Ricardo Siri (Rio de Janeiro, 1974) é um artista sonoro e visual que transita entre escultura, música, instalação, fotografia e vídeo.
Artista múltiplo, dono de uma estética com elementos que vão do surrealismo ao neoconcretismo e arte imersiva, sua obra une arte e vida, onde sons e objetos são carregados de conceito, forma, experiência e sonoridade.
Percussionista formado na Los Angeles Music Academy (EUA), em 2007 adentrou o universo das artes visuais, incorporando na sua poética elementos de sua experiência musical combinados a materiais orgânicos e do cotidiano.
Quando perguntado sobre suas inspirações para mergulhar no universo da arte:
“Vivo no mundo da arte desde sempre. Vejo arte em tudo. A música caiu no meu colo na infância e ainda adolescente percebi que poderia viver de arte.
Namorei e casei com a artista Deborah Engel, que frequentou ainda nos anos 2000 a EAV, escola de artes visuais do Parque Lage. Nos casamos e montamos uma casa / ateliê /estúdio onde passamos o dia pensando e produzindo arte 24h por dia.
Conheci muita gente e as possibilidades artísticas aumentavam. Minha música foi ficando mais performática e o palco havia ficado pequeno.
Comecei a explorar outros meios.
É daí que vem minha inspiração. Desde o disco ultrassom que é sobre o nascimento da minha filha Clara, às exposições que falam sobre natureza, instrumentos e vida”.
Por fim, quanto aos seus objetivos, Siri opta por se ater ao presente. “Prefiro estar vivendo o presente e ser pleno no momento. Acho que assim consigo ser amigo do tempo. Se tiver um objetivo para mirar e acertar, é ser feliz”, conclui o artista.
Na série “Aglomerados”, Ricardo disponibiliza 4 caixas de abelha que visam traçar um paralelo entre a nossa sociedade a sociedade das abelhas.
Criador de abelhas em seu Ateliê, Siri aponta que a individualidade das abelhas é colocada de lado. Na verdade, tem-se um conjunto de indivíduos que forma um certo organismo e esse organismo busca um objetivo.
Dentro de cada caixa, o artista inseriu uma fotografia que retratava algum tipo de aglomeração: culto religioso, evento esportivo, reunião política e protestos civis. Através de um tratamento digital, Siri distorceu as fotos “apagando” as individualidades nas multidões. Seu foco está no coletivo.
Para ter acesso a essas imagens distorcidas, o artista colocou no orifício por onde as abelhas entram nas caixas, um olho mágico. O olho mágico, portanto, é um convite ao expectador para um novo olhar, uma descoberta, um olhar magico, de esperança coletiva.
A partir de objetos domésticos apanhados no quintal de seu ateliê, em Santa Tereza (Rio de Janeiro), Siri moldou uma escultura de materiais orgânicos, como penas de galinha e galhos, sob uma estrutura de barro e cera de abelha.
Ele construiu, assim, Casulo 01, um objeto mítico, entre um elmo e uma máscara, numa expressividade latente que tira da arte o elemento meramente contemplativo, para se inserir ativamente nos discursos de enfrentamento da contemporaneidade.
Nessa instalação, composta por uma sequência de ninhos habitáveis feitos de galhos, folhagens e barro, Siri realiza performances sonoras.
Essa série “Ninhos”, atualiza os pressupostos do movimento neoconcreto, como instaurados por Helio Oiticica e Lygia Clark: situar a obra de arte em um novo contexto de espaço e tempo, inserindo-a no mundo e estabelecendo uma relação física com o espectador.
Entretanto, a obra de Ricardo faz o contrário. Ela insere o “mundo” no espaço de arte, em que o espectador se abriga em uma experiência multissensorial.
Com os ninhos, o artista propõe o retorno a um estado de natureza em que a arte, a partir de elementos orgânicos e sensoriais, despe-se da linguagem e mantém com o público uma relação primordial.
Siri provoca com seu trabalho uma relação imediata com o espectador / ouvinte através de uma linguagem comum e do acolhimento proporcionado pelas obras, como no caso das imersões sonoras e dos habitáveis e ninhos.
Seu projeto une arte e vida: é a partir de sua casa / ateliê que se depara com elementos e materiais que farão parte do seu processo produtivo, como vimos nas obras acima.
E a partir disso, produz obras que, para além da matéria estabelecem uma conexão “cósmica” com o universo e o público.
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