Instituto Tomie Ohtake inaugura a exposição de Walmor Corrêa, artista que desde cedo se interessou em ilustrar seus cadernos de ciências e biologia e produziu estudo aprofundado sobre a flora e fauna amazônica. A mostra traz ao cerca de 30 obras concebidas do ano 2000 até hoje.
De seu interesse por estas matérias, como artista, contudo, Walmor construiu sua poética a partir de questionamentos e impressões sobre a natureza, a evolução e a ciência. Conforme escreve Paulo Miyada, curador chefe do Instituto: “de modo simétrico, a arte com frequência faz de sua capacidade de ‘transver o mundo’ uma ferramenta para acessar o mundo para além daquilo que já se sabe estar nele, expandindo o alcance das verdades conhecidas. É nessa ambivalência que Walmor Corrêa constrói o fundamento de sua poética. Entre saber e fabulação, ele emprega verossimilhantes e delicados sistemas visuais para suspender nossa descrença e reforçar nossa desconfiança”.
Nesta exposição, segundo o curador chefe do Instituto Tomie Ohtake, foi traçado um caminho que se inicia com a suspensão da descrença resultante da colaboração do artista-pesquisador com cientistas de múltiplas especialidades a fim de melhor descrever uma anatomia plausível de entes nascidos em sonhos, lendas, mitos e augúrios populares e/ou ancestrais.
Em um segundo momento estão trabalhos “em que Walmor Corrêa encontrou fissuras no discurso científico, revelando assim assimetrias decorrentes do rebatimento de relações de poder sobre a ciência”. Em seguida, há obras “em que o artista se valeu de mapeamentos e mensurações das mais diversas ordens para expressar sua admiração por personagens que moldaram e moldam sua vivência do mundo”. Esta série, Mapeamento Cognitivo, traz desenhos e comentários a partir de rostos e mapas cranianos de personalidades como Clarice Lispector, Mario de Andrade, Lupicínio Rodrigues, Grande Otelo, Pixinguinha, Heitor Villa-Lobos e Clementina de Jesus.
“No final do percurso há trabalhos em que o artista tomou, por um lado, erros flagrantes em hipóteses científicas e, por outro, saberes populares e medicinas tradicionais, como roteiros para fabular alternativas à aparência e ao funcionamento das plantas e animais”, completa Miyada.
Vive e trabalha atualmente em São Paulo. Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, entre as quais destacam-se: XXVI Bienal Internacional de São Paulo / 2004, VII Bienal do Mercosul / 2009, Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo / 2005; Metamorfose e Heterogonia – Projeto Site Specific – Museu de Arte Moderna de São Paulo / 2015; Os Trópicos: Visões a partir do Centro do Globo – Martin-Gropius-Bau (Berlim, Alemanha) e Isiko South Afrixan Nacional Gallery (Cidade do Cabo, África do Sul) / 2007; e Cryptozoology: Out of Time Place Scale – Bates College Museum of Art (Lewinston, Estados Unidos) / 2006 e H&R Block Artspace, Knasas City Art Institute (Missouri, Estados Unidos). Em 2015, lançou uma publicação intitulada O Estranho Assimilado, A convite do Sesc Pompéia de São Paulo, apresentou a instalação sobre a vida de Lina Bo Bardi / 2016, um solo Project com a Artur Fidalgo Galeria na Feira de Arte Internacional do Rio de Janeiro 2017, Dresden – Alemanha, Quién sabe dónde? / 2019 / Lleida – Espanha, “disCONNECTED” / Motorenhalle at Dresden / 2020 / Dresden – Alemanha, Exposição de inauguração do NON MUSEUM FOR CONTEMPORARY / 2020. Em 2022 lançou a publicação Etnografia cultural da flora mágica brasileira e apresentou a exposição individual intitulada “Sobre pássaro, sinapses e ervas energéticas” no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC).
O Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em novembro de 2001, destaca-se por ser um dos raros espaços da cidade especialmente projetado, arquitetônica e conceitualmente, para realizar mostras nacionais e internacionais de artes plásticas, arquitetura e design.
Como homenageia a artista que lhe dá o nome, o Instituto desenvolve exposições que focalizam os últimos 60 anos do cenário artístico, ou movimentos anteriores que levam a entender melhor o período em que Tomie vem atuando, organizando mostras inéditas no Brasil como Louise Bourgeois, Josef Albers, Yayoi Kusama, Salvador Dalí, Joan Miró, entre outras.
Além de um programa de exposições marcante na cena cultural brasileira e que se desdobra em outras atividades como debates, pesquisa, produção de conteúdo, documentação e edição de publicações, o Instituto Tomie Ohtake desenvolve, desde a sua fundação, ampla pesquisa no ensino da arte contemporânea. Por isso, foi pioneiro na criação de novos processos para a formação de professores e de alunos das redes pública e privada, além de realizar uma série de atividades dirigidas ao público em geral e projetos de estímulo ao desenvolvimento da produção contemporânea.
Walmor Corrêa – sobre pássaros, sinapses e ervas energéticas
De 23 de junho a 20 de agosto de 2023.
De terça a domingo, das 11h às 20h.
Entrada franca.
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