Feiras

Um lado da Art Basel Miami que talvez você não conheça


O que é a Art Basel?

A Art Basel é uma feira de arte privada, gerenciada e realizada anualmente em Basel (Suíça); Miami Beach (Estados Unidos) e Hong Kong (China), vendendo as obras de artistas consagrados e emergentes

A feira em Miami concentra-se na arte moderna e contemporânea, cerca de 268 das principais galerias e museus de arte dos Estados Unidos e do mundo se reúnem para mostrar o que eles têm nessas categorias artísticas.

Desde o lançamento, ela se tornou a principal feira de arte da América do Norte, contendo obras incríveis, filmes, vídeos, esculturas, desenhos, fotografia, arte digital e instalações de mais de 4.000 artistas.


Como a feira começou?

No início da feira em 2002, os principais patrocinadores da Art Basel eram os empreendedores imobiliários que lançavam torres idênticas de condomínios de aço e vidro em South Beach.

O jogo do condomínio, naquela época, era semelhante ao jogo de arte: compre agora, por um milhão de dólares que amanhã você terá um belo lucro.

Art Basel Miami 2019

A melhor maneira de vender um condomínio em Miami Beach é vender para um grupo de pessoas que estão cercadas de sol, sexo e areia e que, ao mesmo tempo, são acostumadas com preços altos.

O setor imobiliário de Miami também se parece muito com fine art em um outro aspecto importante: atrai uma multidão internacional de pessoas que não necessariamente gostam de ter seus ativos rastreados e tributados por seus governos domésticos.

Você não ouve muito o termo “lavagem de dinheiro” dentro de uma feira de arte.


As famosas festas em torno da Art Basel

Desde o lançamento da feira, os finais de semana durante a Art Basel vira uma grande atração para Miami, com festas, feiras paralelas e grandes eventos sendo realizados em conjunto com o show.

Emily Ratajkowski, Steve Shaw, Jeffrey Deitch, Pia Lindstrom, Shany Ellenberg.
Foto por: David Crotty/Patrick McMullan

O que pode se notar nas festas é que por mais que o foco central do evento seja sobre arte, todos estão lá para fazer parte de uma grande orgia” de excessos luxuosos, onde o que está em jogo é a moeda social e ninguém finge o contrário.

“Galerias de todo o mundo pagam dezenas ou até centenas de milhares de dólares pelo privilégio de poder ocupar alguns metros quadrados de espaço”
Rita Ora e Adriana Lima na festa da Art Basel Miami de 2017

A mecânica da feira de arte

A feira em si é muito lucrativa: galerias de todo o mundo pagam dezenas ou até centenas de milhares de dólares pelo privilégio de poder ocupar alguns metros quadrados de espaço de exposição e vender suas mercadorias a um multidão de colecionadores de arte ultra-ricos, todos bombados e preparados para comprar antes que outro compre primeiro uma peça em questão.

A tempestade “Art Basel” ocorre em toda Miami, principalmente onde quer que haja somas excessivas de dinheiro. Para entender o que a impulsiona, é importante entender que a arte em si é somente uma desculpa.

Galeria Bergamin & Gomide

Algumas galerias, quando vêm a Miami para a Art Basel, jogam com estratégias que para alguns podem ser confusas, às vezes, elas simplesmente fazem uma instalação em seu espaço de arte e declaram que “nada está à venda”.

Fazer esse tipo de ação choca e atrai colecionadores e bilionários criando uma conexão lucrativa para o futuro, ao contrário das outras galerias que expõe obras por milhares ou milhões que podem ser consideradas sem graça.

O importante é entender que os eruditos do mundo da arte terminam cometendo um erro de categoria. Eles acham que Art Basel é sobre arte, quando na verdade é sobre dinheiro e, ainda mais, sobre as pessoas que têm muito e estão atrás de influência.

Art Basel Miami

Em uma feira de arte, pinturas e esculturas estão em um dos piores ambientes possíveis para se apreciar a arte, elas se transformam em objetos de valor e em jogo de poder.

De alguma forma a feira cria uma espécie de tensão vista em um leilão, com a diferença de que não se trata de quem dá um lance, mas quem vai arrematar a peça primeiro. Esta sensação de perda, de saber que alguém pode arrematar uma obra antes termina ofuscando a visão dos compradores.

O nome do jogo aqui é o de reconhecimento e especulação, a empolgação de ver os artistas se valorizarem.

Quando um Anish Kapoor se parece exatamente com todos os outros Anish Kapoors que você viu em vários shows de arte nos últimos anos, e quando você sabe qual foi o preço pedido por ele anteriormente é o momento em que você pode se sentir arrependido, ou feliz, por ter comprado (ou não) a obra no passado.

Aqui podemos começar a entender o que torna uma feira de arte tão emocionante para as classes abastadas.

Anish Kapoor | Lisson Gallery, 10th Avenue, New York.
Courtesy Lisson Gallery.

É por isso que uma feira de arte é o ambiente perfeito para se ter no centro da tempestade. É uma abundância sem fim de dinheiro, um lugar onde objetos sem valor intrínseco são vendidos por milhões de dólares.

Não existe cenário melhor para isto do que Miami Beach, uma cidade com diversos iates espalhados em cada canal e onde milionários de todo o mundo tem suas mansões. A cidade é um micro-cosmo da sociedade, com as áreas dominadas pelos oligarcas russos e milionários latinos.


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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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