O Laboratório Siameses estreia em setembro o primeiro espetáculo de Corpos Octópodes, projeto contemplado pelo 29º edital de Fomento à Dança de São Paulo.
Intitulado Da Natureza da Besta, o solo de dança firma a volta aos palcos de Maurício de Oliveira após sete anos afastado e transita entre diferentes linguagens artísticas, trazendo à tona a reflexão de um artista negro e vivente de um tempo que urge por um futuro regido pela vida, não pela sobrevivência.
Para a montagem do primeiro capítulo da trilogia Corpos Octópodes, o Laboratório Siameses convidou um time de peso. A direção é assinada por Ester Laccava, que possui um trabalho de mais de vinte anos com processos de construção dramatúrgica e pesquisa autobiográfica e foi responsável por peças de sucesso como A Árvore Seca e Sagrada Família.
“O convite do Maurício e do Tono para dirigir e criar um espetáculo solo no meio de uma pandemia, com os sentimentos à flor da pele, com uma gama de sensações jamais sentidas antes, fez com que eu “desembestasse” em um campo onde as paisagens se misturam e se confundem entre a máxima délfica “lutar, lutar e lutar” e a máxima contemporânea de Ailton Krenak: “estamos numa dança cósmica e não deveríamos negociar a sobrevivência””, comenta a atriz e diretora.
Da Natureza da Besta é também sobre a libertação que acompanha o “desembestar”. “A besta, a natureza dela, é a falta de limites, a falta de inteligência, e já que a sensação atual é que somos um rebanho, precisamos urgentemente desembestar. Criar consciência dos limites para reconhecer a falta deles e não mais negociar a sobrevivência, viver por direito a vida boa”, observa Laccava.
No palco, Oliveira é um soldado numa guerra, ora desesperado na fuga de um ataque, ora completamente vivo em suas memórias e registros até então, ora esmagado pela dor e cansaço de uma luta interminável, ora somente o homem que anseia por liberdade, por poesia, por prazer.
“Nesse momento atual de vida, me sinto mais flexível e mais liberto por ter ultrapassado uma série de barreiras e também por ter abandonado imagens antigas de mim mesmo”, comenta Maurício. Ele finaliza dizendo que “isso me tornou mais curioso e mais amplo, me permitindo desembestar em direção a coisas que me despertavam interesse, como a música e o teatro, mas que ficavam para trás”.
Outros grandes nomes fazem parte da obra, como a light artist Mirella Brandi, responsável pelas influências da luz no espetáculo, o musicista Muepetmo, que explora a interação entre luz cênica e ambientes sonoros, e o artista visual e designer Ronaldo Fraga, que assume a pesquisa e criação de figurino da obra.
O projeto ainda engloba outras duas obras inéditas – Moscas de Fogo e Nas bordas daquilo que se fura -, previstas também para o segundo semestre, mas ainda sem datas definidas. A série de encontros Convergências e aulas de preparação corporal voltadas para o público geral, com direção artística de Maurício de Oliveira e direção geral de Clayton Santos Guimarães (Tono), também compõem o plano anual do Siameses.
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