Blow up é um filme de 1966 dirigido por Michelangelo Antonioni. Para assistí-lo você não pode ser amante do ritmo frenético pois ele é (para quem não entende “conjunto”) um filme lento.
Veja o trailer:
Não para mim… Em cada cena com poucos movimentos dos personagens, meus olhos se moviam freneticamente capturando quadros, esculturas, objetos aleatórios… Essas obras complementavam a mensagem imediata do argumento de maneira sutil e sofisticada.
É um filme profético, ele foi feito em uma época em que as pessoas não lidavam com a IMAGEM com a mesma rapidez que nós lidamos, então ele prevê nossa atual conjuntura estética.
O filme foi feito em uma época em que o usufruto do consumo era solitário: comprávamos coisas caras para o nosso bel-prazer, grande parte de nossas conquistas não possuía testemunhas. Em uma cena, o personagem principal, que é um aficcionado por imagens, entra em um restaurante e o seu olhar (a câmera) foca no prato de comida chegando à sua mesa… o que me lembrou do nosso exibicionismo gastronômico atual… o que me lembrou Zygmunt Bauman e sua modernidade líquida: o próprio escritor do roteiro parece o ter escrito sem ponto algum de referência, Antonioni parece ter feito um salto quântico para nossa atualidade.
Hoje, a impressão que temos é que todos os objetos só existem e assumem importância quando são exibidos em massa, é algo pra ser tão pensado, que não nos damos por conta de que coisas intangíveis, etéreas e até invisíveis quando vislumbradas por uma multidão, tem mais peso e valor do que uma barra de ouro que Fulano guardou para si em uma gaveta, no nosso pensamento de hoje essa barra pode não existir e essa tal coisa etérea pode ser vendida por uma fortuna.
É assim que somos: consumimos coisas que quando nos encontramos solitários com ela, esta se torna um peso morto sem usualidade.
Um lado bom filosófico, que essa forma e ritmo em que lidamos com as coisas que nos rodeia nos provocou, foi uma saída de um doentio solipsismo que a dificuldade comunicativa nos provocava: o mundo existia apenas por onde passávamos, (em referência a uma das cenas do filme) quando saíamos do ambiente, para nós, a nossa ausência fechava os olhos e provocava a total inexistência de tudo que não estávamos presenciando.
Eu me dei por conta do quanto essa nova relação com as imagens e a forma em que essas são testemunhadas pode modificar o ser humano.
Como eu disse, muito profético, em alguns momentos ele parecia personificar o que ocorre hoje em redes sociais.
Jamais em nossa história os objetos foram tão abstratos, eles sempre estiveram no meio de nós, mas poucos tinham acesso ao zoom e a possibilidade de olhar o mundo tão aproximado, diversas vezes e de ângulos infinitos.
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