Antonio Obá: Revoada é a segunda mostra a ocupar a Galeria Praça da recém-inaugurada Pinacoteca Contemporânea. Com curadoria de Ana Maria Maia e Yuri Quevedo, Revoada apresenta cerca de 20 pinturas e uma instalação inédita, que dá título à exposição, tendo a figura da criança como fio condutor. Também compõem a mostra obras pouco vistas no Brasil, como Banhistas nº 3 – Espreita (2020) e Fata Morgana nº 1 (2022).
O trabalho de Antonio Obá é constituído por três importantes pilares, que conduzem a narrativa desta exposição: a rememoração de acontecimentos históricos – em geral marcos de violência e luta por direitos de pessoas negras nos Estados Unidos –, a atribuição de novos significados a esses episódios e o processo educativo. Juntos, cada um desses aspectos do trabalho constituem um programa para lidar com o tempo, articulando ações de ressignificação, transformação e emancipação.
A instalação Revoada foi construída em diálogo com a história do museu, que nasceu originalmente para ser uma escola. No início do século XX, o edifício da Pina Luz funcionava como o Liceu de Artes e Ofícios, escola dedicada à educação artística voltada para a capacitação profissional dos alunos. Entre as técnicas ensinadas no Liceu estava a fundição, linguagem escolhida pelo artista para desenvolver a instalação. Durante os últimos meses, Obá organizou oficinas na Pina Contemporânea, na Ocupação 9 de Julho (Movimento Sem Teto do Centro) e no Colégio Vera Cruz, onde moldou cerca de 200 pares de mãos de crianças em resina. Agora essas peças vão alçar voo na Galeria Praça – pavilhão que conserva os arcos trabalhados em ferro da construção da antiga Escola Estadual Prudente de Morais.
“Fundindo essas mãos, Obá ensina o procedimento da moldagem ao mesmo tempo que interpreta a presença dessas crianças no espaço; considerando a marca expressiva de cada uma. Contida nesse gesto, está a crença na dimensão coletiva das memórias e na educação como processo que garante autonomia e liberdade. Os sujeitos lembram, sabem e agem”, conta o curador Yuri Quevedo.
Além da instalação, 20 pinturas se organizam a partir do tema da infância e de um movimento vertical, muito presente no trabalho de Obá. No percurso de revisitar momentos da história, o artista inscreve a tragédia e a violência em um tempo mítico, transformando os personagens históricos em entidades, arquétipos que podem rever sua posição na própria história. Por meio de seu trabalho, Obá busca transmutar momentos trágicos em episódios poéticos, sem dessa maneira esquecer aquilo que martirizou quem viveu esses momentos.
Esse procedimento pode ser observado em Figuras no caminho “Criança suspensa” (2022), em que o artista retoma a iconografia cristã da cruxificação, suspendendo um garoto sobre pernas de pau, seguradas por duas meninas. A suspensão retira o garoto da terra e do tempo corrente. Nesse tempo sem dor, a coroa não é mais de espinhos, mas sim de flores.
Antonio Obá (Ceilândia, 1983) vive e trabalha em Brasília. O artista participa de exposições coletivas e individuais desde 2001, com um trabalho que maneja história e universo simbólico, alinhavando linguagens e experiências próprias. Suas últimas exposições incluem Path, Oude Kerk, Amsterdam; Antonio Obá: Fables, X Museum, Pequim (2022); Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, IMS Paulista, São Paulo (2021); Enciclopédia Negra, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2021).
Antônio Obá: Revoada
Período: 24.06 a 18.02.2024
Curadoria: Ana Maria Maia e Yuri Quevedo
Pinacoteca Contemporânea – Galeria Praça
De quarta a segunda, das 10h às 18h
Gratuitos aos sábados – R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada)
Lançamento do catálogo: 24.06.23, em loja física e no site.
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