Baltimore, Maryland
MORTO VIVO [Afonso Celso] Mais pavoroso fado Não sonha a fantasia; Por morto ser tomado Alguém que inda vivia; Sentindo-se gelado Do susto na agonia, No féretro pregado Baixar à terra fria! Mas oh! inda é mais triste (Porém eu sou altivo, Não peço compaixão!) Sentir que o corpo existe Mas é sepulcro vivo De um morto coração.
Barcelona
Minha alma é uma casa abandonada,
por cujos tenebrosos corredores
volteia a ronda volatilizada
dos espectros de mortos moradores.
Um dia esta mansão mal-assombrada,
afugentando a treva e seus horrores,
entraste, — alegre aparição alada, —
num explodir de claridade e olores;
mas de pronto fugiste, e hoje, silente,
esconde a velha casa à luz do dia
as mesmas sombras, que volteiam juntas.
Ah! Terei de guardar eternamente
na solidão desta alma escura e fria
estas saudades de ilusões defuntas!
CONTO TÉTRICO [Glauco Mattoso] Enorme e abandonado, o casarão rumores de assombrado já desperta! Tesouro esconderá também, na certa! À noite aventurar muitos lá vão. Armado de garrucha e mosquetão, um padre ali pernoita e põe-se alerta. Ulula o vento, range a porta aberta; em cada fresta espreita a aparição! Tomado de pavor, o padre brada “Em nome do Senhor! Quem vem aí?”, enquanto ecoam passos pela escada. Caipora, corpo-seco, ogre ou saci… O que o matou? Versão desencontrada… Dos sustos cada um cuide por si…
Zona sul de São Paulo
SONETO 579 HORRORIZADO [Glauco Mattoso] À noite a rua é calma, e em cada porta a tranca está passada. Algo se esgueira no escuro e, inda que humana alguém crer queira, aquela criatura estranha é morta! O corpo é descarnado; a espinha é torta; os pés são lodo; o rosto é uma caveira! Exala em torno o odor de podriqueira e seu roufenho arfar o ar mudo corta. Num quarto, o penitente mortifica o espírito e castigo aos céus implora: renega a vida mórbida e impudica. Ouve que a porta raspa a mão por fora. Hesita, e por fim abre; o monstro estica o braço, o agarra e os olhos lhe devora!
Milão, Italia
TERROR [Luís Delfino] Quando vejo o teu corpo doentio Tremer, como haste branda a vento forte, Amortalha-me um hirto calafrio, Como se me tocasse a asa da morte. Um pensamento lôbrego e sombrio De alguém, que o doce e tênue fio corte De tua vida, assalta-me; mas rio, Pensando que hei de ter a mesma sorte. Tu não podes descer à sepultura, Sem que leves as horas de ventura, Que em ti achou minha alma, um vasto arneiro. Em teu trespasse, pois, quando tu fores, Morram os sóis no céu, no campo as flores... E, olha, espera, até logo, eu vou primeiro...
Genoa, Italy
OS OLHOS DA MORTE [Martins Fontes] A impressão já guardaste, de estranheza, Já tiveste a memória da agonia, Vendo uma luz qualquer, durante o dia, Que, às vezes, fica, por descuido, acesa? Causa-nos mal-estar, dando surpresa, Uma alâmpada, a arder, serena e fria: Enquanto o sol fortíssimo irradia, Mete medo esse olhar, pela tristeza. O ouro é fúnebre e fosco. Sem viveza, A imóvel chama esbate-se, e, sombria, Vela de crepe a imagem da beleza. Fogo-fátuo que as campas alumia, Essa impassível, gélida clareza, Vem dos olhos da Morte: ela vigia.
Paris
EXUMAÇÃO [Nelo Assunção] Quando me vires num caixão dourado, Lentamente a caminho do jazigo, Hás de dizer chorando, assim contigo: — "Aí vai o corpo do meu bem amado". Quando em visita ao derradeiro abrigo, Onde estarei, por certo descansado, Reza a Deus à lembrança do passado, Que antecipadamente eu te bendigo. Depois de muitos anos, exumado, Hão de voltar um dia ao desabrigo Os restos do infeliz abandonado. Nesse dia, verás, como castigo, Surgir destes meus ossos, abraçado, O teu retrato, que levei comigo.
Cleveland, Ohio
PESADELO [Raimundo Correia] Penetro a estância fúnebre e sombria, Extremo leito da mulher amada; E ergo a loisa que a cobre — despojada De toda a graça ideal que a revestia: Da beleza, onde um casto amor sorria, Pudica e doce, nada resta, nada! Nua de carnes, só a branca ossada, Que apalpo e sinto fria, fria, fria... E, o sono seu eterno interrompendo, Clamo... Da noite o vento álgido corta, Cai neve e é gélido o esplendor da lua... Então, a erguer-se, pávida, tremendo De frio e com pudor, me diz a "morta": "Cobre-me! Há tanto frio e estou tão nua!"
Mt. Koya, Japão
Tomino's Hell (ALERTA DE MALDIÇÃO NÃO LEIA EM VOZ ALTA)
A velha irmã vomita sangue, a jovem irmã cospe fogo.
Doce Tomino cospe joias preciosas.
Tomino morreu sozinha e caiu no inferno.
Inferno, escuridão, sem flores.
É a irmã mais velha de Tomino que a açoita?
O número de vergões vermelhos é preocupante.
Açoitando e batendo e espancando,
O caminho para o inferno eterno é a única via.
Implore por orientação na escuridão do inferno.
Da ovelha dourada, ao rouxinol.
Quanto falta na bolsa de couro,
Prepare para a jornada infindável no inferno.
Primavera vem e nos bosques e vales,
Sete voltas no vale sombrio do inferno.
Há um rouxinol na gaiola, no carrinho uma ovelha,
Nos olhos da doce Tomino há lagrimas.
Choro, rouxinol, para os bosques e a chuva
Expressando seu amor por sua irmã.
O eco do seu choro uiva pelo inferno,
E uma flor vermelho-sangue desabrocha.
Pelas sete montanhas e vales do inferno,
Doce Tomino viaja sozinha.
Para receber você no inferno,
As estacas brilhantes da montanha espinhada
Fresco espeto perfura na carne,
Como um sinal para a doce Tomino.
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