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Mostra de cinema Jean Rouch e lançamento de DVD no IMS-Rio

O que é?  No dia 22 de fevereiro, o Instituto Moreira Salles lançará em DVD os filmes A pirâmide humana (1960) e Cocorico! Monsieur Poulet (1975), do cineasta francês Jean Rouch. Acompanhando o lançamento será realizada uma mostra com produções de Rouch entre os dias 15 e 27 de fevereiro, às 17h. Serão exibidos, além das obras lançadas em DVD, Eu, um negro (1957), A caça ao leão com arco (1958-1965), Os mestres loucos (1956), Jaguar (1954-1967), Pouco a pouco (1968-1970), Crônica de um verão (1960) e o documentário produzido para a TV francesa Jean Rouch como se…(1998), de Jean-André Fieschi.

Quando? Entre os dias 15 e 27 de fevereiro, às 17h.

Onde? Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro.

A pirâmide humana

A chegada de uma jovem estudante francesa à cidade de Abidjan, na Costa do Marfim, é o ponto de partida para uma experiência provocativa. Rouch reúne dois grupos de alunos de uma mesma escola, europeus e africanos, e propõe um filme sem qualquer roteiro, totalmente improvisado.

Cocorico! Monsieur Poulet

É um mergulho mais fundo na ficção. Inicialmente pensado como um documentário sobre o comércio de galinhas no Níger, o filme transformou-se radicalmente a partir do momento em que o cineasta decidiu dividir a realização com seus dois intérpretes, Damouré Zika e Lam Ibrahima dia e Jean Rouch.

Sobre Jean Rouch

“Da formação inicial de engenheiro na prestigio­sa École Polytechnique de Paris ao fascínio pelo surrealismo, da experiência da Segunda Guerra à descoberta da África, da conversão etnográfica nos anos 40 à fecunda aventura cine­matográfica do pós-guerra que veio desdobrá-la, Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos” – observa Mateus Araújo Silva na Introdução do catálogo da Retrospectiva e Colóquio Jean Rouch realizada no Rio de Janeiro, no Instituto Moreira Salles, em 2009. Rouch, prossegue Mateus, “foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS por anos a fio e autor da obra mais impor­tante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho cinematográfico e antropo­lógico, ele elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Niger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas tam­bém filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las”.

Com o Brasil, “estabeleceu uma relação de amizade e interesse recíprocos desde os anos 60, quando nos visitou pela primeira vez e travou um contato mais próximo com alguns dos expoen­tes do nosso Cinema Novo”. Esteve no Festival Internacional de Cinema do Rio, em 1965, como integrante do Júri e “retornou ao Brasil em 1971, 1973, 1975, 1979, 1996 e 2003. No início dos anos 70, ele chegou a acalentar um projeto (jamais levado a cabo) de fazer com seu amigo Thomaz Farkas três filmes por aqui: um filme etnográfico na Bahia, outro sociológico em São Paulo e um terceiro, de ficção, no Rio”. Mateus lembra ainda no catálogo da Retrospectiva e Colóquio que “Rouch filmou muito, deixou muitos filmes inacabados, fina­lizou alguns deles anos depois de tê-los filmado e fez diferentes versões de outros”, o que dificulta “o estabelecimento de uma filmografia exaustiva e incontroversa”. A que se segue registra pouco mais de 70 títulos entre o que ele considera como seu primeiro trabalho, No país dos magos negros, 1947 e o seu últi­mo longa-metragem, O sonho mais forte que a morte, 2002, feito com a colaboração de Bernard Surugue.

Sobre a coleção de DVDs IMS:

Em outubro de 2012 o Instituto inaugurou uma coleção de DVDs. Os doze títulos já editados são: Shoah, de Claude Lanzmann, La Luna, de Bernardo Bertolucci, Cerimônia de casamento, de Robert Altman, Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho, Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, São Bernardo, de Leon Hirszman, O emprego, de Ermanno Olmi, Cerimônia secreta, de Joseph Losey, As praias de Agnès, de Agnès Varda, A pirâmide humana e Cocorico! Monsieur Poulet de Jean Rouch, e duas edições de poesias: em Poema sujo Ferreira Gullar lê seu poema; em Consideração do poema, artistas lêem poemas de Carlos Drummond de Andrade.

Próximos títulos da Coleção de DVD: Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho, Elena, de Petra Costa, e Diário, de David Perlov

Os títulos da coleção IMS têm três linhas: documentários, filmes de ficção e registros de entrevistas, mesas de debates e conferências organizadas pelo Instituto. “Buscamos filmes que sejam especialmente significativos pelo tema ou pela forma narrativa, que se destaquem na filmografia de determinados realizadores”, explica José Carlos Avellar, curador da programação de cinema do IMS e responsável pela coleção de DVDs. “Algumas vezes, vamos em busca de títulos pouco ou nada conhecidos, outras, da revisão de filmes conhecidos para estimular seu reestudo”, completa. Com esse objetivo, todo DVD da coleção é acompanhado de um livreto com uma análise crítica.

