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No Mês da Consciência Negra, Diego Mouro abre individual no Museu Afro Brasil

Por Equipe Editorial - novembro 6, 2023
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“O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo tem a alegria de receber a exposição Povoada, do artista Diego Mouro, integrando sua Programação do Mês da Consciência Negra. Trata-se de uma bela oportunidade para que o público conheça trabalhos recentes de um artista com o qual a instituição tem tecido um rico diálogo há cerca de três anos”, afirma Sandra Salles, Diretora Executiva da instituição.

Os fazeres cotidianos e as tradições do povo negro são o tema de Povoada, individual de Diego Mouro com curadoria de Claudinei Roberto da Silva e abertura no dia 11 de novembro (sábado) no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, equipamento da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, onde fica em cartaz até março de 2024. Parte da Programação do Mês da Consciência Negra do Museu, a mostra é resultado de uma parceria estabelecida no fim de 2020 entre o artista e o então diretor da instituição, Emanoel Araujo (1940-2022). Mouro e outros artistas foram convidados, naquela ocasião, a realizar murais para a exposição intitulada Foram os Homens e as Mulheres Negras que Construíram a Identidade Nacional: Vidas Negras do Brasil, em 2020. Na sequência, o diretor convidou o artista para uma mostra individual, projeto que foi adiado pela pandemia e pela reforma pela qual passou o pavilhão-sede do museu ao longo de 2022.

Na exposição, Diego Mouro apresenta pinturas inéditas, todas a óleo, retratando cenas e personagens cotidianos e ancestrais. “Minhas pinturas são baseadas num trabalho de pesquisa focado nos resquícios da formação cultural negra do país. Uma espécie de olhar atento, cuidadoso, algo como uma vigília sobre as miudezas e delicadezas dessa cultura plural formada aqui. Uma tentativa de falar de ancestralidade no cotidiano, de maneira não óbvia.”

Museu Afro Brasil
Obra de Diego Mouro. Foto: Flavio Freire

De fato, os temas que surgem em suas pinturas na forma de retratos, paisagens e naturezas-mortas são extraídos dos fazeres diários de trabalhadores cujas atividades estão fortemente ligadas à comunidade, como pescadores e lavadeiras, além de festas típicas, como a congada e a marujada. Em alguns casos, a pesquisa transformou-se em imersão profunda em seus usos e costumes. É o caso da Congada de São Benedito. “Fui a Gonçalves (MG) para acompanhar o terno de congada e acabei ficando preso uma semana lá, por conta do início da pandemia”. Dessa forma, Mouro pôde se aprofundar na organização e nos participantes dessa tradição sincrética, uma união de elementos da cultura tradicional de Angola e Congo identificados com os santos do Catolicismo.

As oleiras do Candeal, artesãs tradicionais da cidade de Cônego Marinho (MG), região de Januária, também ganham destaque na mostra. Em uma comunidade incrustada à beira do rio São Francisco, as artesãs mantêm viva uma tradição essencialmente feminina, passada de geração em geração.

A aproximação com esses assuntos tem íntima ligação com o universo familiar do artista: seu avô foi pescador artesanal e Mouro o acompanhava durante a infância. Não à toa, a exposição traz em suas obras o tema da pesca e das águas.

Completam a mostra retratos de personagens negras, “costumeiramente impossibilitadas e excluídas desse tipo de registro pictórico”, ainda segundo o artista, e dois trabalhos sobre as cavalgadas, romarias realizadas sobre cavalos pelo interior dos estados brasileiros.

Mouro referencia seu trabalho na pintura acadêmica, pela qual busca dar um lugar canônico a atividades cotidianas, mas não menos históricas e fundamentais que aquelas registradas pelos pintores europeus. Dessa forma, o artista se insere numa tradição de pintores negros brasileiros, como Arthur Timótheo (1882-1922) e Benedito José Tobias (1894-1963).

