Ensaio

Cigarros, músicas e mentiras

Por Equipe Editorial - julho 5, 2019
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“Nenhum poeta deveria escrever sem que primeiro, a tinta temperasse nos suspiros do amor”
Lord Byron

Um texto de Cauê Nessin

Você já deve ter percebido que faz de tudo para se camuflar em meio à multidão. Já deve ter notado que fuma o mesmo tipo de cigarro que seus amigos; escuta as mesmas músicas e consome os mesmos filmes que eles. Você está tentando seguir o fluxo e caminhar na mesma direção que uma parte da multidão, a parte que julgou ser melhor do que o resto.

Mas o que aconteceria se um dia você acordasse e percebesse que todos estão errados? Que todos estão seguindo rumo ao inferno e você, por tanto tentar fazer parte disto, é quem os está guiando até o fim deste caminho? Quão decepcionante seria descobrir que o inferno é tudo que você sempre imaginou e mais um pouco?

Um lugar de imenso vazio existencial, solidão, dor, choro e ranger de dentes. Um lugar que, embora tenha sido criado sob medida para te receber, você não é bem vindo e jamais será. Um lugar desagradável no qual você está condenado a passar tempo o suficiente para enlouquecer.

“A maioria dos escritores vive aqui” ela disse. Apesar da mentira ser o seu maior talento, essa é uma “verdade” que vale a pena desconfiar. Afinal, você não quer passar a eternidade no lugar errado apenas por não ter entendido as coisas direito.

Este mundo é solitário e não foi criado para servir aos seus propósitos, tampouco lhe trazer uma vida prazerosa e momentos de glória. Este mundo existe apenas pelo simples fato de existir e a sua maldição é ter nascido com o dom de conhecer verdades que a maioria das pessoas não se importa em saber ou se recusa a saber. Sua maldição é não ter escolha.

Sua maldição é conhecer os segredos mais mórbidos e sórdidos da existência até que seu tempo chegue ao fim. Aprender a conviver com isso é um problema único e exclusivo que lhe foi designado, pois o universo julga que você tem maturidade para aguentar. Se você é capaz, ou não, de aguentar as verdades que são despejadas diante de seus olhos, é um fardo que apenas você pode carregar.

Você foi condenado a conhecer os segredos mais belos e sombrios da humanidade sem ter a capacidade de compartilhá-los. Você escolheu sentir o mundo e a vida de forma mais intensa que o resto das pessoas. Você escolheu sabedoria ao invés de riquezas e é isso que você terá nessa vida. Faça bom proveito.

Mas pense pelo lado positivo: você fuma o mesmo tipo de cigarro que seus amigos, gosta das mesmas músicas e filmes e acredita nas mesmas mentiras. Sua estadia por aqui pode não ser tão solitária quanto você pensa. Como você adora dizer “tudo depende do ponto de vista do observador”.

A única certeza que há é que todos mentem a si mesmos. Alguns estão desperdiçando o pouco tempo que lhes resta acreditando em mentiras contadas por povos mais antigos. Outros estão sendo ludibriados pelas mentiras que criaram para tornar a própria existência menos dolorosa.

Você está no meio disso tudo sem saber no que acreditar. Você está no meio disso tudo tentando não enlouquecer durante o pouco tempo que lhe resta. Pelo menos você ainda tem a companhia de seus cigarros, músicas e mentiras confortáveis. É uma pena que elas já não fazem mais tanto efeito, não é mesmo?

01/05/19

Cauê Nessin

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