forcado como suporte para atacar o diabo e seus perigos. Talvez a mecha do cabelo da mulher a simboliza como uma mulher solteira. Suas expressões também foram vistas como a de uma mulher decidida, porém sombrias. As cortinas da janela podem significar um segredo oculto. Os gerânios ao fundo significam melancolia?
Wood nunca esclareceu nenhum desses pontos e, portanto, o mistério e o debate sobre o quadro American Gothic continua existindo mesmo que o artista já tenha falecido há anos.
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