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Massapê Projetos inaugura ‘Cosmologia Tecida’ de Ana Cristina Mendes

Para metaforizar o entendimento da natureza como um “grande abarcador de tecidos humanos e não humanos", são usados elementos da natureza, desenhos escultóricos, pinturas e materialidade têxtil em obras que costuram memória e ancestralidade

Por Equipe Editorial - outubro 13, 2025
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Massapê Projetos recebe, a partir do dia 25 de outubro, sábado, às 14h, a mostra inédita “Cosmologia Tecida”, da artista visual cearense Ana Cristina Mendes. Reunindo trinta obras, a exposição propõe reflexões sobre ecologia, o feminino e as interações entre espécies humanas e não-humanas, contribuindo para debates contemporâneos nas artes sobre coexistência e sensibilidade ambiental.

A mostra, com curadoria de Lucas Dilacerda, é o recorte de obras que revelam uma imersão profunda na relação entre corpo, natureza e tecido, que conecta todos os seres, convidando o público a adentrar em uma memória que ultrapassa o tempo linear, fluido mas também convergente, como a própria água. Em Cosmologia Tecida, o público é convidado a entrar em contato com materialidades de diferentes texturas e cores, além de experimentar uma imersão por meio de obras de grande porte.

Massapê Projetos
Cosmologia Tecida, Ana Cristina Mendes

As questões trazidas pelos trabalhos estabelecem um diálogo direto com as discussões dos debates atuais e urgentes sobre o meio ambiente. A pesquisa de Ana parte da imersão do corpo na natureza e deságua em várias linguagens artísticas, como desenho, escultura, pintura, vídeo-performance e instalações, que desvelam, sobretudo, a força primal da memória e da ancestralidade.

Entre as obras em exibição, destacam-se: “Tecido rio”, uma escultura textil de 10 x 1 m composta por camadas de tecido e desenhos, “Mulherriotecida (Camparska Capari Macedônia)”, uma impressão fine art de 92 x 136 cm; as pinturas “Meditação I, II e III” em acrílica sobre tela; a instalação “Bicho do rio”, desenhos escultóricos e relicários com elementos que remetem a mistérios e segredos do rio; as aquarelas da “Série Pouso”; a série “Sertão de dentro” e a obra “Pedra do mar que virou sertão”.

Massapê Projetos
meditação III, Ana Cristina Mendes

A materialidade do tecido é um fio condutor na obra de Ana Cristina Mendes, que desde sua história de vida ligada à moda e aos têxteis, traz essa característica nos seus trabalhos. Sobre os tecidos escolhidos para as obras de Cosmologia Tecida, ela os descreve como porosos, capazes de trazerem marcas que diminuem as distâncias. Eles também têm uma característica elástica, que alcança e retrai. “Eu vejo esses tecidos como abarcadores de mundos, já que ao levá-los para a natureza, eles ganham elementos dela”, explica Ana Cristina, reforçando que a areia, a vegetação e o sal são alguns dos elementos que se incorporam neles.

Segundo Lucas Dilacerda, curador da mostra, a poética de Ana Cristina Mendes emerge como um contínuo de forças vitais, em que corpo, água e tempo se entrelaçam para fabular modos de existir para além do humano. “Sua criação é movida por um vitalismo que reconhece a vida como energia em permanente metamorfose: tudo se expande e se contrai, como um elástico de forças que se transforma sem cessar. Nessa cosmologia, além de elemento, a água é máquina do tempo e arquivo vivo, portadora de memórias ancestrais que atravessam a terra e o corpo”, diz Lucas.

A pesquisa da artista, nos termos da memória afetiva e ancestral, conecta-se diretamente ao Rio Jaguaribe, no Ceará, onde sua mãe, avó e tataravó nasceram. Inclusive, a instalação “Bicho do Rio”, inspirada na lenda sobre uma criatura híbrida associada ao feminino, é composta por relíquias do rio e objetos pessoais da casa da avó de Ana Cristina, em Jucás (CE). “A ancestralidade que atravessa essa poética não se restringe ao humano: é cósmica, vegetal, mineral, espiritual”, reforça o curador.