De acordo com o curador da mostra, Claudinei Roberto da Silva, “A pintura segura de Mouro sugere que ele está verdadeiramente comprometido com essa linguagem artística, valendo-se com desenvoltura dos recursos a sua disposição. Diego Mouro valoriza da tinta a óleo suas diversas qualidades, potencializando delas, por exemplo, a sua materialidade. Na sua pintura a cor é construída paulatinamente sobre a superfície da tela e os sinais desse processo são incorporados no enredo que constrói as imagens. Disso resulta vibração que adiciona ritmo, movimento e tensão à trama apresentada e confere ao assunto averiguado um interesse ainda maior”.

Nas dimensões variadas de suas obras, o pintor vale-se de uma reapropriação da clássica e tão tradicional pintura a óleo. “Através da substanciosa produção de Diego Mouro, vemos confirmada uma tradição afrodiaspórica de bem fazer artístico e de bem fazer pintura que, entre nós, remonta ao período Colonial, e que, ao mesmo tempo, tem representantes do maior relevo em todos os momentos e movimentos da história da arte no Brasil. É, portanto, da maior importância que 35 anos após aquelas exposições históricas [mostra A Mão Afro-Brasileira e livro Pintores Negros do Oitocentos, de José Roberto Teixeira Leite], o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo abrigue em uma das suas galerias as recentes realizações desse ainda jovem artista”, enfatiza Claudinei no texto curatorial.

Sobre o artista

Diego Mouro (São Bernardo, 1988) vive e trabalha em São Paulo. É bacharel em Comunicação e Mídias Digitais pela Faculdade Metodista (UMESP).

Museu Afro Brasil
Artista Diego Mouro. Foto: Flavio Freire

Com uma prática que transita entre a pintura à óleo e o muralismo contemporâneo, Diego investiga ancestralidade através de um olhar cuidadoso para o fiar cotidiano popular, buscando resquícios de uma cultura negra afrodiaspórica, que resiste e firma sua existência nos fazeres e afetos ordinários, no elo entre o novo que vem do velho e o velho que vira novo – ancestralidade como um alargamento do presente. Suas obras fazem parte de acervos de museus e instituições brasileiras e coleções nacionais e internacionais.

Sobre o curador

Claudinei Roberto da Silva (1963, São Paulo) é artista visual, curador e educador. Graduado em Arte Educação pelo Departamento de Arte da ECA – USP. Curador convidado para o ano 2023 pelo Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, curador da 13ª Bienal Naïfs do Brasil, do Sesc, e do 37º Panorama da Arte Brasileira – Sob Cinzas, Brasa, do MAM SP. Coordenador do Núcleo Educativo do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo entre 2012 e 2014. Integrante do Conselho Artístico do Museu de Arte Moderna de São Paulo durante a gestão curatorial de Cauê Alves.

Sobre o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo é uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura. Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu diretor curador, Emanoel Araujo (1940-2022), o museu é um espaço de história, memória e arte.

Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do mais famoso parque de São Paulo, o Parque Ibirapuera, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo conserva, em cerca de 12 mil m², um acervo museológico com mais de 9 mil obras, apresentando diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiro e abordando temas como religiosidade, arte e história, a partir das contribuições da população negra para a construção da sociedade brasileira e da cultura nacional. O museu exibe parte deste acervo na exposição de longa duração e realiza exposições temporárias

Serviço

Exposição “Povoada”, individual de Diego Mouro
Curadoria: Claudinei Roberto da Silva
Abertura: 11 de novembro (sábado), a partir das 10h
Fala Institucional, do artista e do curador: 14h
Até 3 de março de 2024
Endereço: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 10, São Paulo – SP, 04094-050)
Funcionamento: terça a domingo, 10h às 17h (permanência até às 18h)
Ingresso: R$ 15 (estudantes, portadores de ID Jovem, aposentados e maiores de 60 anos, R$ 7,50), vendidos presencialmente ou online
Grátis às quartas e durante o Mês da Consciência Negra (novembro)

Leia também: “Lapidar Imagens”, de Rafael Pereira, celebra a negritude na Galeria Estação

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