Arthur Tuoto desenvolve uma obra diversificada que mescla vídeo, fotografia e novas mídias. Mantém um intenso trabalho de reconhecimento internacional tanto em exposições de arte como em festivais de cinema. Já teve trabalhos expostos no Moscow Museum of Modern Art (Rússia), Museu Oscar Niemeyer (Brasil), Casoria Contemporary Art Museum (Itália), Kunstmuseum Bonn (Alemanha) e Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Brasil), integrou a IV Bienal do Porto Santo (Portugal), 5ª Bienal Latino-Americana de Artes Visuais Vento Sul (Brasil), Bienal de la Imagen en Movimiento (Argentina), 64º Salão Paranaense (Brasil), Videonale 14 (Alemanha), além de ter participado de festivais como o Videoformes (França), Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo (Brasil), Mostra de Cinema de Tiradentes (Brasil) e Kunstfilmtag (Alemanha).
Fale um pouco sobre o seu trabalho (técnicas usadas, material):
Apesar de ter uma carreira relativamente curta, acho que já posso dividir minha trajetória em duas fases. Uma primeira fase em era claro um interesse pelo que existe, digamos, no exterior, pelo real em um sentido mais ontológico, o que incluia um trabalho de campo com filmagem e uma busca por certos flagrantes do real; e uma segunda fase que parte de uma lógica da apropriação tanto como um meio de expressão poético e como uma via política que questiona certas ideias de propriedade intelectual.
Faço uso basicamente de câmeras amadoras ou câmeras de baixa resolução, mesmo em alguns trabalhos que lido com apropriação, eu medio as imagens através desses disposivos para obter uma outra plasticidade. Gosto da facilidade e da acessibilidade dessas câmeras, e mesmo da estética suja e ruidosa que elas geram. Até hoje não me acostumei completamente com a resolução em HD, e me incomoda muito uma certa estética publicitária que busca por imagens cada vez mais higiênicas, estetas, sem uma particularidade, sem uma caráter específico.
Quais as maiores influências para a criação de suas obras? (movimentos, artistas, música, viagens, assuntos, temas, poética):
Minha influência mais direta é o cinema, em especial a linguagem cinematográfica, tanto no sentido primitivo do aparato óptico cinematográfico como gerador de uma sensorialidade audiovisual particular (vídeos como Disforme http://arthurtuoto.com/disforme.html e Mãos Mortas http://arthurtuoto.com/deadhands.html), como também no sentido imersivo que a dialética entre som e imagem proporcionam, essa ideia de uma narrativa incompleta (como em Ensaio para um Vídeo Vigilância http://arthurtuoto.com/vigilancia.html e Corpo Delito http://arthurtuoto.com/corpodelito.html).
Meu interesse poético, no geral, talvez seja até um pouco iconoclasta, não acredito exatamente em propriedade intelectual ou em qualquer outra ideia mais “sagrada” que um objeto de arte possa ter, até porque toda essa especulação que ronda a arte contemporânea periga uma institucionalização e mesmo uma domesticação de alguns artistas. Ando apreciando cada vez mais obras imateriais, ou pelo menos obras que subvertem um pouco essa ideia de mercado e só existam em um plano imaterial. A própria apropriação em vídeo me parece uma via política bastante funcional nesse sentido, até porque subverte um pouco essa lógica da propriedade intelectual e do copyright, e ainda tem uma bitola que renega a ideia de um original, o vídeo é sempre uma cópia.
O Jean-Luc Godard e o Christian Marclay talvez sejam os principais criadores e pensadores que mais me influenciaram nesse âmbito. Mas mesmo artistas que não trabalham propriamente com o vídeo, como o Artur Barrio, o Thomas Hirschhorn e o Dan Colen, e que agregam conceitos imateriais, em alguns casos até bastante extremos, são grandes influências.
