Dança

Conheça Mats Ek e Ana Laguna

Em 2016, a imprensa anunciava e lamentava a retirada de Mats Ek não só dos palcos como também das salas de ensaio.

O espetáculo From black to blue no histórico teatro des Champs Elysées em Paris marcaria, então, a primeira parada da turnê de despedida do grande coreógrafo sueco, hoje com 73 anos.

Segundo o jornal francês Le Figaro, Mats Ek retiraria suas obras de repertório das grandes companhias do mundo às quais ele as havia confiado.

Mal entendido ou jogo de marketing, a informação foi logo desmentida pelo próprio coreógrafo. Mats Ek faria apenas uma pausa de dois anos e, se tivesse vontade, retomaria as atividades. Foi o que aconteceu.

Conhecido sobretudo pelas suas reinterpretações dos grandes clássicos de repertório, Mats Ek  é um dos grande nomes da dança contemporânea. Filho de um dos atores fetiches de Ingmar Bergman, Anders Ek, e da bailarina e coreógrafa, Birgit Cullberg, Mats Ek entrou para o mundo da  dança somente aos 27 anos.

Após fazer estudos teatrais, ele passou a integrar o Cullberg Ballet por razões completamente « nepotistas », diz ele, já que quem dirigia a companhia era a sua mãe.

Apesar do seu ingresso nesse meio ter sido facilitado pela família, Mats Ek não tardou a criar suas próprias coreografias e a estabelecer o seu estilo.

Nas suas mãos, a frágil Giselle de Jules Perrot se transforma em uma mulher desequilibrada que acaba no hospício, a princesa Aurora de Marius Petipa, uma viciada em drogas e os tão famosos cisnes são depenados e não tem nada de delicados.

Mats Ek consegue atualizar narrativas e movimentos de uma maneira inesperada e, por vezes, com bastante humor.

Além de revisitar os balés de repertório, ele também coloca em cena situações humanas corriqueiras que se tornam bem mais complexas do que poderíamos imaginar. O que o interessa é a vida.

Mats Ek dirigiu o Cullberg Ballet de 1985 a 1993 e sua decisão de tirar dois anos sabáticos foi uma maneira que ele encontrou de não ter nada à sua espera e de se colocar um pouco fora dessa rotina dos palcos.

Felizmente, ele decidiu não se retirar completamente e já reapresentou alguns de seus trabalhos esse ano e prepara um « Bolero » para a Ópera de Paris.

crédito: Jack Devant

Dois anos de pausa, mas oito longe de São Paulo – quando trouxe em 2010 Três solos e um dueto, com Ana Laguna e Mikhail Baryshnikov. Esse final de semana (dias 20 e 21 de outubro de 2018), Mats Ek volta com Ana Laguna e um novo espetáculo ao Teatro Alfa. Três peças compõem o programa. São elas Memory (2004), Axe (2015) e Old and Door (1991).

 Memory foi originalmente criado para a peça Don Juan, de Molière, em Estocolmo. A coreografia coloca em cena um homem e uma mulher vivendo juntos, mesclando momentos passados com o presente. Fato inédito no Brasil, o próprio Mats Ek sobe em cena e interpreta a peça junto a espanhola Ana Laguna.

Ainda que tenham desenvolvido projetos independentes ao longo de suas carreiras, é impossível dissociar esses dois nomes.

Ana Laguna, grande artista dramática espanhola, entrou para o Cullberg Ballet com 18 anos e teve grande influência no trabalho de Mats Ek – seu futuro marido. Foi para (e com) ela que o coreógrafo concebeu suas mais importantes criações.

Axe, como o título diz, é um dueto construído em torno do ato de cortar a lenha. Enquanto o ex-bailarino do Cullberg Ballet, Yvan Auzely, pega o machado e cumpre essa missão obstinadamente, Ana Laguna vem quebrar o ritmo desse movimento repetitivo e reforçar a violência da ação. Enquanto ela traz uma dança poética e cheia de melancolia, ele nos coloca em um mundo bem real onde se é preciso simplesmente cortar lenha para fazer fogo. Toda essa trama acaba por intensificar a intimidade entre os dois.

Por fim, Old and Door será apresentado pela primeira vez no Brasil. Última colaboração entre Mats Ek e Birgit Cullberg, o filme mostra uma coreografia dele criada especialmente para ela. O vídeo feito em 1991 busca retratar a pioneira da dança moderna na Suécia como intérprete. Mats Ek conta que a realização desse filme foi uma maneira de conhecer melhor a sua mãe, que, apesar de ter 83 anos na época da gravação, estava sempre pronta e disposta a refazer as cenas.

De fato, Mats Ek e Ana Laguna é um espetáculo que celebra « a maturidade e a plenitude daqueles que dominam seu ofício artístico », como descreve o programa do teatro Alfa. Raro são os espetáculos que trazem em cena artistas mais experientes. Contudo, apesar de Mats Ek, Ana Laguna e Yvan Auezly terem respectivamente 73, 63 e 58 anos seria extremamente redutor pensar que a apresentação é um trabalho que trata apenas o tema do envelhecimento. O espetáculo explora as relações humanas vividas na sinceridade de cada gesto e dançados no melhor estilo Ek.

Teatro Alfa

Mats Ek e Ana Laguna

Sábado 20 de outubro, às 20 horas

Domingo 21 de outubro, às 18 horas

Tarifas: R$ 37,50 (plateia superior) e R$ 75 (plateia)

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Marina Mantoan

Formada em Critica e Curadoria de Arte (PUC-SP), mudou-se para Paris para estudar Estética e Filosofia da Arte (Universidade Paris IV - Sorbonne). Fez um master em História e Gestão do Patrimônio Cultural da Universidade Paris 1 Panthéon - Sorbonne. Apaixonada por arte contemporânea e dança, é também uma globetrotter assumida.

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