Jack Whitten: The Messenger – A Grande Retrospectiva no MoMA

Jack Whitten (1939-2018), um dos artistas mais inovadores da abstração contemporânea, é tema da maior retrospectiva já realizada sobre sua obra no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Jack Whitten: The Messenger reúne mais de 175 peças, incluindo pinturas, esculturas e trabalhos em papel, oferecendo um panorama abrangente de sua trajetória artística. A exposição destaca como Whitten revolucionou a pintura e ampliou suas fronteiras para a escultura e a tecnologia.
A exposição, que acontece entre 23 de março e 2 de agosto, destaca como Whitten navegou entre tradição e inovação, incorporando influências da arte africana, mediterrânea e digital. Ele via a si mesmo como um “mensageiro”, alguém que canalizava a história e a espiritualidade para criar obras que desafiam nossa percepção e exploram novas formas de narrativa visual.
Uma Jornada Artística Entre Tradição e Inovação
Nascido em Bessemer, Alabama, no sul segregado dos Estados Unidos, Whitten viveu intensamente o contexto da luta pelos direitos civis antes de se mudar para Nova York em 1960, onde decidiu se tornar artista. Sua obra reflete essa trajetória de resistência e experimentação, sempre desafiando as convenções da arte abstrata.

Nos anos 1970, ele desenvolveu um método inovador de pintura no qual arrastava camadas de tinta acrílica sobre a tela em um movimento contínuo, criando superfícies que pareciam capturar um efeito de desfoque fotográfico. Já nos anos 1990, começou a transformar a tinta acrílica em material escultórico, cortando-a em pequenos pedaços e recombinando-os como mosaicos, criando texturas que evocam tanto a ancestralidade dos mosaicos bizantinos quanto a visualidade dos pixels digitais.
A Influência da Grécia e a Busca por uma Nova Linguagem
A Grécia teve um papel fundamental na vida e na arte de Whitten. A partir de 1969, ele começou a passar os verões no país, particularmente na ilha de Creta. A atmosfera e a cultura gregas impactaram profundamente sua visão artística. Ele mergulhou no estudo da arte cicládica e bizantina e iniciou uma prática escultórica, esculpindo madeira e explorando a tridimensionalidade de sua arte.
Obras em Destaque
Essa influência se manifestou fortemente na Greek Alphabet Series, iniciada em 1975, na qual Whitten inventou seu próprio alfabeto visual baseado no grego antigo. A série representa uma tentativa de romper com a narrativa linear e explorar novas possibilidades de comunicação através da pintura.
A Arte Como Memória e Homenagem
Além da inovação técnica, a arte de Whitten carrega uma forte carga memorial e política. Ele frequentemente dedicava suas obras a figuras icônicas da história negra, como James Baldwin e Martin Luther King Jr., criando homenagens que transcendiam o retrato tradicional.
Na série Black Monolith, iniciada em 1988, ele usou mosaicos acrílicos para criar superfícies vibrantes que remetem a formações geológicas, mas que também evocam a presença espiritual de grandes nomes da cultura negra. Ele incorporava materiais inesperados, como cinzas, sangue e minerais, para tornar sua arte uma manifestação material da memória e do legado dessas figuras.
Sua resposta ao 11 de setembro de 2001 também é um dos momentos mais impactantes de sua trajetória. Estando em Nova York no dia dos atentados, Whitten testemunhou os acontecimentos e ficou profundamente abalado. Ele passou cinco anos sem conseguir produzir arte até criar uma monumental pintura composta por oito painéis de mosaicos acrílicos, incorporando elementos como ossos triturados e cinzas para capturar a intensidade do momento.
Jack Whitten: Um Novo Olhar Sobre a Abstração
Whitten sempre desafiou os limites da pintura abstrata, expandindo seu campo de atuação para o uso de novas tecnologias e materiais inusitados. Sua fascinação por ciência e tecnologia levou-o a experimentar com técnicas como a impressão eletrostática e o uso de afro-pentes como ferramentas de pintura, criando texturas únicas.

Ele via a arte como uma forma de questionar percepções e romper com condicionamentos visuais e culturais. Para ele, a pintura não era apenas uma superfície bidimensional, mas um campo expandido, capaz de absorver a história, a política e a espiritualidade.
“Eu sou um condutor para o espírito. Ele flui através de mim e se manifesta na materialidade da tinta.”
Essa frase sintetiza o compromisso de Whitten com sua arte e com a missão que ele via para si mesmo: a de um mensageiro, alguém que traduz experiências e memórias em formas visuais inovadoras.
A retrospectiva no MoMA reafirma sua importância no cenário da arte contemporânea, destacando sua coragem de desafiar convenções e sua busca incessante por novas formas de expressão. Mais do que uma simples exposição, Jack Whitten: The Messenger é um convite para repensarmos os limites da arte e sua capacidade de transformar a maneira como vemos o mundo.
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