É incrível como algumas imagens podem nos levar a outras dimensões e nos fazer viajar em outros mundos. Hoje eu conversei com o fotógrafo brasileiro João Lavalle, 20 anos, que mora em Carapicuíba SP, sobre sua mais recente criação, o Projeto Animalle.
“O projeto Animalle, é hoje para mim como artista, o interior, é sentimento. É nosso mais profundo instinto selvagem como seres sociais, que dependemos uns dos outros. Ainda tem sido um caminho difícil redefinir qual o sentido do projeto, mas foi com depoimentos de pessoas que admiram minha fotografia como arte (e não como produto) que cheguei a essa conclusão. Animalle não é apenas o animal, é o ser humano, é transferir. “
Você recebe bem as opiniões sinceras e está procurando escutar maneiras de como melhorar, já recebeu alguma crítica negativa? Como reagiria se recebesse alguma?
Sim, hoje sim e muito. No começo da minha “carreira” como fotógrafo, com 16 para 17 anos, eu ainda era relutante, tinha muito pé no chão com algumas opiniões, costumava pensar que só pessoas da área “podiam” opinar tecnicamente sobre meus trabalhos etc. Mas ao longo desses anos, eu aprendi muita coisa, não só em relação a isso, mas pessoalmente. Amadurecer talvez seja a melhor definição, ainda mais porque quando eu comecei, fotografia era algo muito mais profissional, e hoje é uma febre total. Mas enfim, hoje eu busco sempre dar atenção para qualquer comentário sobre meus trabalhos, e de qualquer pessoa, depois que abri literalmente meu coração para a arte e deixei a fotografia comercial/técnica em segundo plano, eu me tornei alguém muito mais sensível e comecei aproveitar dessas críticas, tantos negativas (que foram muitas) quanto positivas, para enriquecer meu olhar e meu sentimento sobre minhas fotos. E sem dúvidas, eu não sei ainda o que é ser o melhor, pra mim hoje em dia é tudo muito pessoal: eu, minha câmera e os modelos que convido. Portanto sempre busco melhorar, não mais tecnicamente, mas de uma forma que toque as pessoas de alguma forma.
Uma série para te deixar com medo do futuro
Está decidido a se dedicar além dos seus limites, mesmo quando é difícil e desconfortável? Qual foi sua maior dificuldade até agora?
Sem dúvidas, eu como ariano nato, amo desafios, e isso tem sido minha maior motivação e maior inimigo. Limite é algo que nunca respeitei, e isso tem sido algo tão bom, quanto ruim minha vida toda. Eu acredito que a criatividade não tem limite, então busco muito inspirações em diversos fotógrafos, e elementos da natureza. O projeto Animalle no início era algo relacionado a pessoas e a conexão com os animais, mas devido às muitas leis brasileiras, é muito difícil conseguir alguns animais diferentes para as fotos, e as parceiras que consegui no início, logo me deixaram na mão, e esse foi o motivo pelo qual eu paralisei o projeto. Mas era/é um sonho, então eu esperei quase um ano pra voltar a organizar tudo, e nesse tempo muitas outras referências surgiram, e os animais então pra mim não eram mais o foco, e sim o sentimento humano. Hoje, minha maior dificuldade são as parcerias com criadores de animais exóticos e silvestres, que tem sido bem sólidas até, mas por ser tudo voluntário, e envolver muitas pessoas e autorizações (modelos, produção, animais, adestradores e locações etc) acaba tendo muitos desencontros, e infelizmente não posso esperar. Então, tenho dado andamento mesmo sem os animais, e assim que forem surgindo as oportunidades vou encaixando as modelos (amadoras), que inclusive já tenho todas convidadas desde 2015, e sempre tentando seguir uma linha que represente todas as etnias. Então, se eu for contar tudo que foi difícil e desconfortável, eu faria um livrinho, foram muitas coisas, desde coisas técnicas, como tempestades no meio da sessão, animais assustados, lugares de difíceis acesso, até situações chatas como problemas em locações, de chegar no local com toda produção e não poder fazer as fotos por burocracias desnecessárias. A minha felicidade no fim, é que sempre pelo menos as modelos gostam do resultado, mesmo que pra mim tenha ficado bem longe do que eu havia planejado, fico muito grato em ver a felicidade delas
Quais seus projetos futuros e ambições? Quando decidiu trabalhar com fotografia e porquê?
