Exposições e Eventos

Conheça as artistas da 10ª edição do CURA – Circuito Urbano de Arte, em BH

Festival tem line up exclusivamente feminino e acontece entre 24/10 e 03/11 em Belo Horizonte pela 8ª vez

Por Equipe Editorial - outubro 21, 2024
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O CURA – Circuito Urbano de Arte, acontece em Belo Horizonte e está em sua 10ª edição. Direcionar o olhar para as comunidades, para o que inventam e para a capacidade de promover a permanência, não no sentido de se estacionar no tempo, mas na condição de prover sentidos de vida, é o movimento do evento.

Com curadoria de Flaviana Lasan, Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni —, esse ano o festival conta, pela primeira vez, como uma programação composta exclusivamente por mulheres. A artista belo-horizontina Clara Valente é a anfitriã da vez e recebe a artista indígena Liça Pataxoop, educadora e liderança da aldeia Muã Mimatxi, em Itapecerica (MG) e Bahati Simoens, artista nascida no Burundi, com descendência congolesa e belga e hoje radicada na África do Sul. Essa edição conta ainda com uma instalação brincante concebida pela arquiteta Isabel Brant, da Mutabile Arquitetura.

Sobre as artistas da 10ª edição do CURA

Liça Pataxoop
Edifício Leblon (Av. Amazonas, 1054)

“O Tempo Grande das Águas é o primeiro tempo do mundo. É o tempo do começo de todas as coisas, todas as histórias. É o tempo da inteligência, da sabedoria e do conhecimento. É o tempo da grande água que deu origem ao nosso povo Pataxoop”. Assim explica Liça Pataxoop sobre como nomeou a obra que irá realizar no CURA, no Edifício Leblon (Av. Amazonas, 1054).

CURA - Circuito Urbano de Arte
Liça Pataxoop

Educadora e liderança da aldeia indígena Muã Mimatxi (Itapecerica, Minas Gerais), ela escolheu Hãm kuna’ã xeka (O Grande Tempo das Águas) para falar do tempo em que os Pataxoop fazem um grande ritual para celebrar a vida e agradecer, com oferendas à mãe terra: sementes, frutas, o que dá alimento. Ela conta que é o tempo do entendimento, onde cada ser foi formado como ele é. “Não tem ninguém igual a ninguém. Tem parecido. Cada um com a sua história, o seu lugar e o seu jeito de viver”.

As obras de Liça se fazem com a metodologia dos tehêys, um instrumento de pesca que ganhou outros sentidos e se transformou em um método de ensino praticado nas aldeias. Símbolo dos Pataxoop, os tehêys são como redes, armadilhas tecidas com corda de tucum e cipó, utilizados especialmente pelas mulheres e crianças pescarem nos rios. Quando se “terreia”, a água abaixa e ficam os peixes, o alimento.

Na escola, o tehêy é utilizado para a pesca de conhecimento. Como professora, Liça trabalha para manter viva a língua ancestral Pataxoop e a tradição de seu povo. Utiliza dos tehêys de conhecimento, livros vivos que carregam desenhos-narrativos, para ensinar as crianças sobre território, memória e a vida dos indígenas Pataxoop. Em grandes painéis em desenho, que ela chama de painéis de terreiro, ela desenha toda a comunidade, a aldeia e suas histórias, práticas, elementos da vida Pataxoop.

Na Raul Soares, o Edifício Leblon será transformado em um grande tehêy, com seres vivos, flores, mata, rio e pedras. Liça vai oferecer à cidade uma pesca de conhecimento, uma possibilidade de aprender sobre a vida a partir do que se vive. “Se você derruba a natureza, espera que, mais cedo ou mais tarde, ela te derrubará, sempre e sempre. Tem vento que a gente se aquieta, não fala nada, só reza com o coração. Tem vento que a gente canta, ele vem brando, refrescando e sombreando a terra, indicando que a gente precisa fazer ritual para as sementes, para ouvir suas palavras que vem da terra, das grandes matas, dos animais e do seu espalhar”, conta.

Clara Valente
Edifício Claro (Rua Espírito Santo, 1.000)

Grafiteira de longa trajetória, Clara fará sua primeira empena nesta edição. E já em sua estreia, ela fará a maior fachada cega em área já pintada do Brasil. Nascida em Belo Horizonte, ela tem inúmeros grafites realizados na cidade, já participou da criação de trabalhos dentro do CURA, como artista assistente de outras criadoras. Mas, em 2024, ela expande suas criações para um novo formato.