Texto curatorial

Tecido vital, por Lucas Dilacerda

A poética de Ana Cristina Mendes emerge como um contínuo de forças vitais, em que corpo, água e tempo se entrelaçam para fabular modos de existir para além do humano. Sua criação é movida por um vitalismo que reconhece a vida como energia em permanente metamorfose: tudo se expande e se contrai, como um elástico de forças que se transforma sem cessar. Nessa cosmologia, além de elemento, a água é máquina do tempo e arquivo vivo, portadora de memórias ancestrais que atravessam a terra e o corpo. Ausência e excesso, seca e inundação, a água transporta histórias de migrações, deslocamentos e renascimentos, fazendo do corpo um campo de ressonâncias onde memória e futuro se dobram um no outro.

O corpo, em sua materialidade porosa, não se fecha em fronteiras humanas; torna-se mangue, rio, animal, ecossistema. É um corpo que se hibridiza, que escuta e negocia com outros seres em uma convivência multiespécie. A experiência de “humanar”, como evoca Bonaventure, convoca uma prática de humildade e escuta, na qual a humanidade só se cumpre em simbiose com o que a excede. Por isso, aqui, a performance é um ritual de despertar de memórias, em que o corpo se faz arquivo e mediador, termômetro de tempos não lineares.

A ancestralidade que atravessa essa poética não se restringe ao humano: é cósmica, vegetal, mineral, espiritual. Como nas espirais de tempo descritas por Leda Maria Martins, passado e por vir coexistem em um presente em fluxo. Cada movimento é um ato de transubstancialidade, como afirma Denise Ferreira da Silva: o corpo se transmuta, absorve, dilui e renasce. Entre queda e voo, entre silêncio e sopro, Ana Cristina Mendes convoca um espaço de escuta em que a arte torna-se prática de recomposição do mundo. Sua cosmologia, tecida de água e memória, nos convida a sentir no corpo a circularidade da vida, onde nascer, morrer e renascer são um só gesto.

Sobre Ana Cristina Mendes

Artista-pesquisadora, mestra em Artes pelo PPGArtes ICA-UFC. Desenvolve sua pesquisa corpo-paisagem tendo o feminino, a natureza e a subjetividade como eixos, relacionando-os ao tecido como lugar de transformações, transmutações de seres em novos corpos, multiespécies, paisagens.

Massapê Projetos
retrato Ana Cristina Mendes

A partir de experiências imersivas, sua poética transita do individual às ações colaborativas em performances e desdobramentos em outras linguagens. Discute memória, matéria e ancestralidade em recorrência no espaço-tempo e nas coisas ao derredor, do cotidiano, isto sob a perspectiva do universo feminino, da ausência que move corpos e histórias. Participou de exposições coletivas, individuais, residências artísticas em âmbito nacional e internacional. Foi premiada em duas edições da Unifor Plástica (2205 e 2011), Secultfor (2010/2011) e Minc (2015). Foi selecionada para o Salão de Abril em 2024 e 2025 e é artista colaboradora da Ponte Cultura Alemanha/Brasil

Sobre o Massapê Projetos

Massapê Projetos é uma plataforma independente gerida por artistas em São Paulo. Atualmente conta com 6 artistas com ateliês fixos.

Ficha técnica

Artista: Ana Cristina Mendes
Curadoria: Lucas Dilacerda
Assistência de Curadoria: Wes Viana
Assessoria: Flávia Castelo
Assessoria de Imprensa: Pevi 56 – Angelina Colicchio e Diogo Locci
Mídias, catálogo, flyer: Lívia Magalhães
Audiovisual: Sarah Lídice

Serviço

Cosmologia Tecida
Local: Massapê Projetos (Rua Fortunato, 68, São Paulo, SP)
Abertura: 25/10/25, sábado, das 14h às 20h
Período expositivo: 26/10/25 a 31/10/25, das 10h às 19h
Classificação etária: livre

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