A Caixa Cultural Salvador apresenta, a partir da próxima sexta-feira (20), a exposição “ALÁGBEDÉ” – Retrospectiva José Adário dos Santos, ferreiro conhecido como Zé Diabo, que se dedica há mais de 60 anos ao ofício da produção de ferramentas de orixás. A mostra reúne um acervo com mais de 60 peças, entre fotografias, documentos, artefatos e instrumentos produzidos pelo artista. Ele é um dos últimos descendentes com conhecimento ancestral de forjar o ferro para a arte sacra, utilizando técnica tradicional vinda de África.
Com entrada gratuita, a exposição pode ser visitada até o dia 3 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 17h30. Além da apresentação, o público poderá participar de visitas guiadas, com saída da CAIXA Cultural, passando pela histórica Ladeira da Conceição da Praia, até o arco onde funciona a oficina de trabalho de Zé Diabo. As visitas acontecerão todas as sextas-feiras (a partir de 27/10), às 9h30, com participação da equipe da exposição e da pesquisadora Cibele Bonfim.
A mostra das peças produzidas também apresenta elementos que narram a trajetória de Zé Diabo, transportando o espectador para o universo em volta do ferreiro amplamente conhecido em todos os terreiros da Bahia. “Estou muito feliz que o meu trabalho está sendo mostrado na minha cidade, perto da ladeira onde aprendi o ofício com meu mestre. Aqui meu povo candomblé, minha família, amigos, poderão visitar e conhecer mais sobre o meu trabalho”, conta o artista.
Atrelada aos conhecimentos do candomblé na produção das ferramentas de orixá, a técnica evidencia a relevância do trabalho de Zé Diabo ao longo dos anos, permitindo seu reconhecimento como artista e destaque nacional e internacional pela sua obra.
A exposição na CAIXA Cultural também exibirá, de forma permanente, o curta-metragem “Alágbedé”, dirigido pela cineasta baiana Safira Moreira. O filme apresenta o processo de Zé Diabo na produção das ferramentas de orixá, enquanto reocupa o seu arco recém reformado na Ladeira da Conceição da Praia.
A mostra “ALÁGBEDÉ” é resultado da convivência de quatro anos da curadora Alana Silveira com Zé Diabo. Nesse tempo, ela resgatou objetos antigos, alguns com mais de 30 anos, catalogou cadernos de esboços das ferramentas, mapeou fotógrafos que registraram seus trabalhos e realizou pesquisa de instituições e coleções que possuem obras do ferreiro. “A obra de seu Zé, além de questões estéticas e históricas, é permeada por um conhecimento ancestral do candomblé. Ele só trabalha com ferro e, por isso, só faz ferramentas dos orixás que possuem esse metal como elemento: Exu (por onde sempre se começa), Ogum, Oxóssi, Ossain, Oxumarê e Obaluaê.”, explica.
A escolha das ferramentas e disposições expográficas foram pensadas a partir dos conhecimentos religiosos compartilhados por seu Zé, que participou ativamente do processo de direcionamento do que será exibido. “A arte e o ofício não se separam na trajetória de Zé Diabo. As ferramentas de santo operam, no candomblé, uma espécie de mediação/conexão entre os seres humanos”, detalha Alana.
Os antropólogos Bárbara Cruz e Lucas Marques, estudiosos das religiões de matriz africana e pesquisadores da mostra, também acompanham José Adário há mais de 10 anos. Eles desenvolvem um trabalho de valorização, proteção e memória do fazer da obra do artista um trabalho de pesquisa contínuo e de fundamental importância na concepção da mostra.
As esculturas de José Adário integram o acervo do Museu Afro Brasil (São Paulo) e já circularam em exposições como “Alágbedé – O Ferreiro dos Orixás”, Arco 26, Salvador (2021); “A Cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, Museu Afro Brasil, São Paulo (2019), “Axé Bahia: the power of art in an Afro-Brazilian metropolis”, Fowler Museum, Califórnia (2018), Afrikanische Religiosität in Brasilien; Kunst und Afro-Brasilidad, Frankfurter Kunstverein, Frankfurt (1994).
Inaugurada em 1999, a CAIXA Cultural Salvador encontra-se instalada na Antiga Casa de Oração dos Jesuítas, imóvel do século XVII tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, restaurado integralmente pela CAIXA.
Situada nas imediações do Pelourinho, tem como vizinhos o Museu de Arte Sacra e o Mosteiro de São Bento. O prédio conta com três pavimentos, onde encontram-se as galerias, além do pátio externo situado no fundo do prédio. A CAIXA Cultural Salvador investe em acessibilidade, com oferta de piso tátil, elevador, rampas, banheiro adaptado, mediações bilingues (português e libras) e audiodescrição em mostras de artes visuais.
“ALÁGBEDÉ – Retrospectiva José Adário dos Santos”
Local: CAIXA Cultural Salvador
Endereço: Rua Carlos Gomes, 57 – Centro
Datas: De 20 de outubro a 03 de dezembro (visitação de terça a domingo)
Horários: Das 9h às 17h30
Entrada Gratuita
Acesso para pessoas com deficiência
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