Com apenas 20 anos, Egon Schiele quebrou radicalmente com a história da pintura figurativa retratando o estado psicológico das pessoas, em vez de suas características físicas.
Em seus primeiros anos vivendo com seu pai, mãe e duas irmãs em um cruzamento ferroviário na pequena cidade austríaca de Tulln, Schiele mostrou um talento para desenhar evidente, mas foi uma tragédia pessoal que o impulsionou, de uma vez por todas, a uma vida dedicada à sua prática artística.
Seu pai, que frequentava bordéis durante a juventude (como era habitual para os homens austríacos da época), foi dado como louco por decorrência de alguns surtos psicóticos e, logo após o diagnóstico, em 1905, faleceu com sífilis, doença sexualmente transmissível.
Sua psicose e morte afetaram profundamente o Schiele de 19 anos, mas simultaneamente desbloquearam uma feroz curiosidade em torno da sexualidade, da mortalidade e do funcionamento interno da mente humana no jovem artista.
Esta abordagem resultou em uma porção de desenhos subversivos, que davam a entender que ele e seus “personagens” eram seres angustiados, doentes, confusos e sexuais.
Desde a trágica morte de Schiele, em 1918, aos 28 anos, muitos comentários negativos rondaram as obras do artista, cuja visão vanguardista e de mente aberta do corpo humano e da sexualidade não tinha precedentes no campo da arte aclamada pela crítica.
No decorrer de sua carreira, Schiele continuou a exportar características dos seus problemas psicológicos para as suas obras, que foram cada vez mais admiradas pela comunidade criativa de Viena – e em particular, seu mentor Gustav Klimt – na virada do século.
Seu interesse pelo sofrimento humano e pela sexualidade foi marcado por um período de sua vida na prisão, que ocorreu pela repressão à sua arte erótica, e também pelo seu tempo no exército austríaco de 1915 até sua morte durante a Primeira Guerra Mundial.
As pinturas e os desenhos que resultaram da sua carreira prematura que durou 8 anos, foram pioneiros na abordagem da pintura figurativa onde os traumas psicológicos e as fixações de seus personagens se tornaram evidentes na presença física: corpos contorcidos, pele machucada, gestos eróticos e características faciais andrógenas.
Embora a habilidade de Egon fosse inata, ela floresceu quando ele se mudou para Viena em 1906, logo após a morte de seu pai, para estudar na prestigiada Academia de Belas Artes da cidade.
Por mais que estivesse matricula em uma academia de renome, não foram as aulas passadas na universidade que estimularam o talento do artista, e sim suas noites boemias na cidade – uma cena influenciada por pessoas como o psicanalista Sigmund Freud e o pintor Klimt – que estavam em desacordo com a autoridade intensamente moralista da época.
Em 1907, Schiele e Klimt se aproximaram, e o artista mais velho levou o jovem sob sua asa, apresentando-o não só ao seu círculo de artistas, reunidos no movimento secessionista de Viena, mas também a colecionadores e críticos influentes.
Após virar amigo próximo de Klimt, Schiele começou a se rebelar na Academia. Depois de largar os estudos em 1909, ele fundou o Neuekunstgruppe com seus amigos da escola de arte – incluindo Oskar Kokoschka, Max Oppenheimer e Paris Von Gütersloh – e foi Schiele quem escreveu seu manifesto, motivado por Klimt.
Em 1910, Schiele afastou-se dos padrões geométricos encontrados nas pinturas de Klimt, e estabeleceu seu próprio estilo. A mudança foi gerada, em grande parte, pelo interesse de Schiele pela mente humana, inspirado e influenciado por Sigmund Freud e suas próprias lutas psicológicas e obsessões, como a tristeza extrema e o sexo.
Essas preocupações manifestavam-se em auto-retratos que revelavam um profundo envolvimento com sua psique. Neles, ele explorou sua sexualidade, bem como sua angústia.
Schiele ainda mais abertamente, no entanto, sondou seu interesse no erótico através de retratos de mulheres e homens jovens. Polêmica, muitas dessas musas estavam na adolescência, e uma era sua irmã Gerti, com quem ele estava muito próximo.
O corpo de trabalho que Schiele deixou para trás após a sua morte causada pela gripe espanhola em 1918 foi extremamente influente. Ele não só colocou as bases para o movimento expressionista vienense (cristalizado no manifesto que ele escreveu para Neuekunstgruppe), mas também empacotou uma abordagem expressiva da pintura representacional em escala internacional, que se espalhou em exposições por toda a Europa.
A qualidade expressiva de seu trabalho – cujas figuras contorcidas e suas pinceladas acentuadas emergem com energia emocional e, por sua vez, se afastam de uma representação direta – passou a inspirar múltiplos movimentos que se desenvolveram após ele, incluindo o Expressionismo Abstrato.
Até hoje, os desenhos e pinturas de Schiele são símbolos poderosos de luta psicológica, honestidade emocional e liberdade sexual.
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