Paço das Artes apresenta, até 30 de outubro, a edição de 2022 de sua tradicional Temporada de Projetos, iniciativa de mais de duas décadas reconhecida por abrir espaço no circuito cultural para jovens artistas brasileiros.
O público pode conferir, gratuitamente, cinco projetos individuais e um trabalho coletivo de curadoria com obras de autores de todas as regiões do Brasil. A exposição conta com trabalhos de artistas selecionados após convocatória nacional do Paço das Artes, que realiza um dos mais longevos e importantes editais de arte contemporânea do país.
Considerada a principal incubadora de jovens artistas contemporâneos, a convocatória do Paço das Artes seleciona, anualmente, projetos individuais e de curadoria, para expor em sua sede, localizada em uma área do Casarão Higienópolis, em São Paulo. Na mais recente edição, a Temporada de Projetos expôs trabalhos de artistas que se consagraram, como Amanda Mei, Bruno Faria e Simone Moraes.
Para a seleção dos trabalhos apresentados na mostra, o júri considerou a diversidade de manifestações artísticas, a liberdade quanto às linguagens de arte, a excelência e o ineditismo das obras. A diversidade regional e a representatividade em diferentes vertentes da arte contemporânea também são pontos de destaque da nova mostra da Temporada.
Faixas com anúncios de lotes de terras à venda são transformadas em tufos de fitas coloridas no projeto “Lost na Região”, um trocadilho com os anúncios “Lotes na Região”, de Diego de Santos. Em sua série, o artista aborda o crescimento das construções de condomínios na capital e região metropolitana do Ceará, e como a especulação imobiliária traz questões sobre acesso à terra e à moradia.
Gabriel Pessoto constrói uma casinha virtualizada em “Realidade Virtual”. A experiência doméstica é reduzida a um encontro de vultos pixelados bidimensionais, unindo uma técnica totalmente manual em lã e a manipulação de imagens em vídeo. A tensão entre o tradicional e o digital convivem em um mesmo espaço: a TV vertical, no que seria um banheiro, mostra gotas de água caindo e o tampo da mesinha de centro é uma tela de vídeo em que sua toalhinha (caminho de mesa) pulsa em movimentos que remetem ao corpo e à respiração.
Em “Parabrigar”, Helô Sanvoy apresenta objetos compostos por materiais de demolição e cacos de vidro. Os materiais, coletados pela cidade, remetem à sociedade oscilante entre a ruína e a construção. Em “Lucidez Difusa” os trabalhos levantam contrapontos entre a transparência do material (vidro) e seu uso como delimitador de espaço, entre a sua rigidez e sua neutralidade no ambiente.
As instalações de Leka Mendes constroem uma paisagem celeste e capturam o presente no tempo astrofísico, propondo questionamentos sobre a noção de profundidade do universo e as linhas que formam as constelações do ponto de vista terrestre. Em “Observatório de imagens inalcançáveis”, Leka utiliza materiais como ferro, vergalhão, madeira e cerâmica para representar, de forma poética, o universo.
Refletores apontados para uma parede verde, uma alusão a uma tela chroma key, convidam as pessoas para se imaginarem em qualquer lugar do horizonte, na instalação “A Floresta”, de Mari Nagem. Nessa posição, o espectador é o centro do universo, o que reforça a noção de antropoceno.
O projeto curatorial escolhido para participar da Temporada de Projetos 2022 é a exposição coletiva “ferramenta ferragem ferrugem”, da curadora Ana Elisa Lidizia, que trata da visibilidade da escrita por meio da imagem e, por consequência, a relação da linguagem e da imagem acerca dos novos cenários da escrita e das artes. A curadora selecionou obras de Clara Machado, Helena Trindade, Maré de Matos e Rebeca Carapiá.
Os trabalhos mostram que a escrita não é visível sem a imagem, “é também o que podemos chamar de pacto entre a letra e a imagem, uma não se sustenta sem a outra”, afirma a curadora. “O gesto poético entre letra e imagem é ‘ferramenta’ de construir e destruir. É ‘ferragem’ para operar dentro do sistema linguístico e é ‘ferrugem’, porque põe as normativas no chão, desmoronadas, corroídas”, finaliza.
Em seus mais de 50 anos de história, o Paço das Artes teve sua trajetória marcada por dar voz e espaço à arte contemporânea por meio de exposições com obras de artistas relevantes como Marina Abramovic, Pipilotti Rist, Bill Viola, Francis Bacon, Carmela Gross, Cildo Meireles e Charly Nijensohn. Desde 1970, a instituição vem fomentando a produção, reflexão e memória da arte em atuações também com foco nas produções não legitimadas pelo circuito oficial oferecendo subsídios para artistas, críticos e curadores por meio de programas de fomento como a Temporada de Projetos.
Temporada de Projetos 2022
Período: de 23 de julho a 30 de outubro de 2022
Horário: terça a sábado das 11h às 19h; domingos e feriados das 12h às 18h
Local: Paço das Artes – Rua Albuquerque Lins, 1345 – Higienópolis – São Paulo/SP
Entrada gratuita
Leia também:
MASP apresenta seminário sobre Paul Gauguin
As férias estão chegando, e São Paulo está cheia de opções culturais imperdíveis! Com uma…
Fizemos um guia prático com dicas para te ajudar a ganhar dinheiro sendo artista. Hoje,…
Da segunda metade do século XVIII ao início do século XIX ocorreram inúmeras discussões no…
A Capela Sistina iniciada no século XV, deve seu nome ao Papa Sixto IV della…
Muitos séculos e fases caracterizaram o período de produção da arte grega. Embora se sobreponham,…
O termo “arte ultracontemporânea” foi adotado pela plataforma Artnet para designar trabalhos feitos por artistas…