Para esta instalação fotográfica, Andujar dá sequência a seu trabalho ao lado do povo Yanomami e apresenta quatro imagens resultantes de uma espécie de refotografia em que a artista vem se dedicando há pelo menos duas décadas. “Originalmente, a foto matriz que gerou essa série de quatro imagens foi feita em meados de 1974 a 1976, e é a foto de uma índia chamada ‘Paxo+m+k+’ (leia-se Paxoimiki) que fotografei nas primeiras idas às terras Yanomami, enquanto os indígenas tinham pouco contato com o povo branco”, relata Andujar. Os nomes dados pelos Yanomami são sempre relacionados a uma característica da pessoa, neste caso, “paxo+m+k+” refere-se a uma pessoa que anda em cima de galhos, como um macaco coatá (paxo em yanomami), ou seja, uma pessoa bem equilibrada.
As fotos dessa época, todas reveladas e ampliadas em preto e branco, fazem parte de um acervo imenso da artista que, desde 1988, tem trabalhado a refotografia em cores dessas cópias em P&B de forma analógica. “Trago da minha memória o verde da vegetação e o azul do céu, elementos idílicos da Amazônia, que neste trabalho conferem cores às imagens e representam a virtude do índio em ainda defender a preservação do meio ambiente e sua luta para mantê-lo sadio e sem interferências, desde o garimpo ilegal até a invasão de áreas já demarcadas para o território Yanomami”, explica a artista.
Para Eduardo Brandão, curador da exposição, além de todo o aspecto político que as obras de Claudia carregam, a refotografia e reposicionamento dessas fotos originais elevam as fotos a um patamar pós-moderno dentro da fotografia. “O fato de a artista utilizar seu próprio acervo criado há décadas para, atualmente, investir em técnicas que recontextualizam essas imagens, incluindo Claudia no cânone Pós-Moderno, pois reaquecem, além dos seus ideais em defesa dos índios, suas novas questões e necessidades artísticas”, defende Eduardo.
As técnicas utilizadas pela artista são diversas, mas especificamente para essa série, ela parte das cópias ampliadas em preto e branco e dirige luz quente ou fria, além de usar filme infravermelho durante a noite, em experimentações feitas na sua própria casa. “Para quem começou seu trabalho há mais de 50 anos, isso mostra como a Claudia é uma artista que vive a modernidade e a pós-modernidade em seu trabalho e tem apetite criativo até hoje. São exemplos vivos de como ela responde a questões atuais da fotografia”, explica o curador.
No mezanino do Prédio Histórico dos Correios, as obras estarão expostas em grande formato nas quatro paredes que compõem o ambiente. “A estrutura do prédio forma um tipo de gradeado nas paredes, lembrando as técnicas de enquadramento que os fotógrafos utilizam para fazer suas imagens”, explica Eduardo. Na instalação a disposição das imagens se apropriará desse gradeado e, cada quadrado, de 5x5m, irá conter um pedaço da fotografia. Juntos, formam duas imagens de 375m² e mais duas de 225m², somando 1200m² ao todo no ambiente interno do edifício.
Na empena do edifício vizinho ao Prédio Histórico dos Correios, que tem vista para o Vale do Anhangabaú, estará outra imagem exclusiva de Claudia Andujar. A proposta de expor uma fotografia com 270m² para a cidade dialogando com a instalação interna, fortalece uma das principais propostas do projeto Cidade Galeria. “Acreditamos no papel transformador da arte, com o Cidade Galeria estamos propondo a ressignificação da relação do cidadão com a cidade através de intervenções artísticas no espaço público”, explica Luciana Farias, da Brazimage.
