O que é o feminismo?
Definição
Feminismo é um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e filosofias que têm como objetivo comum: direitos iguais e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcais, baseados em normas de gênero.
Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias que advogam pela igualdade entre homens e mulheres, além de promover os direitos das mulheres e seus interesses.
A história do feminismo
De acordo com Maggie Humm e Rebecca Walker, a história do feminismo pode ser dividida em três “ondas”.
A primeira onda
A primeira onda do feminismo refere-se a um período de atividade feminista durante o século XIX e início do século XX em todo o mundo, em particular em países como França, Reino Unido, Canadá, Países Baixos e Estados Unidos. Este movimento debruçou-se sobre questões jurídicas, principalmente na conquista do direito ao voto feminino (o direito de voto).
O feminismo tem sua origem no século XVIII, especificamente no Iluminismo, neste movimento cultural e filosófico houve uma controvérsia sobre a igualdade e as diferenças de gênero. Na época surgiu um novo discurso crítico que utilizou as categorias universais desta filosofia política. O movimento do Iluminismo, portanto, não era feminista em suas raízes.
Obras em Destaque
As origens políticas do feminismo vieram da Revolução Francesa (1789). Este evento elevou a igualdade jurídica, as liberdades e os direitos políticos como seus objetivos centrais, mas logo veio a grande contradição que marcou a luta adiantada do feminismo: as liberdades, os direitos e a igualdade legal que foram as grandes conquistas das revoluções liberais não afetaram as mulheres.
A teoria política de Rousseau projetou a exclusão das mulheres do campo da propriedade e dos direitos. Assim, na Revolução Francesa, a voz das mulheres começou a se expressar coletivamente.
O termo “primeira onda” foi cunhado em março de 1968 por Martha Lear ao escrever na The New York Times Magazine, que ao mesmo tempo também usou o termo “segunda onda do feminismo”.
Na época, o movimento de mulheres lutava contra as desigualdades enfrentadas de facto pelas mulheres, uma forma de distinguir-se dos objetivos das feministas anteriores.
A Segunda onda
A segunda onda do feminismo é um período de atividade feminista que começou na década de 1960 nos Estados Unidos e eventualmente se espalhou por todo o mundo ocidental e além. Nos Estados Unidos, o movimento durou até o início da década de 1980. Mais tarde, tornou-se um movimento mundial que era forte na Europa e em partes da Ásia, como Turquia e Israel, onde começou na década de 1980. O movimento começou outras vezes em outros países.
Enquanto a primeira onda do feminismo era focada principalmente no sufrágio e na derrubada de obstáculos legais à igualdade de gênero (ou seja, direito ao voto e direitos de propriedade), a segunda onda do feminismo ampliou o debate para uma ampla gama de questões: sexualidade, família, mercado de trabalho, direitos reprodutivos, desigualdades de facto e desigualdades legais.
Em uma época em que as mulheres alcançaram grandes avanços nas profissões, nos militares, nos meios de comunicação e nos esportes, em grande parte por conta do ativismo da segunda onda feminista, este movimento também chamava a atenção para a violência doméstica e problemas de estupro conjugal, além de lutar pela criação de abrigos para mulheres maltratadas e por mudanças nas leis de custódia e divórcio.
Muitas historiadoras veem o fim da segunda onda feminista nos Estados Unidos no início dos anos 1980, com as disputas intra-feministas sobre temas como sexualidade e pornografia, que inaugurou a era da terceira onda do feminismo, no início da década de 1990.[
A terceira onda
A terceira onda do feminismo começou no início da década de 1990, como uma resposta às supostas falhas da segunda onda, e também como uma retaliação a iniciativas e movimentos criados pela segunda onda.
O feminismo da terceira onda visa desafiar ou evitar aquilo que vê como as definições essencialistas da feminilidade feitas pela segunda onda que colocaria ênfase demais nas experiências das mulheres brancas de classe média-alta e é a percepção de que as mulheres são de “muitas cores, etnias, nacionalidades, religiões, e origens culturais “.
Uma interpretação pós-estruturalista do gênero e da sexualidade é central à maior parte da ideologia da terceira onda. As feministas da terceira onda frequentemente enfatizam a “micropolítica”, e desafiam os paradigmas da segunda onda sobre o que é e o que não é bom para as mulheres.
A terceira onda teve sua origem no meio da década de 1980; líderes feministas com raízes na segunda onda, como Gloria Anzaldua, bell hooks, Cherrie Moraga, Audre Lorde, Maxine Hong Kingston, e diversas outras feministas negras, procuraram negociar um espaço dentro da esfera feminista para a consideração de subjetividades relacionadas à raça.
Esta onda do feminismo expande os temas feministas para incluir um grupo diversificado de mulheres com um conjunto de identidades variadas. Rebecca Walker cunhou o termo “terceira onda do feminismo” em um ensaio de 1992. Tem sido proposto que Walker tornou-se um símbolo do foco da terceira na onda no queer e mulheres não-brancas.
