Museu da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) receberá obras repatriadas de artistas negros
O Muncab (Museu da Cultura Afro-Brasileira) anunciou a repatriação do acervo de mais de 700 obras ao Museu. A ação se tornou um marco na história da preservação artística e cultural, sendo destaque nos principais jornais do Brasil e do mundo. Esse feito não apenas reforça o compromisso do Muncab com a valorização e preservação das culturas e artes visuais afro-brasileiras, mas também ressalta a importância de devolver ao país de origem parte fundamental de sua memória.
O retorno dessas obras é uma iniciativa de duas colecionadoras norte americanas: a historiadora de arte Marion Jackson e a artista plástica Barbara Cervenka, e representa um passo crucial na reparação histórica, devolvendo à sociedade brasileira riqueza de sua herança cultural. Após visitar várias instituições, Marion e Barbara escolheram o Muncab como destino para a devolução das peças adquiridas durante suas visitas periódicas à Bahia desde 1992. As colecionadoras também organizaram exposições nos Estados Unidos e Canadá com essas obras ao longo das últimas décadas.
As obras incluem esculturas de Boaventura da Silva Filho e seu filho, Celestino Gama, também conhecido como Louco Filho. Ambos são artistas baianos, com obras representativas da cultura afro-brasileira. Nos anos 1960, em Cachoeira, no Recôncavo baiano, o barbeiro Boaventura da Silva Filho (1932 -1992) começou a fazer esculturas de madeira e colocá-las na janela de seu estabelecimento. Quando um grupo de freiras passou pelo local com seus alunos, elas disseram a eles que aquelas esculturas eram coisa de “louco”. Boaventura resolveu adotar o apelido e seguir carreira como escultor.
A ampla cobertura nacional e internacional destaca o papel do Brasil como protagonista na luta pela preservação do patrimônio nacional, promovendo diálogos globais sobre a restituição de bens culturais ao seu país de origem.
Muncab planeja exposição com obras repatriadas
Apesar da documentação legal já ter sido assinada, a repatriação das 750 obras que virão para o Muncab não é imediata devido ao complexo processo de preservação do acervo. Uma equipe do museu irá a Detroit, nos Estados Unidos, estudar a melhor logística possível para o traslado até Salvador.
Obras em Destaque
Mudanças bruscas de temperatura podem causar danos irreversíveis ao material, que deverá ser devidamente climatizado. Um estudo técnico vai definir se as peças virão em lotes. Para a repatriação, o Muncab tem a parceria do Instituto Ibirapitanga e do Con/Vida, organização dedicada à cultura, tradição e história das Américas fundada por Marion Jackson e Barbara Cervenka.
Quando as obras chegarem, o Muncab planeja abrir uma exposição com a presença dos artistas e das colecionadoras.
Sobre o Muncab
O MUNCAB é um museu com ênfase na valorização de aspectos da cultura de matriz africana, destacando a sua influência sobre a cultura brasileira. Aqui você tem contato com trabalhos que falam da identidade negra; da África como o continente de onde se originou toda a humanidade; da questão do tráfico de pessoas que foram escravizadas; da resistência negra, dos quilombos e revoltas. Também aprende sobre as contribuições na culinária, religiosidade e festas populares, assim como nos esportes e na música, que é uma exuberância de matrizes com o samba, semba, maracatu e outros.
O papel do Museu, além de reunir documentação histórico-cultural afro-brasileira, é promover ações e iniciativas intercambiais com os países e culturas africanas, sobretudo aqueles de onde vieram os maiores contingentes de negros escravos, como Angola, Moçambique e Guiné. São promovidos, também, diversas exposições, oficinas e outros eventos educativos.
O espaço é carinhosamente apelidado de ‘museu em processo’, já que cultura é um processo contínuo. Sua própria existência é sinônimo de resistência, memória e constante criação enquanto em contato com uma das culturas mais antigas e ricas do universo que é a cultura dos povos africanos.