CURA - Circuito Urbano de Arte
Clara Valente

Formada em pintura e desenho pela Escola Guignard, UEMG, Clara já expôs suas obras em diversas ocasiões, participando de festivais de arte no Brasil, Uruguai, Alemanha e Canadá. Seu trabalho transcende fronteiras e técnicas, explorando modalidades como escultura, cerâmica, murais, fotografia, videoarte e instalações.

Olhar e observar fazem seu percurso criativo. A imaginação de suas obras começa na contemplação e na pesquisa diária das formas geométricas, como as da arquitetura da cidade, das paisagens orgânicas e dos cenários naturais. Observa atentamente a flora, faz estudos de cores e luz. Transforma estes materiais inspiradores em pinturas, murais, colagens, objetos, gravuras, fotografias, vídeos.

Uma verdadeira retratista da natureza, que busca o diálogo com seus elementos e estações, Clara encontra inspiração nas paisagens do Cerrado e nas nascentes que cortam as montanhas. Com o abstracionismo geométrico e sua relação de proximidade com a natureza, ela evoca a noção de comunidade para além do humano e abre frestas para uma rede de relações de diversos seres conectados, um mundo que é em si comunitário. Seu abstracionismo geométrico é também o abstracionismo do pensamento. Suas obras são expedições rumo às profundezas da terra e à beleza silenciosa que floresce no espaço tridimensional.

Bahati Simoens
Edificio D’Ávila (Rua Guaranis, 590)

Bahati Simoens nasceu em Munanira (Burundi, 1992) e é filha de pai belga e mãe congolesa. Cresceu em Oostende, na costa da Bélgica e há três anos mora em Joanesburgo (África do Sul). As férias em família, as memórias e histórias de sua mãe sobre a vida no Congo estão refletidas na sua obra que apresenta figuras grandes e sem rosto, formas arredondadas, com braços, barrigas e coxas carnudos, cabeça bem pequena, corpos negros.

CURA - Circuito Urbano de Arte
Bahati Simoens

Afetos, alimentos, cenas de tranquilidade e conforto aparecem em suas obras, com tons de uma paleta suave. São imagens que renovam o imaginário, a memória e a representação do senso comum da diáspora e das pessoas negras e se situam no campo da celebração, do bem-estar. Bahati cresceu em ambientes predominantemente brancos, o que lhe causava o sentimento de falta. Fabulando novos mundos em contraposição ao que vivia, em seu trabalho, ela procura criar um senso de lar e pertencimento, de comunidade. “Meu objetivo é focar na alegria negra”, conta.

No CURA, ela irá pintar o Edifício D’Ávila (Rua Guaranis, 590) com a obra “Você não pode chorar se está rindo” (You can’t cry if you’re laughing), que faz parte da série “Papai nunca chegou com flores” (Daddy never came with flowers). Ela se diz curiosa com o diálogo possível entre sua obra, que reflete suas origens africana e europeia, com o contexto brasileiro, forjado por uma grande comunidade diaspórica. ”Como meu trabalho será recebido? Como as pessoas irão interagir com ele? Mas, acima de tudo, espero que traga alegria para a comunidade”. Para ela, é preciso imaginar o mundo de uma forma diferente, acreditando que a mudança e a reinvenção são possíveis. “Esse é o poder que temos como artistas e contadores de histórias, criando esperança. Temos o poder de segurar um espelho para que o outro se sinta visto e mostrar o que está faltando. Ou mostrar como as coisas poderiam e deveriam ser, se alguém estiver aberto a isso”, comenta.

Instalação Brincante: brincacidade

Em uma configuração patriarcal, as cidades foram historicamente desenhadas para o trânsito e a eficiência, ignoram as necessidades de convivência e segurança para todos os cidadãos. Para as mulheres, habitar a cidade significa reescrever suas regras, reivindicar sua presença e garantir que cada esquina, praça e avenida seja um lugar de acolhimento, proteção e liberdade.

Assim, o CURA propõe repensar a cidade sob a influência das matrizes matriarcais. Uma cidade para as crianças é uma cidade para todo mundo. Com a ideia projetada pelo urbanista Jan Gehl, o CURA defende uma cidade inclusiva e traz para a Raulzona uma instalação brincante concebida pela arquiteta Bel Brant.

