Artigos Acadêmicos

Saiba como é a influência dos mitos nas obras de arte

A Mitologia serve de inspiração para inúmeras representações simbólicas em grandes obras de arte. Os diferentes significados dos mitos greco-romanos, apresentados em todo seu esplendor no período clássico, se associam às artes visuais a partir do Renascimento, no final do século XV, com a redescoberta da Antiguidade Clássica, até o século XIX, perpassando alguns estilos artísticos com semelhantes assuntos.

A interligação da literatura e das artes visuais tem como objetivo buscar conhecer e entender as representações simbólicas, assim como, os significados dos mitos e o caráter dos deuses no ambiente cultural da Idade Moderna. Assim, intercalam-se as histórias relacionadas aos mitos com a seleção de algumas obras disponíveis junto aos acervos museológicos universais.

Colunas com cariátides esculpidas

A partir da compreensão dos temas relacionados aos mitos no período greco-romano, busca-se chegar a uma nova atitude quanto à apreciação artística, em que se agregam a percepção, emoção e razão por parte do observador crítico, em diferentes períodos artísticos.


Artes visuais e literatura

Ao longo do tempo o diálogo temático e os assuntos formais foram compartilhados pela literatura e pelas artes visuais, inclusive com tráfego de uma para outra, da mesma forma que agradou ou contrariou uns e outros. Portanto, é importante mencionar que as obras de arte, na qualidade de pinturas, esculturas ou gravuras, aferidas aos textos clássicos, além de uma interlocução enriquecedora, merecem igual atributo e distinção.

No decurso de certos períodos artísticos, principalmente durante o Classicismo francês, no século XVII e o período do Neoclássico despontado no século XVIII, o assunto foi discutido por artistas, filósofos e teóricos da arte, entre eles o filósofo e crítico da arte alemã Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781)

Frente às querelas acerca da valorização e do prestígio da poesia ou das obras de arte, Lessing publica em 1766, a obra Laocoonte – ou sobre as fronteiras da Pintura e da Poesia. em que delineia os limites das artes e da poesia. As reflexões do autor enfatizam as condições e funções específicas de cada uma, reprova e alimenta as discussões sobre o assunto, criticando aqueles que argumentam e comparam o poder de cada uma, tomando partido, ora para a poesia, ora para as Artes visuais.

Fonte de Trevi em Roma

“Ora eles forçaram a poesia dentro dos confins estreitos da pintura; ora eles deixaram a pintura preencher toda a larga esfera da poesia. Tudo que está certo para uma, também deve ser permitido para a outra; tudo o que que agrada ou desagrada numa delas, deve necessariamente também agradar ou desagradar na outra; e, tomados por essa ideia, eles proferem no tom mais firme os juízos mais rasos quando eles tomam por erros as divergências recíprocas entre as obras do poeta e do pintor sobre um mesmo objeto, para em seguida culpar uma arte ou a outra, conforme eles tenham maior gosto pela arte poética ou pela pintura”. (LESSING, 2011, p. 78).

Aqui, se busca, simplesmente, fazer um paralelo entre algumas histórias mitológicas com certas obras selecionadas por se adaptarem ao tema e ao espaço temporal escolhido, afastando-se das diferenças e comparações entre literatura e artes visuais e sustenta-se que as duas classes artísticas proporcionam prazer aos observadores e amadores, em concordância com Lessing (2011, p. 77) “ambas iludem e a ilusão de ambas gera prazer.”

A Escola de Atenas de Rafael

Apoiado no tema, cabe aos artistas escolher o momento mais significativo e sugestivo, o instante que melhor explique a cena descrita pelo poeta. Aos artistas compete decidir o que revelar, pois toda obra de arte necessita da apreciação para se completar, para gerar prazer. A sabedoria encontra-se distante da imitação ou da ideia original, ela reside na criação da ilusão, no efeito e na recepção da obra.


Veja mais sobre o assunto


Referência

LESSING, G. E. Laocoonte ou sobre as fronteiras da pintura e da poesia: com esclarecimentos ocasionais sobre diferentes pontos da história da arte antiga. Introdução, tradução e notas de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 2011. 317p.


Publicações

BELO APOLO: apaixonado e vingativo. Interfaces da Educ., Paranaíba, v.9, n.25, p. 423-451, 2018.

VIRGEM ARTEMIS: protetora e implacável. R. Inter. Interdisc. Art&Sensorium, Curitiba, v.5, n.2, p. 073 – 092 Jul.- Dez. 2018.

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Fatima Sans Martini

Mestre em Artes Visuais com Abordagens Teóricas, Históricas e Culturais pela UNESP. Pós-graduação em História da Arte pela FAAP-SP. Formada em Artes Plásticas. Experiência profissional: Projetista em Design de Interiores. Experiência acadêmica: nas disciplinas de Projetos, Desenho, História do Mobiliário e História da Arte nos cursos de Arquitetura e Design de Interiores. Professor das disciplinas de Estética e História da Arte Mundial e Brasileira no Curso de Artes da Unimes, Universidade Metropolitana de Santos, SP

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