Claudia Andujar
Naturalizada brasileira, de origem húngara, Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931. Após a segunda guerra mundial, emigrou para New York, onde iniciou seu contato com a pintura e a fotografia. Em 1955, mudou-se para o Brasil. Atuou como repórter fotográfica de 1962 à 1971. Durante a década de 70 desenvolveu ainda, juntamente com George Love, o Workshop de Fotografia no Museu de Arte de São Paulo, trabalho que acabou por influenciar dezenas de fotógrafos em atividade nestas duas últimas décadas. Através de Darcy Ribeiro, estabeleceu seu primeiro contato com populações indígenas, em 1958. Em 1971, ainda como fotojornalista, realiza os primeiros registros sobre os índios Yanomami, que passam a ter importância vital em seu trabalho. No fim do mesmo ano, ela abandona o fotojornalismo e se lança numa carreira de pesquisa autônoma de fotografia de três décadas. Em 1978 abraça a luta em defesa da vida, cultura e terra Yanomami.
Possui trabalhos em diversas Coleções nacionais (MAM-SP, Coleção Pirelli/ MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo) e internacionais (MoMa – Nova York, Amsterdam Art Museum e Fundação Cartier pour l’Art Contemporain, Paris). Além de exposições realizadas pela artista, como nas 24ª e 27ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal, respectivamente de 1998 e 2006; “Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/ USP: 1920-1970”, no MAC/USP, em 1996; “Genocídio Yanomami, Morte do Brasil”, no MASP, em 1989 e “A vulnerabilidade do ser”, de 2005, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, a leitura mais completa já realizada sobre sua obra. Além disso, importantes publicações, como “The Amazon”, lançado pela Time-Life International, em 1973; “Yanomami: frente ao eterno”, lançado pela Praxis, em 1978; “Amazônia”, em co-autoria com George Love, lançado pela Praxis, em 1978; “A vulnerabilidade do ser”, de 2005, “Yanomami, la danse des images” Editora Marval, de 2007 e “Marcados”, de 2009, lançados pela Cosac Naify.
Cidade Galeria
É uma iniciativa da Brazimage e consiste numa plataforma composta por várias ações multimídia que tem como propósito levar a arte para fora dos museus e galerias. A ideia é que o projeto democratize o acesso à arte colocando em pauta a apropriação do espaço público, pois traz novos significados para a relação do cidadão com a cidade, além de facilitar o acesso a cultura através de manifestações gratuitas em parques, prédios históricos, e espaços emblemáticos da cidade.
O projeto surgiu também da intenção de se trazer para o Brasil um pouco do que já acontece na cena de artes visuais em várias capitais do mundo, como Berlim, Nova York e Paris.
O Cidade Galeria foi lançado em outubro de 2010 em um evento no Edifício Martinelli e seguido da abertura da exposição “Noturnos”, do fotógrafo Cássio Vasconcellos, no Prédio Histórico dos Correios, no Vale do Anhangabaú. Agora em 2012, com o patrocínio dos Correios, a instalação de Claudia Andujar celebra a apropriação temporária de mais um espaço para a arte no centro de São Paulo.
Prédio Histórico dos Correios
O prédio histórico dos Correios é um projeto do Escritório Ramos de Azevedo concluído em 1922. O referido edifício desempenhou um papel estruturante da paisagem urbana, dentro do processo de transformações que o Vale do Anhangabaú sofreu ao longo do século. O prédio integra um significativo conjunto arquitetônico composto pelo Teatro Municipal, Edifício da Light, Edifício Martinelli, viadutos do Chá, Santa Ifigênia e Praça Ramos de Azevedo.
“Sonho Verde Azulado” por Claudia Andujar @ Prédio Histórico dos Correios Abertura para convidados: 03 de novembro às 18h
Abertura ao público: 04 de novembro às 10h
Período expositivo: 04 de novembro 2012 a 01 novembro 2013
Funcionamento: 04 de novembro a 27 de janeiro: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, sábados, das 9h às 18h, e domingos, das 10h às 18h
A partir de 28 de janeiro: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h e aos sábados, das 9h às 13h
Endereço: Av. São João, s/n. Telefone: (11) 3227-9461
Grátis/ Livre