Programação da mostra:

SÁBADO | 15 DE FEVEREIRO

17h00 : Cocorico! Monsieur Poulet

(Cocorico! monsieur poulet)

de Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia e Jean Rouch (DaLaRou). Com: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane, Claudine, Baba Nore. (Niger, França, 1974. 94‘)

Pequena comédia improvisada, em torno das aventuras de Lam, Damouré e Tallou numa caminhonete em busca de frangos para seu comércio. A viagem é pontuada de acontecimentos insólitos, como os encontros com uma mulher-diaba e as travessias do rio Níger com o carro, que é um dos protagonistas da história.

Os mestres loucos (Le maîtres fous)

de Jean Rouch. Som: Damouré Zika e Lam Ibrahima Dia. Montagem: Suzanne Baron. Com os sacerdotes Mountyeba e Moukayla, Lam, membros da seita dos Haukas e habitantes de Accra. (Gana, 1956. 26‘)

Uma cerimônia de possessão anual dos membros da seita Hauka nos arredores de Accra (na sua maioria trabalhadores imigrantes vindos do Níger). A cerimônia é celebrada em torno do sacerdote Mountyeba. Tremores no corpo e respiração curta são sinais da chegada dos deuses que vêm se encarnar no corpo dos participantes do rito. Um dado confere ao filme uma inesperada dimensão política, acentuada pela inserção de cenas de um desfile de autoridades coloniais: os espíritos desse culto representam não os deuses tradicionais, mas uma série de personagens emblemáticas do poder colonial – o capataz, o governador, o médico, a mulher do capitão, o general, o condutor da locomotiva, etc… Na cerimônia, o sacrifício de um cachorro que será comido pelos possuídos. No dia seguinte todos voltam ao trabalho na cidade.

TERÇA | 18 DE FEVEREIRO

17h00 : Jaguar (Jaguar)

de Jean Rouch. Som: Damouré Zika. Montagem: José Matarasso, Liliane Korb e Jean-Pierre Lacam. Música: Tallou Mouzourane (piano), Enos Amelodon (violão), Ami-sata Gaoudelize (canto), Yankori (violino), Ama (flauta) e Djenne Molo Kari (harpa). Com: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel, Douma Besso, Amadou Koffo. (Niger, Gana, França, 1954-1967. 89’)

Quando começou a filmar, Rouch queria estudar a migração dos jovens que saíam do Niger para procurar trabalho em Gana – na época da filmagem, Costa do Ouro. “Como é difícil fazer um documentário sobre migrações – disse mais tarde – decidimos fazer um filme de ficção” improvisado nas filmagens e na sonorização: as aventuras do camponês Lam, do pescador Illo e do escrivão Damouré, que partir do Niger para Accra em busca de fortuna. Eles partem à pé, cruzam ilegalmente a fronteira e tomam direções diferentes. Illo torna-se pescador com os Ewé. Lam comerciante de perfumes. Damouré torna-se um “jaguar”: vive a vida da cidade: corridas, danças nas ruas, rituais dos Haukas.

QUARTA | 19 DE FEVEREIRO

17h00 : Pouco a pouco (Petit à petit)

de Jean Rouch. Assistente: Philippe Luzuy. Montagem: Josée Matarasso e Dominique Villain. Som: Moussa Hamidou. Música: Petit à Petit (Enos Amelolon), Jerk and Slow (Alan Helly) e Niger si nera (Amicale de Niamey). Com: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel, Safi Faye, Ariane Brunneton, Philippe Luzuy, Tallou Mouzourane, Mustapha Alassane, Marie, Idrissa Maiga, Michel Delahaye, Sylvie Pierre. (Niger, Costa do Marfim, França, 1968-1970. 92‘)

Continuação de Jaguar com os mesmos atores: em Ayorou, Damouré Lam e Illo dirigem uma empresa de importação e exportação chamada Pouco a pouco. Ao decidir erguer um edifício, Damouré vai a Paris ver como os franceses vivem em casas de vários andares. Na cidade, etnografia às avessas, descobre os modos de viver e pensar dos parisienses, que descreve em cartões postais enviados regularmente a seus companheiros.

QUINTA | 20 DE FEVEREIRO

20h00 : Crônica de um verão (Chronique d‘un été)

de Jean Rouch e Edgard Morin. Fotografia: Roger Morillère, Raoul Coutard, Jean- Jacques Tarbès, Michel Brault. Som: Guy Rophe, Michel Fano e Barthélémy. Montagem: Jean Ravel, Néna Baratier, Françoise Colin. Com: Marceline Loridan, Marie-Lou Parolini, Angélo, Jean-Pierre, os operários Jacques e Jean, os estudantes Regis Debray, Céline, Jean-Marc, Nadine Ballot, Landry e Raymond, os empregados Jacques e Simone, Henri, Madi, Catherine e Sophie. (França, 1960, 86‘)

“Este filme não foi interpretado por atores, mas vivido por homens e mulheres que deram momentos de sua existência a uma experiência nova de cinema-verdade”. Com estas palavras Rouch abre este documentário um verão em Paris: como as pessoas vivem? São felizes? Marceline e Nadine entrevistam os transeuntes em Paris, Rouch e Morin seguem mais de perto um grupo de estudantes, trabalhadores e artistas. Cada um fala de si e também da França, de modo a que aflorem questões sobre o cotidiano: o trabalho, a solidão, o amor, a política, a guerra na Argélia, os traumas da Segunda Guerra (Marceline revela sua experiência num campo de concentração nazista de onde seus pais não voltaram). As férias chegam, as fábricas ficam vazias, as praias ficam cheias. Vemos os cineastas acompanhando em Saint Tropez alguns dos personagens. No final, as pessoas entrevistadas assistem a uma projeção do filme e os dois realizadores fazem um balanço da experiência.

