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Ilê Aiyê em Ocupações no Itaú Cultural

Por Paulo Varella - outubro 1, 2018
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Ilê Aiyê mostra a sua raça na nova Ocupação do Itaú Cultural

Primeiro bloco afro do Brasil leva à 42ª exposição da série de ocupações, promovida
pelo instituto, a sua força, cores, música e história, que ultrapassam o Carnaval
e o transcendem no cotidiano como um grito de resistência, luta e afeto.

Ecoando o grito de resistência do povo negro e exaltando sua cultura, inteligência e beleza, a Ocupação Ilê Aiyê chega ao Itaú Cultural no dia 3 de outubro (quarta-feira) e segue até 6 de janeiro de 2019. Primeiro bloco afro do Brasil e atração consagrada do Carnaval de Salvador, a agremiação nasceu para combater o racismo e o silenciamento dos negros que eram recusados no circuito oficial do Carnaval baiano. Foi classificado de racista por não aceitar brancos. Passados 44 anos, eles mantêm o preceito de desfilar apenas com negros e continuam questionando o racismo e o emudecimento dos negros na sociedade brasileira.

Quatro cores definem cada um dos eixos principais da Ocupação Ilê Aiyê. Primeiro, a cor preta, da pele e da história dos homenageados. Em seguida, a vermelha representando o sangue derramado na luta pela libertação. Depois, vem a amarela, símbolo da riqueza cultural e da beleza negra. Encerra com a cor branca, da paz e da cura. Todas elas estão representadas na sua identidade visual, desenhada pelo artista Jota Cunha: uma máscara africana com quatro búzios abertos formando uma cruz na testa. O autor a chamou de perfil azeviche.

Está é 42ª exposição da série Ocupação realizada pelo Itaú Cultural para reavivar trajetórias artísticas e culturais fundamentais à percepção do Brasil e referenciais para as mais novas gerações de artistas. Ela tem curadoria dos Núcleos de Comunicação e de Música, do instituto, em parceria com o Ilê Aiyê e apresenta muito mais do que se vê uma vez por ano, durante o Carnaval, nas telas da TV ou nas ruas de Salvador.

Além da mostra, a Ocupação Ilê Aiyê é composta de site, publicação impressa e programação em sinergia com o tema. Ferramentas de acessibilidade permeiam o espaço expositivo. Durante toda a exposição, no instituto haverá oficinas e outras atividades.

Nos dias 5 e 6 (sexta-feira e sábado), 17 componentes do Ilê Aiyê, entre percussionistas, dançarinas, vocalistas e a Deusa do Ébano deste ano, Jéssica Nascimento, recebem convidados no Auditório Ibirapuera. No primeiro dia, se apresentam com eles os grupos de São Paulo Ilú Obá De Min, formado por mulheres, e Ilú Inã, apadrinhado do Ilê. No segundo, as convidadas são as baianas Xênia França e Luedji Luna. Os shows, tem duração de 90 minutos, classificação indicativa livre e interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A Ocupação

Na entrada da mostra no Itaú Cultural, a voz de Luedji envolve o visitante com a música Ilê de Luz cantada a cappella. O espaço é estreito e ocupado por telas que reproduzem rostos silenciosos de moradores do Curuzu, onde nasceu e vive o Ilê Aiyê.  Eles estão em três projeções e uma quarta exibe tradução em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. É o primeiro eixo e o que conta o início de tudo. Nele, também se ouve em paisagem sonora, o barulho do mar e nomes de referência de personalidades e pessoas que lutaram e lutam pelo fim do racismo.

Fotos em tecido apresentam detalhes do terreiro Ilê Axé Jitolu e de Hilda Dias dos Santos (Salvador, 1923-2009), a Mãe Hilda Jitolu, ialorixá (sacerdotisa líder em iorubá). Ela fundou o bloco ao lado do filho Antonio Carlos dos Santos Vovô. Nascido em 1952, igualmente na capital baiana, hoje ele é presidente do Ilê Aiyê, uma lenda do Carnaval da Bahia e importante personalidade do movimento negro brasileiro.

Depois dessa passagem se acessa o segundo eixo da mostra – o vermelho. Chama-se O Mais Belo dos Belos e invoca a luminosidade do terreiro de Candomblé, da religião e da cultura negra. O visitante conhece o início dessa história e também a rua do Curuzu, berço do bloco e hoje um bairro de Salvador.

Este núcleo traz a alegria do Carnaval e de todas as crenças dos membros do Ilê. Uma tela apresenta depoimentos de integrantes do próprio bloco – Vovô e sua irmã Hildelice dos Santos – e das cantoras Daniela Mercury e Margareth Menezes, entre outros. Outra projeção, maior, mostra o bloco no Carnaval de 2018. Os audiovisuais são projetados em tambores que parecem emergir da parede.

Neste eixo, encontram-se documentos originais, os primeiros tecidos desenhados para as fantasias e algumas delas vestidas em manequins criados a partir da referência das Abayomis – bonecas negras feitas de tecidos e arrematadas com nós – em tamanho natural. São três: uma de Deusa eleita, outra de dançarina de bloco e mais uma masculina. Também apresenta croquis de carros alegóricos, troféus, fotos antigas e recortes de jornais por meio dos quais se conhece o início da história desse bloco e como ele foi recebido.

Do vermelho se passa para o amarelo, ouro, coração da exposição e eixo da beleza. Apresenta o concurso da Noite da Beleza Negra, que todos os anos elege a mulher mais carismática da comunidade, a qual assumirá o desfile de Carnaval como rainha, a Deusa do Ébano. O espaço traz referências futuristas, para mostrar a padronagem dos tecidos idealizados  em cada um dos 44 carnavais da história do Ilê Aiyê, compondo uma linha do tempo.  Uma vitrine mostra adereços originais de cabeça, pescoço e braço das mulheres do Ilê e do Curuzu.

Neste eixo, são apresentadas mais projeções, como uma em que dançam juntas Mirinha Cruz, a primeira rainha, eleita em 1976, e Jéssica Nascimento, rainha de 2018 já com o título de Deusa do Ébano. Tem também a exibição de uma entrevista de Mãe Hilda dada à TVE, baiana, nos anos 70. Ainda neste núcleo, uma mesa interativa mostra uma linha do tempo com a história do bloco.

Por fim, a Ocupação Ilê Aiyê é encerrada pelo eixo branco, o da cura, da paz e da música Negrume da Noite. É o núcleo que apresenta o bloco além do carnaval com ações e projetos afirmativos, como a Band’Erê, formada por alunos jovens que depois sobem para o bloco; a Escola da Mãe Hilda e os Cadernos de Educação, que vêm sendo produzidos por eles, desde 1995, no Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê, e utilizados também na rede escolar pública fora da comunidade.

Neste núcleo, tem a sala dos tambores interativa com o público. Nela, uma projeção de Mestre Kehindê Boa Morte explica a sonoridade de cada instrumento da Band’Aiyê (do Ilê Aiyê), as diferenças entre o tambor Caixa, Repinique, Surdo, Martelo e ensina a tocá-los em instrumentos físicos à disposição do público. Este espaço apresenta, também, os dois únicos discos LPs e dois CDs lançados pelo bloco – disponíveis digitalmente para serem ouvidos. Em outras telas, aparecem mais depoimentos de integrantes do Ilê, como Arany Santana e Maria de Lourdes Siqueira, Vivaldo e Val Benvindo. A mostra encerra com a fala de Tia Luiza. Ela tem 103 anos e é a moradora mais antiga do Curuzu.

Abre no dia 3 de outubro (quarta-feira), às 20h

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Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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