Exposição sobre Fábio Penteado marca reabertura do Centro de Convivência de Campinas
O Centro de Convivência Cultural de Campinas (CCC) “Carlos Gomes”, inaugurado em 1976, ofoi projetado pelo arquiteto campineiro Fábio Penteado (1929–2011). O conjunto, que ocupa uma grande praça circular, contornada pela avenida como uma rotatória, tem teatro, salas de exposição, escritórios e café “escondidos” pelos volumes irregulares e assimétricos da construção, se abrindo para o anfiteatro ao ar livre com capacidade para 8 mil pessoas.
O espaço foi restaurado recentemente pela Prefeitura de Campinas e, após quase 14 anos fechado, volta a receber o público. A exposição “Fábio Penteado: Pétalas e Estrelas”, que abre dia 01 de novembro de 2025, reinaugura as galerias do teatro, fazendo uma homenagem à obra e trajetória do arquiteto que sempre buscou a escala da multidão e as possibilidades de encontros em suas obras.
“Pétalas e Estrelas” revela a singularidade de Penteado. “Muitos dos seus projetos rompem com a tradição de ortogonalidade, buscando um organicismo mais próximo às formas da natureza, como conchas, casulos, colmeias e aranhas. Em muitos memoriais descritivos o arquiteto escreve: ‘O projeto começa com um ponto, marcado no chão, do qual partiam faixas, desenhando no chão a forma de uma estrela.’ Ou ainda: ‘O monumento, que é também museu, brota do solo através de blocos como as pétalas de uma grande flor”, diz o curador Guilherme Wisnik.

A exposição destaca sete principais projetos da carreira do arquiteto: Teatro Municipal de Piracicaba, Piracicaba (SP), 1960; Monumento de Playa Girón, Cuba, 1962; Sociedade Harmonia de Tênis, São Paulo (SP), 1964; Teatro de Ópera, Campinas (SP), 1966; Centro de Convivência Cultural de Campinas, Campinas (SP), 1967-1968; Hospital-Escola Júlio de Mesquita Filho (Santa Casa da Misericórdia), São Paulo (SP), 1968; e Condomínio Sunshine, Campinas (SP), 1972.
Serão apresentados mais de 220 itens, entre plantas, maquetes, obras originais, objetos do arquiteto e uma vasta seleção de documentos, muitos restaurados graças a uma parceria com a Casa de Arquitectura, de Portugal, que teve início justamente por conta do projeto do Centro de Convivência Cultural de Campinas, como explica Adriana Penteado, filha do arquiteto e coordenadora da exposição.
Obras em Destaque
“Em 2017, por intermédio dos arquitetos e curadores Nuno Sampaio, Guilherme Wisnik e Fernando Serapião, o Arquivo Fábio Penteado foi convidado a doar 397 desenhos, fotografias e documentos do projeto do Centro de Convivência de Campinas para a coleção de arquitetura brasileira da Casa da Arquitectura. A doação dos desenhos gerou uma importante parceria entre as duas instituições. A Casa da Arquitectura de Portugal contribuiu para darmos início ao projeto de restauro e catalogação de mais de 10.000 documentos de Fábio, e certamente estimulou a tão aguardada reforma do Centro de Convivência, entregue ao público de Campinas em julho de 2025.”
“Reabrir as galeria do Centro de Convivência com uma mostra dedicada a Fábio Penteado é um gesto de valorização da arquitetura e da cultura de Campinas. Este espaço, que voltou a pulsar desde julho, seguirá aberto à população, recebendo exposições de grande porte e fortalecendo o nosso compromisso de tornar a cidade um polo cultural cada vez mais vivo e acessível”, defende o prefeito de Campinas, Dário Saadi.
“O Centro de Convivência é uma das obras mais emblemáticas de Fábio Penteado. Essa exposição não apenas homenageia a genialidade do arquiteto, mas também permite que a população conheça de perto a dimensão do seu legado. É uma oportunidade única de revisitar a história da cidade e, ao mesmo tempo, projetar o futuro da nossa relação com a arte, a cultura e o espaço urbano”, explica a secretária municipal de Cultura e Turismo de Campinas, Alexandra Caprioli.

