Nesta matéria investigamos os truques de marketing no mundo das artes. Por que ainda caímos nas narrativas criadas pelos artistas, galeristas e leiloeiros? Por que a grande mídia divulga estas notícias?
Se você tem pouco tempo para ler esta matéria, a resposta a estas perguntas é: caímos nesses truques de marketing porque queremos, e gostamos de sermos iludidos. Faz parte da nossa natureza. De horóscopo a homeopatia, a nossa sociedade tem prazer em criar narrativas que expliquem o inexplicável. Por que isto não funcionaria no universo da arte?
Vamos estudar um caso específico que explica como estes truques de marketing rendem muito mais do que custam (muitas vezes nem sequer custam algo).
Exposta na feira Miami Basel 2019 a “obra” consistia numa banana presa na parede por uma fita adesiva. Foram, supostamente, vendidas 3 destas obras (As bananas eram múltiplos, claro, porque não?!) por valores entre US$ 120.000 e US$ 150.000.
O galerista francês Emmanuel Perrotin, divulgou à mídia que a obra fora vendida para um colecionador também francês em uma feira americana. Isto, no mínimo deveria causar alguma suspeita na veracidade da notícia.
Mas quem queria checar os fatos?! A notícia era plausível o suficiente para se tornar viral, e foi exatamente isto o que aconteceu.
A comoção por trás da notícia da banana foi tão acima do esperado que a galeria anunciou no último dia da feira, que a “obra” havia sido removida do “stand” por causa da atenção exagerada que estava recebendo.
A instalação causou vários movimentos incontroláveis da multidão e o trabalho comprometeu a segurança das obras de arte que estavam ao redor, incluindo a dos stands vizinhos.
Muita gente ganhou.
Pouca gente perdeu.
Talvez a maioria dos artistas do mundo tenha ficado um pouco deprimido, pois, mal conseguem pagar as suas contas e ao verem grandes quantidades de dinheiro serem gastas por tão pouco… gera uma sensação de frustração.
Para estes, eu digo que o mercado de arte nem sempre está atrás de talentos e que boa parte deste movimento é somente uma representação clara de um show de vaidades.
Ser artista também é saber trabalhar no seu marketing pessoal. Os que fizeram isso foram lembrados ao longo da história ( i.e: Picasso, Warhol, Rembrandt, e outros).
O Conceito da banana não é novo. Maurízio Catellan já vinha desenvolvendo esta ideia há algum tempo.
Abaixo você poderá ver a primeira ideia da obra, que por conta do peso do galerista, precisou de mais do que uma única fita adesiva.
Um vaso sanitário possui uma grande carga simbólica.
Quando se usa um objeto como um vaso sanitário para fazer uma crítica social a um país (i.e. América), a utilização de uma banana é o próximo passo.
Como se já não fosse o suficiente, a notícia sobre a obra tomou outro impulso quando o artista performático de Nova York David Datuna comeu-a, dizendo que estava com fome.
David Datuna irritou seriamente a equipe da galeria de arte e talvez tenha que responder por isso mais tarde.
O artista contou que, depois de comer a banana, ele foi escoltado pela segurança para uma sala privada onde foi recebido por policiais, que pegaram todas as suas informações. Ele não foi preso ou indiciado por nada.
No entanto, ele admite que pode acabar enfrentando acusações posteriormente. Ele disse que a equipe e a segurança da galeria ficaram confusos porque nunca haviam lidado com uma situação como essa.
Datuna diz que tem profundo respeito por Maurizio Cattelan, e que isso foi simplesmente para ser um ato de lisonja.
O truque do penúltimo dia da feira ganhou um significado totalmente novo aos comentários do galerista, Emmanuel Perrotin, quando ele disse: “O trabalho de Maurizio não é apenas sobre objetos, mas sobre como os objetos se movem pelo mundo”.
Deixando a narrativa do besteirol à parte, David Datuna conseguiu também colocar o seu nome no mapa das artes mundial através do seu ato.
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