SEXTA | 21 DE FEVEREIRO

17h00 : A caça ao leão com arco (La chasse au lion à l’arc)

de Jean Rouch. (Niger, Mali, Burkina Faso, França, 1958- 1965. 78‘)

Numa narrativa poética, a aventura de caça ao leão filmada ao longo de vários anos, desde os cuidadosos preparativos dos caçadores Gaos até as perigosas perseguições aos leões. “Fazer um filme é ver esse filme se fazer no visor de minha câmera”, disse o diretor. “Sei a cada momento se o que fiz está bem ou não. Essa tensão permanente é a febre indispensável para o êxito dessa caça aleatória às imagens e aos sons mais eficazes”.

SÁBADO | 22 DE FEVEREIRO

17h00 : A pirâmide humana (La pyramide humaine)

de Jean Rouch. (Costa do Marfim, França, 1961. 89‘)

Alunos do liceu de Abidjan confrontam sem subterfúgios o problema do racismo interiorizado em cada um.

DOMINGO | 23 DE FEVEREIRO

17h00 : Cocorico! Monsieur Poulet (Cocorico! monsieur poulet)

de Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia e Jean Rouch (DaLaRou). (Niger, França, 1974. 94‘)

Pequena comédia improvisada, em torno das aventuras numa caminhonete em busca de frangos.

TERÇA | 25 DE NOVEMBRO

17h00 : Eu, um negro (Moi un noir)

de Jean Rouch. Som de André Lubin. Montagem de Marie- Josèphe Yoyotte e Catherine Dourgnon. Música das orquestras La vie est belle (dirigida por Yapi Joseph Degré), Royale Goumbé e Les deux jumeaux e seus violões. Canções: Modiba Cha Cha Cha (Maryam Touré), Abidjan Lagune (N’Daye Yéro) e Tondi Boumyé (Amadou Demba). Com Oumarou Ganda (Edward G. Robinson), Petit Touré (Eddie Constantine), Alassane Maiga (Tarzan), Amadou Demba (Elite), Seydou Guede (carteiro), Karidyo Daoudou (Petit Jules) e Senhorita Gambi (Dorothy Lamour). Costa do Marfim, França, 1957. 72’)

Os jovens migrantes desempregados, “uma das doenças das cidades africanas”. Trabalhadores nigerianos em Treichville interpretam seu cotidiano. Uma semana de trabalho de um migrante apelidado de Edward G. Robinson: no trabalho, com os amigos, divertindo-se na praia, num jogo de futebol ou numa luta de boxe e paquerando as moças em bares e boates. O som gravado mais tarde num estúdio da Rádio Abidjan com diálogos e monólogos cheios de verve fazem das perambulações de Robinson um apanhado da vida dos pobres em Treichville.

QUARTA | 26 DE FEVEREIRO

17h00 : Jean Rouch como se… (Mosso mosso, Jean Rouch comme si…)

Direção e roteiro: Jean-André Fieschi. Fotografia: Jean-André Fieschi e Gilberto Azevedo. Som: Laurent Malan e Moussa Hamidou. Montagem: Danielle Anezin; Mixagem: Anne Louis e Pascal Rousselle. Música: Laurent Malan, Jocelyn Poulin e Didier Pougheon. Intérpretes: Jean Rouch, Damouré Zika, Tallou Mouzourane. (França, Níger, 1998. 73‘)

Feito para a série de televisão francesa Cinéma de notre temps, este documentário chama de “ficção como se…” o princípio fundamental do trabalho de Rouch. O filme viaja de Paris ao Níger para acompanhar as filmagens imaginárias de La vache merveilleuse, que Rouch finge fazer com seus amigos e cúmplices de sempre, Damouré e Tallou, mas sem Lam, já falecido.

QUINTA | 27 DE FEVEREIRO

17h00 : A caça ao leão com arco (La chasse au lion à l’arc)

de Jean Rouch. Assistentes: Damouré Zika, Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane. Som: Idrissa Meiga, Moussa Hamidou. Montagem: Josée Matarasso, Dov Hoenig. Com: Tahirou Koro, Wangari Moussa, Issiaka Moussa, Yeya Koro, Bellebia Hamadou, Ausseini Dembo, Sidiki Koro, Alii. (Niger, Mali, Burkina Faso, França, 1958-1965. 78‘)

Acesso a portadores de necessidades especiais

Estacionamento gratuito no local

Capacidade da sala: 113 lugares

Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala

O cinema do IMS funciona de terça a domingo.

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Equipe Editorial

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