Nelson Leirner foi um dos maiores artistas plásticos da arte brasileira. Nascido em 16 de janeiro de 1932 na cidade de São Paulo, Leirner já tinha em seu DNA uma grande propensão artística.
Filho de imigrantes poloneses, o pai do artista, Isai Leirner, foi diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo, fundador da Galeria de Arte da Folha de S.Paulo e do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Sua mãe, Felícia Leirner, era uma escultura de renome que tinha contato direto com grande parte da vanguarda brasileira.
Leirner viveu por certo período de sua vida nos Estados Unidos (1947 a 1952), onde deu início aos seus estudos de Artes Plásticas durante os anos de 1956 e 1958. Logo em seguida, ao voltar para o Brasil, já engatou em sua carreira uma primeira exposição individual, realizada em São Paulo no ano de 1961.
No ano de 1966 o artista criou o Grupo Rex, junto com seus parceiros de profissão José Resende, Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, Geraldo de Barros, e Frederico Nasser, que também criaram a Rex Gallery & Sonss. Em 1967, realizou a Exposição-Não-Exposição, happening de encerramento das atividades do grupo, em que oferecia obras de sua autoria gratuitamente ao público. Após esse anúncio, em poucos minutos a galeria estava completamente vazia.
“Foi um dos happenings mais perfeitos que fizemos. A exposição durou exatamente oito minutos. A galeria foi toda depredada e os quadros arrancados brutalmente e vendidos na porta pelas pessoas que os tiraram de lá.” – Wesley Duke Lee
No mesmo ano, Nelson Leirner enviou ao 4º Salão de Arte Moderna de Brasília um porco empalhado e questionou publicamente, pelo Jornal da Tarde, os critérios que levavam o júri a aceitar uma obra. Hoje a obra se encontra como parte do acervo fixo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Também em 1967, o artista deu vida aos seus primeiros múltiplos com lona e zíper sobre chassi, obras que ficaram altamente famosas. Foi, também, um dos pioneiros no uso do outdoor como suporte.
Nelson Leirner era uma figura artística muito ligada a política, e por decorrência da forte acensão da ditadura militar no governo Costa e Silva, no ano de 1969, Leirner fechou sua sala especial na 10ª Bienal Internacional de São Paulo, e recusou convite para outra, em 1971.
No ano de 1970, o artista criou grandes alegorias da situação política contemporânea em séries de desenhos e gravuras. Em 1974, lançou a série A Rebelião dos Animais, com trabalhos que criticavam duramente o regime militar, e foi através dessa série que ele recebeu da Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA o prêmio melhor proposta do ano.
Em 1975, a APCA encomendou um trabalho para entregar aos premiados, mas a Associação recusou o trabalho por ser feito em xerox, e com isso, como protesto, os artistas não comparecem ao evento.
De 1977 a 1997, Nelson Leirner lecionou da famosa Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo, onde teve e ainda tem grande relevância na formação de várias gerações de artistas.
O artista concedeu em 2015, aos seus 83 anos, uma entrevista ao canal CURTA!, onde ele falava sobre suas obras juntamente com a curadora Lilia Moritz Schwarcz.
Após anos de trabalho e dedicação a arte contemporânea, Nelson Leirner faleceu há menos de uma semana, dia 7 de março de 2020, aos 88 anos, em sua casa localizada no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro.
O Grupo REX, formado por Wesley Duke Lee, Nelson Leirner e Geraldo de Barros, Carlos Fajardo, José Resende e Frederico Nasser, expressava sua inconformidade com o precário mercado de arte brasileira através de manifestos polêmicos e bem humorados, como o jornal-boletim “Rex-Time”, cuja primeira edição possuía a seguinte manchete: “AVISO: É A GUERRA”.
A “guerra” anunciada pelos integrantes do grupo se referia, com ênfase, ao mercado de arte, museus, Bienais, à crítica dominante nos jornais, e a própria arte, que de acordo com Nelson Leirner e seu grupo, era reduzida à condição de mercadoria.
A galeria do grupo, a “Rex Gallery & Sons”, constituiu um centro vivo de informações sobre arte contemporânea, um verdadeiro “museu experimental”, em que os princípios centrais, assim como os de seus criadores, era recuperar o espírito crítico e o caráter de intervenção da arte pela superação dos gêneros tradicionais e pela íntima articulação arte e vida.
Com fortes influências a vanguarda dadaísta, as manifestações pautadas tinham como intuito causar choque e escândalo a serviço da arte, além de conter marcas significativas sobre a arte pop em sua linguagem visual. Mesmo com um curto período de duração (junho de 1966 a maio de 1967), o grupo causou um enorme reboliço na cidade de São Paulo.
Em 1966, Nelson enviou para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília um porco empalhado num engradado de madeira com um presunto acorrentado ao pescoço. A obra fazia parte da série Matéria e Forma, e algo que nem o próprio artista esperava, mas que aconteceu, é que o porco foi aceito.
Após a aceitação do Porco, Nelson Leirner questionou o juri, pela imprensa, sobre os critérios adotados para a considerar o objeto como arte. O juri era composto por Mario Pedrosa, Walter Zanini, Frederico de Moraes, Mario Barata e Clarival do Prado Valadares. Alguns deles responderam pelos jornais a crítica do artista e estabeleceu-se uma grande polêmica.
Desde então, O Porco tornou-se uma celebridade e oficializou definitivamente Nelson Leirner como o mais polêmico artista contemporâneo brasileiro e a obra foi adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Em 2009, Nelson foi convidado para participar do Projeto Ocupação no Itaú Cultural, onde ele utilizou trabalhos antigos com uma visão atualizada dos mesmos. Lá estava novamente O Porco acompanhado dessa vez de um presunto engradado.
Durante uma projeção mais ressente, na Bienal de São Paulo 2010, Leirner utilizou-se da referência para construir a obra a ser exibida. Uma réplica em madeira e lona do modelo de avião criado por Leonardo da Vinci no século XV com um animal empalhado como piloto.
O animal inicialmente escolhido foi uma paca, daí o nome da obra Pacavoa, mas o artista quando viu o modelo construído achou a paca pequena e optou por um javali. Esse javali presente em cima do avião fazia uma referência direta a si próprio e a sua obra O Porco, e por fim, o modelo do avião era diretamente uma referência a Leonardo da Vinci. De 1966 a 2010, O Porco continua vivo e polêmico.
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