Em um mês intenso de festival mais inúmeros workshops e apresentações de dança, este ano organizado por Tino Sehgal, com o mote de discutir as relações entre as artes visuais e a dança, apresentaram-se e participaram artistas de todos os lugares do mundo.
A ideia de Tino Sehgal era propor um espaço de encontro para se questionar o cada vez mais popular encontro entre artes visuais e dança. “Hoje em dia, diferente do passado, artistas da dança sonham em se apresentar em museus e com exposições de seus trabalhos” diz Maria Hassabi, coreógrafa que mora em Nova Iorque que conduziu um dos projetos de pesquisa do festival ao lado do galeria belga Jan Mot.
De fato, nos utimos anos vemos os museus mais importantes do mundo colaborando e co-produzindo trabalhos de dança e performance mais do que nunca. Num mundo da arte que está cada vez mais preocupado com os likes e os shares, curtidas e compartilhamentos, as performances aumentam o dinamismo e por consequência o publico das instituições.
O festival tomou conta da cidade entre julho e agosto esteve questionando os modos de produção que se encaixam nessa transição caixa preta/cubo branco. Seus principais espetáculos são duas produções europeias que questionam o privilégio branco, o capitalismo e o público em intensas performances que colocam os seus valores a prova a todo o tempo.
Em “BODY+FREEDOM” Holzinger / Lange / Machaz / Riebeek / Scheiwiller propõe um sinistro programa de auditório onde sexualidade, corpo e liberdade são levados aos seus estados mais cooptados pelo capitalismo. Pornografia, punimento, transfiguração, poder, exposição. O grupo age como se pudessem fazer o que quisessem com quem quisessem a qualquer custo a todo momento. Desde o começo é informado que a participação do público é indispensável, mesmo que seja se retirar do espetáculo. A todo momento o grupo te coloca frente a frente com situações que te fazem repensar ao que você se submete e como se submete num mundo que está corrompido pelos valores de poucos que, ainda, impedem outros modos de vida.
Mårten Spångberg, coreógrafo estrela do mundo da dança, apresenta o espetáculo “La substance, but in English” cuja estréia foi realizada no MoMA em Nova Iorque. Um paredão de ouro e prata e lenços Chanel, Louis Vuitton, etc… faz o pano de fundo para um performance regada aos hits mais recentes e cativantes da cultura pop americana recente. Os performers realizam experimentos copiados dos vídeos mais toscos do youtube e em câmera lenta se movimentam e realizam passos de dança contemporânea de vez em quando. O espetáculo também conta com uma parede em branco para que o público possa desenhar e pichar durante as 4 horas de duração. Aqui você pode ir e vir, cantar e dançar e ver tudo o que você faz em casa dentro do seu quarto quando está bodiado ou amando a vida. É maravilhoso, tudo passa e você tem o poder de escolher tudo o que quer fazer e quando quer fazer e o que quer fazer. O mais interessante é que o coreógrafo coloca essas questões colidirem, falharem, produzirem efeitos inesperados. Spangberg mostra que produto, circulação e liberdade postos lado a lado causam uma espécie de poder que mais se assemelha com a impotência. O poder no mundo de “La Substance, but in English” é uma qualidade que te impede medir as consequências e te faz produto, me lembro da famosa frase que vive solta pela internet: se
você não está pagando, você é o produto e não o consumidor.
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