Nesta matéria falaremos sobre o tabu do orgasmo feminino e como a jornalista francesa Dora Moutot vem tralhando para desmistificar este assunto.
Tudo começou quando um « date » da jornalista disse que a sexualidade feminina era mais complicada e misteriosa. Sendo assim, as mulheres atingiriam o orgasmo de maneira mais cerebral dependendo de uma relação amorosa.
Cansada de ouvir essas falsas ideias atrás das quais os homens se escondem, Dora Moutot criou a conta Instagram T’as joui? (Cê gozou? em português). Em duas semanas, ela já contava com 100.000 seguidores.
Segundo um estudo do Kinsey Institute, as relações sexuais heterossexuais se terminam pelo orgasmo para 85% dos homens, contra 63% para as mulheres. Já nas relações sexuais lésbicas, essa porcentagem sobe para 85% nos deixando uma boa pista de onde pode vir o problema…
Conta de utilidade pública para mulheres e homens, T’as joui? é um espaço que busca liberar a fala das mulheres e mostrar como a nossa sexualidade está marcada pela falta de conhecimento do corpo feminino e de comunicação.
Desde que lançou o perfil, hoje com 174K seguidores, Dora Moutot recebe diversos testemunhos e muitos deles de mulheres que dizem não conseguir atingir o orgasmo ou que chegam lá poucas vezes.
Os casos são os mais variados, mas ninguém está sozinha. Os depoimentos, tirinhas, pesquisas, desenhos e vídeos publicados na conta ajudam as mulheres a se afirmarem e mostram que elas não são « frígidas » e desmente o « elas não gostam de sexo ».
São exatamente essas convicções erradas que levam muitas mulheres a simularem o orgasmo.
Cê gozou? já seria, então, uma falsa questão. Quando existe atenção e cumplicidade suficiente entre o homem e a mulher em uma relação sexual não se é preciso perguntar, sente-se fisicamente.
Por isso, para essa pergunta, Dora Moutot tem uma boa resposta: « estou com cara? ». Simular o orgasmo (muitas vezes para encher o ego dos homens) nos coloca dentro de um círculo vicioso onde todos saem perdendo.
Devido aos códigos patriarcais, as mulheres tendem a afirmar menos a sua sexualidade. Elas se masturbam menos e, no caso da França por exemplo, uma francesa a cada cinco não sabe onde fica o clitóris.
É importante que as mulheres conheçam seus próprios corpos para saber o que lhes da prazer. Longe de querer as culpabilizar, T’as joui? é libertador, funciona mais como um convite às mulheres experienciarem seus corpos.
Por outro lado, essa cultura da masculinidade (a jornalista não se refere aos homens enquanto indivíduos, mas aponta para essa masculinidade tóxica que ainda vemos hoje) repousa na ignorância e no egoísmo.
O fato de as mulheres chegarem ao orgasmo ou não também está diretamente ligado ao desconhecimento técnico que os homens possuem da anatomia feminina. Não por falta de informação disponível: muitos procuram sites pornográficos na internet, mas não fazem o esforço de investigar a realidade do universo feminino.
Desde a abertura de T’as joui? muitos homens entraram em contato com a jornalista com dúvidas e comentários, o que expõe o interesse e conscientização deles. Contudo, Dora Moutot sempre deixou bem claro o seu papel.
A conta não foi criada com o objetivo de dar o passo a passo para uma relação sexual satisfatória dos dois lados, mas para abrir a discussão sobre a sexualidade e o prazer feminino.
Começando pela pergunta de por que as relações sexuais sempre terminam com a ejaculação do homem? Ou, por que chamar de preliminar o que é tão, senão mais, importante que o ato da penetração?
Foi também graças à visibilidade dada por T’as joui, que estudantes brasileiras da escola de engenharia de Caen conseguiram tornar sua justa indignação pública. Em intercâmbio na ENSICAEN, elas receberam uma letra de uma música feita pelos estudantes e que incita o estupro.
Em uma das passagens se diz: « Coloque sua mão no meu freio. Se você resistir, eu te fist. (…) A sodomia te deixa bonita. Bebe álcool para que eu te estupre. Eu te fodo enquanto você dorme. É de manhã você não tem mais vagina. Abre a sua boca para uma segunda camada ».
Apesar da diretoria não ter dado a atenção devida ao problema quando alertada pelas estudantes, ela voltou atrás após a publicação da polêmica no T’as joui?. A escola se mostrou completamente contra essa cultura do estupro.
A discussão aberta por Dora Moutot não deve ficar só em francês. A grande e rápida adesão e interesse pelo conteúdo da conta nos mostra como temos muito o que conversar. A sexualidade feminina ainda é vista por muitos como um assunto difícil e tabu.
O primeiro passo para liberar o gozo das mulheres é colocar o dedo na ferida e liberar a nossa fala sem medo e nem vergonha. O direto ao prazer é de todos.
Descubra o T’as joui? no:
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