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Conto – Old Fish

Era um aquário pequeno. Não devia ter mais do que um metro na horizotal e meio metro na vetical, mas mesmo asim abrigava uma dezena de peixes. Era decorado com flores, pedras e pequenos castelos cinzentos aos pedaços. Uma minúsucla atlântida.

E ali, como o senhor daquele local, Azulino reinava. Azulino era o peixe mais velho de lá. Estava desde que comprei o aquário, pois todos os primeiros peixes que coloquei nele morreram. Algo relacionado ao PH da água, mas nunca entendi. O importante é que meu pai havia arrumado isso e agora Azulino nadava de um lado para o outro.

Azulino vinha do fato dele ser azul. Nada demais. Se te disserem que crianças são super criativas, não leve muito a sério.
– O que será que os peixes pensam? Eu me perguntava sempre. Havia lido em algum lugar que eles teriam apenas três segundos de memória, mas isso sempre me soou estranho, talvez até inconcebível. Estaria a memória diretamente ligada ao raciocínio? Sempre li uma teoria diferente da outra na internet, então nunca tive uma conclusão real sobre esse fato. Mas naquela noite eu descobri algo sobre isso. O aquário estava estranho. Não o aquário em si, mas os peixes dentro dele. A pequena enguia Nessie estava deitada sobre as pedrinhas cristalinas e não se movia por nada nesse mundo. Azulino estava encostado no topo da torre de seu pequeno castelinho, enquanto suas guelras moviam-se preguiçosamente lentas. Os outros peixes nadavam de forma vagarosa, como se estivessem exaustos. Fiquei preocupado e fui checar. A bomba que mantinha a água do aquário com oxigênio estava parada, talvez quebrada, e os peixes estavam morrendo. Fiquei desesperado.

Meu pai e eu começamos rapidamente a preparar um local para colocar os peixes enquanto trocávamos a bomba. Peguei uma pequena rede e rapidamente comecei a tentar pegar Azulino. Ele, por sua vez, parecia ter despertado de um transe, pois de uma hora para a outra, começou a nadar velozmente pelo aquário, fugindo da rede como o diabo fugiria da cruz. Eu precisava pega-lo. Era o meu peixe preferido. Era o rei. Após muitas tentativas frustradas, resolvi que seria melhor pegar os outros peixes por enquanto. Os outros não fugiram da pequena rede e foram apanhados com facilidade. Logo estavam no pequeno vidro com água que papai havia preparado. Tentei pegar novamente Azulino, mas ele era veloz, apesar do tamanho e da falta de oxigênio. Enquanto e tentava coloca-lo para dentro da rede, vi Nessie ainda no aquário. Havia esquecido dela. Foi fácil apanha-la. Ela parecia morta quando a peguei, mas quando foi colocada no novo recipiente, nadou alegremente.

Porém, quando voltei meus olhos para o aquário, vi Azulino. Ele estava parado sobre seu pequeno castelo de pedras. Suas guelras quase não se mexiam, suas nadadeiras estavam praticamente paradas, mas ainda assim ele parecia manter sua pose de majestade. Desta vez ele não lutou para entrar na rede. Quando retirei-o da água para colocar no outro potinho junto de Nessie e dos outros, ele já estava morto. Ainda com esperanças, coloquei-o no recipiente, mas ele nunca mais se mexeu. Papai não disse nada sobre o ocorrido, mas eu sei a verdade. Sei que Azulino, como o rei orgulhoso que era, não deixou ser salvo até que todos seus súditos estivessem seguros. Ele sempre foi um peixe estranho e eu sempre fui uma criança cheia de fantasias, mas algo me dizia que algo mágico havia ocorrido naquela noite. Algo me dizia que Azulino podia não pensar muito ou ter uma ótima memória, mas ele sentia. Sentia mais do que muita gente.

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Rafael Poffo

Estudou desenvolvimento de jogos e design gráfico focado em 3d e animação. Atualmente preso nas aulas de marketing, é um amante de livros de horror, ficção e história, assim como adorador apaixonado de toda a sorte de animações. Maníaco por ideais hiperrealísticos de cybercultura, ramificações do expressionismo alternativo pós-moderon e (quase) pai de um cachorro.

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