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Farol Santander: identidades 22&22&22


A arte define caminhos, abre horizontes, permite reflexões, estimula novas abordagens, revitaliza conceitos, enaltece a expressão humana, espelha momentos cruciais da humanidade, enobrece a alma, entre tantas possibilidades, mas em última análise é vital para o desenvolvimento de uma sociedade consciente e antenada.

O presente ano de 2022 é extremamente comemorativo, 200 anos da independência do Brasil (1822) e 100 anos da Semana de Arte Moderna (1922), evento que deve ser analisado na sua exata dimensão.

O Farol Santander abriu recentemente uma mostra que visa dar uma incursão sobre alguns aspectos da arte brasileira no período de 200 anos, abrangendo pontos emblemáticos e históricos da cultura nacional.

Identidades 22&22&22 ocupa três andares, reunindo mais de 140 trabalhos numa área de exibição de 867 m². As obras são provenientes do Acervo Artístico dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e da Coleção Santander.

Um dos mais importantes destaques é o imponente mural Tiradentes (1948-1949), considerado uma das principais obras de Cândido Portinari, que é exibida pela primeira vez fora do Memorial da América Latina, instalada no hall do Farol Santander. A obra de grande dimensão (309 x 167 cm) instalada no hall do Farol Santander impressiona os visitantes. Vale lembrar, que o MIS Experience apresenta uma grande mostra Portinari para todos, essencialmente imersiva, digital e interativa conectada ao avanço da tecnologia e a vertiginosa criação de um dos mais destacados artistas brasileiros, que produziu mais de 5.000 obras.

O mural de Tiradentes foi encomendado pelo escritor e industrial Francisco Inácio Peixoto, que tinha como intuito de colocá-lo na cidade de Cataguases (MG) a fim de fortalecer os ideais modernistas que floresciam naquela época. Inicialmente a obra foi exposta no MAM do Rio antes de seguir para Cataguases em 1949. Na década de 70, o Governo do Estado de São Paulo, adquiriu o painel e anos depois com a criação do Memorial da América Latina, a obra foi cedida para ocupar o Salão de Atos.

Foto: Fernando Brandão

A mostra ocupa três andares, sendo que no 24º andar, o século XIX é abordado, especialmente, a independência do Brasil com figuras importantes do período como o busto de D.Pedro I de autoria desconhecida ao lado de litografias de Johann Moritz Rugendas e Jean Baptiste Debret, artistas europeus da escola neoclássica que retrataram aspectos do período colonial.

Vale lembrar que foi Debret, o autor do projeto da bandeira do Império do Brasil com a colaboração de José Bonifácio de Andrade e Silva, o desenho era o mesmo das legiões de Bonaparte, as novas cores nacionais ouro sobre sinople, a soma de dois esmaltes dinásticos, o amarelo a cor da Casa Imperial Austríaca de Habsburgo-Lorena e D.Leopoldina, formando um losango dentro do fundo verde com heráldica da Casa Real Portuguesa de Bragança e D.Pedro.

Destacam-se ainda peças de mobiliário, cristais, porcelanas, lustres, louças além de pinturas e esculturas de artistas de outras épocas que remetem ao estilo e personagens e objetos do século XIX. Ocupam esse espaço obras que retratam Santa Cecília (1957) de Djanira da Motta e Silva; Santa Irapitinga do Segredo (1941) de Tarsila do Amaral; Mãe Preta (1950) de Agnaldo dos Santos; Fragmento com três Anjos (século XVIII) de Mestre Valentim; As Perobeiras (1906) de Benedito Calixto; Palacete Elias Chaves (1910) de Nicola De Orsi e Henrique Dias (s/d) de Raphael Galvez.

No 23º andar, o período coberto é o Século XX, reunindo obras de renomados artistas como, Tarsila do Amaral com um Auto retrato I (1924), A Samaritana (1911) e Retrato de Mário de Andrade (1922), Anita Malfatti se destaca com Busto de Mulher (1910) e A Ventania (1915). Na sequência, o visitante se deslumbra com O Retrato de Adalgisa Nery (1930) de Ismael Nery; Bailarina (1925) de Victor Brecheret; Três homens (1936) de Clóvis Graciano; Paisagem (1920) de Alfredo Volpi e Mulata na cadeira (1970) de Di Cavalcanti, todas extremamente representativas.

Foto: Fernando Brandão

Completam a valiosa seleção obras de Flavio de Carvalho, Nicola Petti, Candido Portinari, Galileo Emendabili, Emile Gallé (famoso vidreiro francês, um dos protagonistas do Art Nouveau) , Regina Gomide Graz, Hilde Weber, Mario Zanini, Paulo Rossi Osir, Cícero Dias, Márcio Scavone, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Francisco Rebolo, Hisamatsu Mitake, Madeleine Colaço, José Claudio, Genaro de Carvalho, Roberto Burle Marx, Claudio Tozzi, Hécules Barsotti, Antonio Henrique Amaral, Kennedy Bahia e Carybé.

A exposição não segue um ordem cronológica, mas o apreciador se defronta no 22º andar com a produção contemporânea do século XX até os dias atuais é o foco principal. A ala chamada um Passeio na Avenida Paulista destaca obras da coleção Santander. Um trajeto que simula a avenida mais marcante de São Paulo, proporcionando aos visitantes admirar esculturas, fotografias, telas e esculturas de artistas como José Roberto Aguilar com a Noite da Antropofagia (1995);  Série de Paisagens Construídas (2011), de Laura Gorski; Cena (2009), de Tucas Reines; Lackkabinett (2010), de Flávia Metzler; Parque de Diversões (1969) de Agostinho Batista de Freitas; Circo  (2008) de Luiz Braga; Sambistas (2000) de Claudia Jaguaribe; Howling for you (2012) de Renata de Bonis.

Neste ambiente foram acrescentadas obras de Èlle de Bernardini; Walter Firmo; Ranchinho; Mário Gruber, Emanoel Araújo, Vânia Toledo, Agenor, Siron Franco, Manezinho Araújo, Fernanda Rappa, Araquém Alcântara, Valdevino Alves Conceição, Cristiano Mascaro, e Valdir Cruz.

Uma panorâmica bem diversificada da arte brasileira baseada no acervo dos palácios do governo e na coleção do Santander, uma mostra bem oportuna para a avaliação da cultura nacional.

Deve ser lembrado inclusive que em 1922 foi realizada a Exposição Internacional do Centenário da Independência no Rio de Janeiro, que se estendeu de setembro de 1922 a julho de 1923, a maior já realizada no país, ocupando o centro da cidade com pavilhões nacionais e de 13 países, tendo sido visitado por mais de 3 milhões de pessoas. Foram construídos diversos pavilhões e somente quatro foram preservados, o Pavilhão da França foi doado à Academia Brasileira de Letras, o Pavilhão das Grandes Industrias construído sobre o antigo Arsenal de Guerra e que se tornou o Museu Histórico Nacional, o Pavilhão do Distrito Federal se transformou no atual Museu da Imagem e do Som e o Pavilhão dos Estados que virou sede do Ministério da Agricultura, mas infelizmente foi demolido na década de 70.


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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