A Galeria Millan inicia seu programa de 2024 no dia 20 de janeiro com duas exposições que reforçam sua posição de fomentar a experimentação artística e o diálogo entre gerações. Com curadoria de Antonio Gonçalves Filho, “O Legado Experimental” e “Surge et veni” são coletivas que simultaneamente olham para a história da galeria e apontam para seu movimento atual de expansão.
O Legado Experimental estabelece diálogos entre a produção contemporânea e obras de artistas ativas desde a década de 1950. A mostra conta com obras de Elena Damiani, Guga Szabzon e Vivian Caccuri, representadas pela galeria, além de trabalhos de Anna Maria Maiolino, Flávia Ribeiro (a Frapê, morta em outubro último), Mira Schendel e Lygia Pape, cujas trajetórias convergem com a da Millan.
A exposição evidencia as contribuições das veteranas para a transformação do cenário artístico nacional e seus ecos na produção das artistas mais jovens, cujo cerne continua sendo o experimentalismo.
Um dos elementos que une esses trabalhos é a noção de desenho, que aparece como gesto ou no uso do papel como suporte — caso das obras de Szabzon, que cria “páginas de caderno” com bordados sobre feltro, ou das monotipias de Schendel.
Outro ponto de contato entre as produções é o uso de materiais não habituais e de novas tecnologias, além da busca por referências que extrapolam a tradição artística. Exemplos são os trabalhos de Pape, da histórica série Amazoninos, e os de Vivian Caccuri, que investigam a percepção sonora e utilizam materiais como telas de mosquiteiro ou chaves.
As obras de Maiolino apresentam afinidades com as da artista peruana Elena Damiani, que se dedica à exploração de mármores e granitos. Ambas remetem ao tempo essencial para a formação da matéria, suscitando reflexões profundas sobre a atuação das artistas na manipulação desses materiais. Além disso, as criações provocam contemplações sobre a ideia metafísica relacionada à gênese e transformação desses elementos.
No mesmo dia, também será inaugurada Surge et veni. A coletiva reúne jovens pintores que têm ganhado destaque no circuito artístico e apresenta diferentes desdobramentos da pintura contemporânea.
Com obras de Beatrice Arraes, Bruno Neves, Lucas F. Rubly, Rayana Rayo e Thiago Hattnher, o conjunto demonstra as diferentes soluções e pesquisas no campo pictórico atual.
Ora por meio da abstração, ora pela construção de paisagens ou ainda pela captura de fragmentos prosaicos e mementos, essas pinturas adquirem um caráter metafísico ou existencial. No entanto, se destaca a diversidade com a qual cada artista chega a tais reflexões. Cada um deles mobiliza seu próprio conjunto de referências e encontra soluções únicas na construção das suas imagens que transitam do introspectivo ao vibrante e visceral.
A fortalezense Beatrice Arraes pesquisa o design popular e incorpora signos gráficos dessa cultura em suas telas. A memória da passagem do tempo é seu eixo temático, o que justifica o apreço pela pintura de Morandi, referência compartilhada com os outros artistas da coletiva.
Bruno Neves, paulistano, dirigiu seu olhar para nomes como Judith Lauand e Mira Schendel, além de nomes históricos do movimento neoconcreto. Sua pintura, embora evocativa, sugerindo uma conexão com a paisagem circundante, é fundamentalmente ancorada na geometria.
O também paulistano Lucas F. Rubly tem como interlocutor histórico o pintor inglês de vistas portuárias Alfred Wallis (1855-1942), além de Morandi (1890-1964), evocando mesmo o clima das paisagens de Via Fondazzza pintadas pelo italiano nos anos 1950.
Rayana Rayo, recifense, produz telas abstratas que, frequentemente, aludem a experiências existenciais. Na exposição, ela mostra suas mais recentes pinturas, que operam num registro orgânico e visceral.
Finalmente, as pinturas de Thiago Hattnher são paisagens construídas com base na memória de lugares — em particular, a estrada que liga São Paulo à sua terra natal, São José do Rio Preto, rememorada em telas que registram as impressões remanescentes desse deslocamento. Por sua vez, suas telas mais recentes recriam capas de livros de artistas, como a que homenageia o músico e compositor norte-americano John Cage (1912-1992).
As aberturas de O Legado Experimental e de Surge et veni ocorrem simultaneamente no dia 20 de janeiro, das 11h às 15h. As coletivas ficam em cartaz até o dia 24 de fevereiro.
A sede da Galeria Millan, no número 1360 da rua Fradique Coutinho, Pinheiros, está passando por uma reforma para se adequar à expansão de seu programa. Neste período, a galeria atende no imóvel no número 1430 da mesma rua.
O projeto arquitetônico propõe uma mudança completa no edifício original, reorganizando seus espaços expositivos e administrativos, além de submeter todos os espaços da galeria a um raciocínio único.
A maior intervenção se dá na relação do edifício com a rua. No recuo frontal, onde existia um estacionamento em rampa, se propôs uma praça horizontal para acolher os visitantes, semelhante a do novo espaço no número 1430, inaugurado em março deste ano.
O projeto foi desenvolvido pelo escritório Undiú.
Exposições “O Legado Experimental” e “Surge et veni”
Abertura: 20 de janeiro, sábado, 11h às 15h
Exposição: 20 de janeiro – 24 de fevereiro
Seg. a sex., 10h às 19h
Sáb., 11h às 15h
Local: Galeria Millan. R. Fradique Coutinho, 1430, Pinheiros. São Paulo – SP
Entrada gratuita
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