DOCUMENTÁRIOS, LIVRO, CATÁLOGO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A exposição, que ocupará duas salas do CCC, apresentará dois documentários sobre Fábio Penteado, que mostram outras facetas do arquiteto, que também foi jornalista, editor e militante de entidades profissionais. Um é dirigido por Guilherme Wisnik e o outro, inédito, por Paulo Markun, que também lançará o livro “Fábio Penteado Na Escala da Multidão: Histórias de Arquitetura” pela editora Cobogó.
A obra busca desvendar o personagem do arquiteto que desafiou o lugar-comum de múltiplas formas e que fez da arquitetura um gesto político e da convivência, um princípio. “Bisneto de tropeiro, neto de engenheiro, filho de industrial, Fábio Penteado entrou na arquitetura por acaso, seguindo um amigo. Passou em último lugar no Mackenzie, onde o diretor considerava modernidade ‘crime’. Mesmo assim, desenvolveu uma visão única: a arquitetura ‘na escala da multidão’”, diz Markun, jornalista, que comandou o Roda Viva por dez anos, escritor com 16 livros publicados e amigo pessoal de Penteado.
“Fábio Penteado: Pétalas e Estrelas” terá um catálogo de 52 páginas, bilíngue, com texto crítico do curador da mostra e do diretor da Casa de Arquitectura, Nuno Sampaio. Outro destaque da mostra é projeto Fábio IA, um chatbot que apresenta ao público a voz recriada do arquiteto, explicando seus principais projetos, ideias e reflexões e até respondendo perguntas.
SOBRE FÁBIO PENTEADO
O campineiro Fábio Moura Penteado (1929–2011) formou-se arquiteto pelo Mackenzie em 1953, mas sua atuação ultrapassou os limites da prancheta. Jornalista da revista Visão nos anos 1950, articulista e polemista, soube traduzir para o público leigo os desafios da arquitetura moderna. Presidiu o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) entre 1966 e 1968 e levou a entidade a um patamar de maior protagonismo nacional e internacional, abrindo espaço para o debate público sobre a função social da arquitetura. Atuou como professor do Mackenzie, onde lecionava desenho, até ser demitido em abril de 1964, após o golpe militar.
No plano internacional, participou ativamente da União Internacional de Arquitetos (UIA), defendendo o concurso público como instrumento democrático de escolha de projetos. No Brasil, foi voz pioneira na defesa da criação de uma entidade própria dos arquitetos, desvinculada do sistema CREA — proposta que só se concretizaria décadas depois com a fundação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).
Foi autor de obras que buscavam sempre a escala da multidão — não apenas edifícios, mas espaços de convivência, encontro e circulação democrática. Teve papel central na crise da FAU Brasília, posicionando-se contra a repressão e a descaracterização da escola após o golpe; e também interveio no debate que resultou na admissão da Igreja da Pampulha como templo católico, reforçando a importância de reconhecer o valor simbólico da arquitetura moderna.
Premiado no Brasil e no exterior — como na Primeira Quadrienal de Teatros de Praga (1967) — Penteado deixou um legado que vai além das obras construídas: uma reflexão contínua sobre a cidade, o urbanismo e o papel da arquitetura como gesto político, sempre voltado à multidão.


Serviço
Exposição “Fábio Penteado: Pétalas e Estrelas”
Centro de Convivência Cultural de Campinas (CCC) “Carlos Gomes”
Rua General Osório, s/nº, Cambuí – Campinas
Abertura: 01 de novembro, sábado, às 11h
Visitação: até 21 de março 2026 – quarta a sábado, das 14h às 19h
Entrada gratuita