Feministas da terceira onda ampliaram seus objetivos, com foco em ideias como a teoria queer, e abolindo expectativas e estereótipos baseados em gêneros.
Ao contrário da posição determinada de feministas da segunda onda sobre as mulheres na pornografia, trabalho sexual e prostituição, feministas da terceira onda são bastante ambígua e divididas sobre estes temas (guerras sexuais feministas).[ Outro debate é causado pelo chamado feminismo da diferença, cujo importante expoente é a psicóloga Carol Gilligan, defende que há importantes diferenças entre os sexos, enquanto outras vertentes creem não haver diferenças inerentes entre homens e mulheres defendendo que os papéis atribuídos a cada gênero instauram socialmente a diferença.
O feminismo alterou principalmente as perspectivas predominantes em diversas áreas da sociedade ocidental, que vão da cultura ao direito. As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais das mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos ao voto), pelo direito da mulher à sua autonomia e à integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos (incluindo o acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio sexual e o estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-maternidade e salários iguais, e todas as outras formas de discriminação.
Durante grande parte de sua história, a maioria dos movimentos e teorias feministas tiveram líderes que eram principalmente mulheres brancas de classe média, da Europa Ocidental e da América do Norte.
No entanto, desde pelo menos o discurso de Sojourner Truth, feito em 1851, às feministas dos Estados Unidos, mulheres de outras etnias e origens sociais propuseram formas alternativas de feminismo.
Esta tendência foi acelerada na década de 1960, com o movimento pelos direitos civis que surgiu nos Estados Unidos e o colapso do colonialismo europeu na África, no Caribe e em partes da América Latina e do Sudeste Asiático.
Desde então as mulheres nas antigas colônias europeias e nos países em desenvolvimento propuseram feminismos “pós-coloniais”- nas quais algumas postulantes, como Chandra Talpade Mohanty, criticam o feminismo tradicional ocidental como sendo etnocêntrico. Feministas negras, como Angela Davis e Alice Walker, compartilham este ponto de vista.
Desde a década de 1980, as feministas argumentaram que o movimento deveria examinar como a experiência da mulher com a desigualdade se relaciona ao racismo, à homofobia, ao classismo e à colonização.
No fim da década e início da década seguinte as feministas ditas pós-modernas argumentaram que os papéis sociais dos gêneros seriam construídos socialmente, e que seria impossível generalizar as experiências das mulheres por todas as suas culturas e histórias.
As novas gerações e feminismo
O Riot grrrl
é um movimento “punk feminista underground” que teve inicio no inicio da década de 1990 em Washington, Estados Unidos (particularmente na cidade de Olympia) e no Noroeste Pacífico como um todo.
É um movimento de subcultura que combina uma visão social feminista com um estilo musical e politica punk. É frequentemente associado com a terceira onda do feminismo, sendo a terceira onda as vezes descrita como tendo nascido do movimento Riot Grrrl.
Tem sido também descrito como um gênero musical que nasceu do indie rock, com a cena punk servindo de inspiração para um movimento musical em que mulheres poderiam se expressar da mesma maneira que homens faziam há anos.
Os defensores da terceira onda do feminismo afirmam que ela permite que as mulheres definam o feminismo para si, incorporando suas próprias identidades no sistema de crenças que é o feminismo e que ele pode se transformar através da própria perspectiva.
Na introdução à ideia do feminismo da terceira onda em Manifesta, autoras como Jennifer Baumgardner e Amy Richards sugerem que o feminismo pode mudar em cada geração e indivíduo.
Veja o manifesto aqui
O feminismo no Brasil
Nos primeiros anos do século XXI, as feministas brasileiras comemoraram como uma vitória a revogação do artigo do Código Penal que tratava do crime de “estupro”, uma vez que neste disposto havia a expressão “mulher honesta”, considerada ofensiva pelo movimento feminista.
Mais recentemente, acentuou-se a indisposição contra a música “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, em cuja letra o autor compara sua atual mulher com a solidária Amélia, que, nos versos, “era uma mulher de verdade, não tinha a menor vaidade, e que passava fome ao lado do parceiro sem reclamar”.
Muitas feministas consideram essa música uma ofensa à liberdade da mulher e concebem a Amélia como uma mulher submissa, que não tem vontade coisa nenhuma.
O movimento feminista atualmente tem como bandeiras principais, no Brasil, o combate à violência doméstica, que atinge níveis elevados no país; o combate à discriminação no trabalho.
Também se dá importância ao estudo de gênero e da contribuição, até hoje um tanto esquecida, das mulheres nos diversos movimentos históricos e culturais do país. A legalização do aborto (que atualmente só é permitido em condições excepcionais) e a adoção de estilos de vida independente são metas de alguns grupos.