Com o nome de BRINCACIDADE, a obra propõe transformar a Praça Raul Soares em um espaço onde as crianças possam brincar. Ao reivindicar o espaço público como um lugar de vida, a instalação desafia a lógica que prioriza os carros e o capital, propondo uma cidade pensada para as pessoas.

Como um ambiente interativo e seguro, a instalação, a partir da experimentação infantil, acolhe também as pessoas cuidadoras e incentiva a ocupação. BRINCACIDADE convida ao atravessamento, à exploração das suas estruturas e seus elementos que prometem descobertas para quem se aventurar à experiência. Para isabel, quando uma criança brinca na cidade, ela encontra o diferente, a pluralidade, expandindo fronteiras do privado e do convívio. O ambiente criado pela obra, onde a rua se torna extensão do lar, compreende a cidade como nossa casa, um patrimônio que também precisa ser cuidado coletivamente.

A obra traz como referência os xaponos dos povos indígenas Yanomami, uma aldeia-casa permanente ocupada por um grupo familiar, uma comunidade, onde tudo se faz coletivamente: brincar, festejar, conviver.

Com oito portais inspirados no desenho da Praça Raul Soares e nos eixos das avenidas que a cortam, a obra se transforma em um espaço onde se entra por todos os cantos. Com quatro totens interativos, traz a experiência de um espaço público de permanência, onde é possível interagir de forma segura e acolhedora. O CURA acredita que a arte, em relação com o território e as pessoas que o habitam, pode construir uma alternativa real e vibrante para as comunidades da Raulzona.

Sobre a nova edição do CURA

A 10ª edição do CURA – Circuito Urbano de Arte está prestes a transformar novamente a Praça Raul Soares, em Belo Horizonte. A edição de 2024 convida a comunidade a repensar como os espaços públicos podem ser vividos e ocupados, propondo uma visão que coloca a imaginação como o primeiro passo para a ação.

Desde 2021, o CURA ocupa a emblemática Praça Raul Soares, trazendo vida e reflexão sobre o espaço. Este ano, a provocação é clara: e se a praça fosse mais que uma rotatória, fosse mais do que apenas um lugar de passagem? E se ela pudesse se transformar em um verdadeiro parque, um espaço de convivência que acolhesse mães, crianças e idosos? O CURA 2024 propõe uma transformação do espaço urbano em um ambiente de pertencimento e permanência.

A Praça Raul Soares como Mirante e Espaço de Encontro

O CURA atua como um catalisador na cidade, propondo novas maneiras de habitar e coexistir. Desde sua chegada à Praça Raul Soares, o festival transformou o local em um mirante que oferece à comunidade uma oportunidade de repensar seu uso. O que antes era visto apenas como uma rotatória movimentada, tornou-se um espaço de arte, encontro e troca. Em 2024, o festival continuará essa trajetória de transformação, construindo um legado artístico e cidadão que reconta a história da cidade e imagina novos futuros.

Vale destacar como a ocupação da praça impulsionou uma revitalização do seu entorno. A abertura de bares e estabelecimentos ao redor transformou a vida noturna local, trazendo novas perspectivas para o uso do espaço público. O desafio, agora, é estender essa ocupação para o cotidiano diurno, propondo uma praça reimaginada, com mobiliário urbano e sombra, para que a população possa desfrutar plenamente do espaço.

Sobre o Cura

O CURA – Circuito Urbano de Arte é um dos maiores festivais de arte pública da América Latina. Desde a primeira edição, em 2017, carrega um compromisso com a democratização da arte e transforma espaços urbanos em galerias a céu aberto, convidando a comunidade a interagir com obras de grande impacto artístico. Os murais, que incluem a maior coleção de arte pública indígena do mundo e as obras mais altas pintadas por mulheres na América Latina, celebram a ancestralidade e a diversidade cultural.

O CURA nasceu em Belo Horizonte e, atuando como um verdadeiro agente de transformação cultural e urbana, trouxe um legado palpável para a cidade, que transcende os dias do festival. Em 2023, realizou sua primeira edição em Manaus, com murais e instalações que homenageiam a ancestralidade dos povos da floresta e hoje constroem o primeiro mirante de arte indígena do mundo.

Com muita festa, feiras, shows e exposições de arte, o festival convida as pessoas a assistirem a todo o processo das pinturas. O CURA é mais do que um evento cultural e turístico, é um movimento que redefine a paisagem e enriquece a vida comunitária, promovendo a arte como um elemento essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente.

Leia também: “Era uma vez: visões do céu e da terra”, nova exposição na Pina Contemporânea

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