Eu estudo biologia, até meus 19 anos eu tinha tudo planejado, mas logo descobri que a vida real acontece sem planos. Pretendo me formar como biólogo, e me especializar em zoologia, sou fissurado por animais e vida selvagem desde que tenho lembranças na minha cabeça. Também quero muito salvar o mundo, ou ajudar pra isso, e principalmente mudar a relação de respeito das pessoas para com os animais, e tentar proteger as grandes florestas brasileiras, ainda não sei como vou fazer tudo isso, mas são sonhos, e acredito neles. Eu comecei a me encantar com fotografia com meus 14 anos, com uma câmera daquelas compactas bem simples, e passava o dia fotografando as coisas, plantinhas, insetos, meus animais, pessoas sorrindo, eu sempre fui encantado pelas fotos espontâneas. A partir dai comecei a estudar muito pela internet, youtube, blogs etc; Depois o desafio foi convencer meu pai a me dar uma câmera, demorou uns 3 anos, ai em abril de 2013 ele conseguiu me dar, foi a melhor coisa do mundo. Eu peguei um dinheiro que havia juntado do meu primeiro emprego, e comprei minha primeira lente fora a do Kit que vinha com a câmera, e comecei a convidar amigas e fotografar “editoriais”, que também é algo que amo profundamente, que ainda quero ter a oportunidade de trabalhar mais, que é a fotografia de moda. Então começaram a surgir todos os tipos de trabalhos que envolviam fotos, casamentos, aniversários, trabalhei em alguns estúdios (lugar que sempre senti minha criatividade enjaulada) e ensaios etc, fiz muita coisa, me sustentei com esses trabalhos por um tempo, até começar a faculdade e dar uma pausa. Nessa fase também passei por um período de “depressão criativa” que teve 1 milhão de influências, o mercado fotográfico é cruel e muito competitivo, de repente todo mundo era fotógrafo, compravam uma câmera e já estavam por ai fotografando vários trabalhos, desvalorizando muito a arte que envolve esse emprego. Me ver em meio aquilo fez eu sentir como se tudo que eu tivesse estudado, tudo que eu tivesse me cobrado para não errar e fazer um bom trabalho para meus clientes, tivesse sido perda de tempo. Resumindo, quando iniciei o projeto e houve uma grande repercussão, aquilo me animou muito e minha flor da criatividade queimava dentro de mim de novo. Só pretendo terminar o projeto da forma que idealizei em 2015, e ser reconhecido por tocar as pessoas, porque se não, pra mim vai ser só mais algumas fotos que eu poderia ter feito no meu quintal.
Sou eternamente grato de coração por cada pessoa que me ajudou nesses ensaios, cada modelo, cada amigo que me ajudou na produção, cada um que esta envolvido!
Gostou? conheça mais sobre o trabalho de João Lavalle:
Veja também:
https://arteref.com/fotografia/vincentbourilhon/
Alfredo Volpi nasceu em Lucca na Itália 1896. Ele se mudou com os pais para…
Anita Malfatti nasceu filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth "Betty" Krug, Anita…
Rosana Paulino apresenta um trabalho centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero,…
Na arte, o belo é um saber inventado pelo artista para se defrontar com o…
SPPARIS, grife de moda coletiva fundada pelo artista Nobru CZ e pela terapeuta ocupacional Dani…
A galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea - que completa 15 anos - apresentará, entre os…