A temática da minha obra acho que segue duas vias. Uma é a da fascinação, toda essa questão que lida com um certo primitivisimo, um certo vestígio da imagem que nasce diante dos nossos olhos (os já citados Disforme e Mãos Mortas), como também da perversão, seja em trabalhos que eu lido com uma temática sexual (a pornografia como via extrema de um corpo amórfico em O amor em um Ato http://arthurtuoto.com/amor-ato.html) ou em trabalhos que lidam com uma estética televisiva invasiva (Transcomunicação http://arthurtuoto.com/transc.html)
Quando e como começou o seu interesse pela arte?
Apesar de ter uma formação em cinema, desde o começo me senti um pouco limitado e fui atrás de novos meios de expressão. O vídeo, por ter essa caráter bastante acessível e ainda essa ordem mais maleável e processual, um caráter independente mesmo, me pareceu um meio ideal. As possibilidades da imagem em movimento em si (video no fim das contas é apenas o nome de uma bitola) me parecem cada vez mais múltiplas, ainda mais na produção de obras que desafiem uma simples classificação conceitual (o termo videoarte já me soa bastante limitado). A impossibilidade de classificação de certos trabalhos em filme experimental, documentário, videoarte, vídeo ensaio ou qualquer outra coisa, é só mais um sintoma da variedade de formas que essa disciplina ainda pode atingir.
Quais artistas na sua opinião estão se destacando no cenário nacional e/ou internacional atualmente?
Como não sou crítico e nem me considero um grande entendedor de arte contemporânea, vou me focar em artistas que, seja por uma questão de temática ou polítca, me interessam e me parecem que andam se destacando de alguma forma.
Além dos já citados como uma influência direta ou indireta (Artur Barrio, Godard, Christian Marclay), poderia citar o Richard Prince, Martin Creed, Cory Arcangel, até porque são artistas que, de alguma forma, questionam um pouco a nossa própria noção de arte, e no caso do Prince e do Arcangel existe uma certa ironia contemporâneo através das apropriações, obras que ao se apropriar de uma estética dominante, até publicitária em alguns casos, subvertem essa lógica de valores. Dentre os brasileiros, gosto muito dos trabalhos do Adriano Costa, Marcelo Cidade, Clara Ianni, Rubens Espírito Santo, além de outros que possuem trabalhos um tanto quanto inclassificáveis e também questionam este estatuto com suas obras. E no vídeo especificamente, meus favoritos são: Marcellvs, Cinthia Marcelle, Carlosmagno Rodrigues, Roberto Bellini, Wagner Morales e Regina Parra (junto com as pinturas). Vale citar também alguns artistas em início de carreira, que mantenho um contato mais próximo, e que aposto em seus trabalhos: João Krefer, Luisa Marques, Tomás von der Osten e Tamiris Spinelli.
Como você definiria a arte contemporânea?
Ao mesmo tempo que a arte contemporânea é responsável por algumas das experiências cognitivas mais desafiadoras com as quais já me deparei, ela é igualmente culpada por momentos de extrema frustração. O mal do nosso tempo é a especulação, o que nada mais é do que pura publicidade, em todos os sentidos. Na medida que alguns objetos de arte vão ficando em alta, consequentemente existe uma domesticação, uma institucionalização para se de adequar a demanda, este é com certeza o pior lado da arte contemporâneo, o mais frustrante como apreciador e como artista. Por outro lado, o que mais me inspira, e consequentemente a razão de eu ter me tornado artista, é a completa liberdade de expressão criativa, o manejo com a linguagem, a possibilidade de se chegar a lugares que nunca foram pensandos, reagrupar imagens que nunca foram reagrupadas e disso tirar um outro sentido, encontrar um novo significado no que está a nossa volta e fazer disso um projeto de vida.
Quer saber mais sobre o artista? Acesse seu site!
DISFORME
MÃOS MORTAS – Bonn Museum of Modern Art
MAOS-MORTAS
O AMOR EM UM ATO
TRANSCOMUNICAÇÃO
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